Capítulo Único

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©Essa história foi escrita por Kaline Bogard sem fins lucrativos, feito de fã para fãs. Cópia parcial ou total, assim como o uso do enredo, está terminantemente proibido. Plágio é crime.

***

A sensação era como caminhar imerso na água, os movimentos eram lentos, pesados. Mas, ao mesmo tempo, parecia completamente diferente.

Sempre ficava em dúvida se estava acordado ou sonhando.

Estava sonhando.

Um vulto grande e sombrio passou atrás de si. Captou fragmentos da figura pelo canto dos olhos. Um animal. Rápido demais para que conseguisse ver do que se tratava. Lento demais para ser realidade.

Era um sonho.

Ou estava enlouquecendo.

Qualquer uma das opções era assustadora. Perder-se na realidade envolto em alucinações? Esquizofrenia?

Ou ficar preso num sonho que distorcia seus medos e os tornava ainda maiores e mais assustadores de se encarar?

Confuso...

Queria acordar do sonho...

Os sons dos cascos ritmados. Passos que voltavam até ele.

Virou-se. Lento. Comedido. Calculado.

Era o cervo. Aquele animal magnífico, poderoso e viril. Os olhos redondos e vivazes o miravam de volta. Traziam uma mensagem.

Ignorou-o completamente. Havia algo além da criatura. Havia a sombra de um homem. E luz... a luz atrás daquele homem era forte, muito forte. E tornava a sombra ainda mais escura, profunda.

Uma silhueta conhecida, confortadora, destacando-se contra a claridade. Assustadora. O hipnotizava. O chamava.

Estendeu a mão. Queria ir até ela... mas não pôde.

Entre ele e o homem trazido pela luz havia o cervo. Seus medos... suas angústias...

O cervo chorava. Chorava sangue vermelho e brilhante sobre o pêlo tão escuro quanto a noite. Era o sangue de Abigail.

O homem sombra imitou-lhe o gesto e ergueu a mão em sua direção. Arriscou um passo e o cervo agitou-se.

Sabia o que significava. Bem no fundo ele sabia.

Aquilo seria a sua salvação. E também seria a sua perdição...

- - -

– Will...?

A voz soou baixa, mas foi o suficiente para o rapaz despertar. Graham demonstrou toda a confusão que sentia, enquanto mantinha os olhos semi-cerrados em direção a Hannibal Lecter.

– Doutor... – soou incerto.

– Não posso encontrar outra palavra para descrever esse momento, além de desconcertante.

– Eu... – o rapaz piscou com força e despertou de vez, cruzando os braços num auto-abraço protetor.

Lecter observou o rapaz parado na porta da sua casa, local que dividia com seu consultório. Will Graham estava apenas de pijama, descalço, e tremulava de frio, parecendo completamente perdido. O psiquiatra acabou suspirando derrotado.

– Entre.

– Não... eu...

– Você vai voltar sobre seus passos, nessa noite fria? Descalço? – ergueu uma sobrancelha de modo irônico – Não me obrigue a insistir.

Freak Show (Hannigram)Onde histórias criam vida. Descubra agora