Ninguém nunca sabe quando aquele 'até logo'
poderá ser, na verdade, um adeus. — Augusto Branco.
— Que roupa é essa? — John indagou, olhando para o pequeno pedaço de pano que mal cobria as pernas da filha.
May encarou o pai e depois a minissaia jeans.
Finalmente consegui a sua atenção! Comemorou internamente.
— Uma saia. Não está vendo? — Passou a mão sobre o jeans e sorriu de lado.
— Mayara Sanders, troque já essa roupa — ordenou de forma rude.
— Agora você se importa? — Levantou a voz, fazendo sua mãe saltar na cadeira.
— Filha minha não vai sair por ai assim, com tudo de fora.
— Então eu não sou mais sua filha. — Levantou-se rápido, derrubando a cadeira no linóleo branco. Os olhos cheios de lágrimas. — Você só é capaz de me notar assim, John. Quando fala comigo é só para me repreender. Já não tenho um pai de verdade há muito tempo. Eu te odeio! — disse devagar, dando ênfase em cada palavra, a mágoa disfarçada de raiva.
Fugiu a passos rápidos e bateu a porta da frente.
Colocou Linkin Park nos fones de ouvido e chorou durante o trajeto até a escola, onde se escondeu entre as árvores altas no pátio e matou aula, para chorar, sozinha e em silêncio. Encontrando consolo na música, sua melhor amiga nos últimos tempos.
Era pedir muito ter uma migalha de atenção de vez em quando? Receber um afago?
May com certeza achava que não.
Tracy ajeitou o guardanapo no colo e suspirou. Seu apetite havia sumido por completo. Como sempre.
O marido trabalhava demais, tudo ia de mal a pior há tempos. O relacionamento deles estava ficando cada vez mais difícil, a felicidade era inexistente, se tratavam como máquinas. Trabalhe, lucre, repita, durma, reclame...
— O que nós estamos fazendo? — A voz de Tracy era calma e doce, embora seu interior estivesse arruinado.
John apertou a ponte do nariz, prestes a explodir.
Uma mulher louca, uma filha rebelde e contas para pagar. Deus me odeia, pensou.
— É a sua obrigação criar essa menina.
— John... — Ela respirou fundo, controlando a raiva. — Ela é a nossa filha. Você também tem obrigações.
— Enquanto você está aqui eu estou trabalhando para sustentar essa casa, para comprar as suas joias, para pagar as suas roupas...Eu dou duro para sustentar vocês. — Seu punho bateu contra a sólida mesa, estremecendo as xícaras.
O café saltou para fora da xícara de Tracy, sujando a toalha branca. Vendo a cena ela também transbordou.
— Você se lembra da última vez que nós saímos no final de semana como uma família? Eu me lembro, foi no ano passado, e você estava distante.
— Você quer sair como uma família? Vamos sair, quando eu for liberado do trabalho...
— Lembra quando elogiou a sua filha pela última vez? Sabe que ela ganhou uma medalha na escola? Sabe que ela recebeu uma advertência por dormir em sala de aula? — interrompeu Tracy com a voz embargada. — Você se lembra da última vez que nós fizemos amor?
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Última Chance
Historical FictionNinguém espera por um desastre. Todos nós saímos de casa pensando em voltar sãos e salvos para nossas famílias. John também esperava. Nunca pensou que o World Trade Center seria atacado por terroristas. Nunca pensou que estaria lá e vivenciaria tu...