Hoje é o meu primeiro dia de aula e eu estou nervosa com toda essa situação. Acho que estou mais nervosa com a possibilidade iminente de desastres catastróficos assim que por meus pés em solo escolar. Pode parecer meio exagerado, mas quando o assunto sou eu as coisas sempre conspiram para o errado. Odeio isso? Odeio. Faço algo pra mudar? Não sei.
Hoje acordei sentindo que as coisas seriam diferentes. É o primeiro dia de aula do ensino médio e sinto que posso me dar enormemente bem, por isso decidi deixar de lado a personalidade garota invisível para me tornar a garota que chama atenção.
Tive de ficar acordada até tarde da noite para conseguir dar um jeito nos meus cabelos que por mais que sejam lisos são cheios demais e repletos de frizz. Fiz o que pude para deixar os fios mais alinhados, não sei se tive sorte mais estou com os fios tão colados na cabeça que nem parece eu.
Peguei, roubei, um cropped azul marinho da minha irmã e uma calça de cintura alta da minha melhor amiga, enchi os meus peitos de papel higiénico e agora ele têm três vezes o tamanho que tinham.
Tenho uma camada fina de delineador nos olhos e meus cílios estão imensamente volumosos, acho que nunca me senti tão falsa na minha vida, mas se para ser alguém no ensino médio tenho de ser falsa eu não ligo. Prefiro ser falsa e ter amigos do que ser eu mesma e ficar sozinha.
Me despedi das minhas coisas em silêncio e prometi a mim mesma que mudaria o meu quarto radicalmente assim que chegasse em casa. A cor azul Índigo das paredes e todos aqueles livros, posters de bandas antigas e cd's não combinavam com a minha nova personalidade.
Eu seria a garota dos quilos de maquiagem, dos posters de boy band's, das revistas teen e de toda a baboseira que as garotas populares têm de ter. Músicas agora só eletrónicas e de boy bands.
Meu iPod estava morrendo com tanta desinformação musical, mas se alguém perguntasse eu estaria ouvindo o hit do momento e seria descolada.
Me despedi da minha mãe rápida como um furacão e ela me olhou estranho, acho que não está acostumada a me ver assim... Tão falsificada.
Uma música quase sem letra banhada por sons chatos e sem sentido invadia os meus ouvidos. Pergunto a mim mesma porque simplesmente não deixo o IPod como um enfeite bacana, se alguém perguntar é só mostrar a playlist porca e as pessoas vão gostar, mas sei lá... Acho que quero entrar mesmo nessa minha nova personalidade.
Sem que eu percebesse um garoto esbarra em mim, papéis e IPods voam para todos os lados, algumas folhas de papel vão parar na água e o garoto faz uma leve careta.
- Droga! - Ele murmura.
- Me desculpe, desculpe... Não o vi aí - ajudo-o a pegar os papéis e puxo o meu IPod conectando-o aos fones que ficaram empendurado no meu pescoço.
- Tudo bem... Acontece - ele guardou o outro IPod e sorriu.
- Sinto muito pelas folhas ali - apontei para os papéis na água.
- Não eram importantes - ele se levantou e olhou para o horário no relógio de pulso que usava. - Deus! Tenho que ir. Obrigado pela ajuda.
- Tudo bem, mas qual o seu nome? - perguntei quando ele já estava longe.
- Zick - e naquele instante ele se foi.
Peguei as folhas de dentro d'água e comecei a caminhar em direção ao ponto onde o ônibus escolar passava.
É lei. Os descolados pegam o ônibus escolar para mostrar aos outros a sua beleza e popularidade. Sempre sentados no fundão são o centro de todas as atenções.
Assim que o ônibus parou e eu entrei pela porta em busca de um lugar para me sentar eu senti meu estômago revirar, sabia que as pessoas sabiam quem eu era, mas achei que as poderia enganar por isso me sentei no meio do fundão. Não era nem o fundão, nem o meio.
Coloquei os meus fones e dei play na música, mas o que tocava não era One Direction. Era November Rain do Guns N' Roses. Quase larguei o IPod no chão e surtei com aquilo. Eu não tinha mais aquele tipo de música no IPod.
Foi aí que a fixa caiu, o garoto havia ficado com o meu IPod e eu com o dele. Havíamos trocado dezesseis gigas de músicas, ele ficou com as minhas músicas, quer dizer, com as músicas dessa nova Sóia e eu fiquei com as músicas do Zick.
Foi assustador porque se eu não tivesse resertado o meu IPod eu juraria que aquela era uma pasta oculta da Sóia antiga. Quase me arrependi por tudo e puxei a minha camiseta do Arctic Monkeys da mochila, quase.
Eu não iria jogar todo o trabalho que tive nas férias por uma simples playlist.
Corri os olhos pelas pastas no IPod e a que mais me agradou foi uma chamada Lucinda, era uma playlist agridoce cheia de músicas que falavam de amor e de dor, uma delas era Asleep dos Smiths. Aquela era uma playlist e tanto e eu senti o canto dos meus olhos se afundado, lá se vai o meu bom humor.
Assim que o ônibus parou tive de empurrar uma garota na porta do ônibus porque ela não parava de conversar com outra é a voz dela era irritante. Comecei a caminhar pelos corredores cheios da escola vendo um caminho se abrindo para mim e logo reparei na companhia das minhas duas melhores amigas. Alexis e Raya.
Nós havíamos combinado que seríamos as novas rainhas da escola e até o momento tudo estava correndo super bem. Alexis havia pintado os cabelos de loiro e Raya havia feito uma cirurgia no nariz, ambas estavam tão falsas quando eu e estávamos bem com aquilo tudo.
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Nova Playlist
Teen FictionOs sentimentos de um garota nunca podem ser revelados por completo. Ela não quer dizer que ama, não quer acreditar que se apaixonou pelo gosto musical de um completo estranho. Copyright © 2016 by Ágata Ferreira Plágio é crime e não é fixe ;3