CAPÍTULO I

8 1 2
                                    

-- Não vale olhar! - minha mãe tampava meus olhos para não olhar o presente que ela me daria.

-- Não olharei! - prometo.

Senti ela retirando suas mãos em cima dos meus olhos.

- 1...2...3!

---

-- GABRIEL!

Abri meus olhos, espantado. Era a Mariana, ela estava pálida.

-- Mariana? O quê aconteceu? - pergunto me ajustando em minha cama.

-- Gabriel, eu estou preocupada. Você já não está bem...-

- Mariana, não se preocupe comigo. - interrompo - Você precisa viver sua vida.

Ela saiu do quarto, parecia estar triste. Todos nessa casa estão tristes, todos estão tristes...

Mamãe morreu faz três meses, e nós não sabemos o rumo que iremos tomar.

Estava chovendo, frio. As gotas de água escorriam pelo vidro da janela de meu quarto, pareciam que elas estavam correndo desesperadamente.

Não podia sair da minha cama, eu estava com alguns pontos e tomando soro. Eu estava doente,  eu estava morrendo.

Dentro do quarto ventava um pouco, seria pela corrente de ar vindo da fresta debaixo da porta.

Uns anos atrás...

-- Gabriel, como você acha que vai ser morrer? - Anna pergunta.

-- Não sei.

-- Eu acho que deve ser uma dor horrível.

---

É, Anna... eu estou sentindo essa dor de morrer, e ela está piorando.

O quarto estava cinza, nenhuma cor se manifestava. E pensar, que à três meses atrás, isso aqui era mais alegre que um circo.

Minha doença, Oninfasta, ainda desconhecida por todos, estava me corroendo por dentro, literalmente. Ela estava comendo minha carne por dentro, fazendo eu ficar vazio.

Não estava no hospital porque ele estava lotado, todos estavam lotados. Os tempos estão acabando.

-- Eu trouxe isso para você. - Mariana entra no quarto com uma vasilha com sopa.

Ela põe a sopa em minha frente.

-- Mariana, você sabe que eu odeio sopa. - a olho.

-- Nós não temos mais n-nada...

-- ENTÃO NÃO COMEREI ESSA SOPA! - Joguei a sopa longe, fazendo Mariana se encolher.

Ela começou a derramar algumas lágrimas, quieta.

-- N-nós não temos mais nada... sopa é o q-que nos resta... - ela falava soluçando.

Minhas emoções e personalidade estavam mudando. Eu estava me tornando um verdadeiro monstro.

-- Mariana... me desculpe. - ergo minha mão com a esperança de alcançá-la.

Ela se agachou e pegou o prato.

-- Voltarei p-para limpar. - ela ainda falava soluçando.

Ela, finalmente, saiu do quarto.

-- Ele está piorando? - ouço a voz de Mateus, meu irmão.

-- Mateus, não levaremos ele para o hospital. - Mariana fala.

-- Mariana, ele está começando a ficar horrível! Não podemos lidar com ele. A doença o está corroendo.

Ouço um silêncio, só o choro contorcido de Mariana.

-- Não quero levar meu próprio namorado para o hospital! - Mariana finalmente fala, em meio ao seu próprio choro.

Mesmo ela me vendo assim, apodrecendo, a tratando mau, ela ainda quer que eu fique aqui.
Isso me deixa realmente triste, uma pessoa tão jovem quanto ela, com uma preocupação enorme com uma pessoa que a trata mau por causa de uma doença desconhecida.

-- Daremos dois meses a ele. Se ele não melhorar, adeus. - Mateus fala por final.

Meu próprio irmão querendo me internar. Não o culpo, eu faria o mesmo com ele.

{Fim do Capítulo 1}
Então... nosso personagem principal é Gabriel, um garoto que está em seu estado final de vida. Ele já não tem nenhuma esperança de vida, nem seus parentes ou amigos.
Só a pra deixar claro: Oninfasta, essa doença da história não existe, eu a criei.

Misteriet Om En BogOnde histórias criam vida. Descubra agora