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NÃO AMASSE ANTES DE LER, POR FAVOR. Eu sei que não sou digna da sua atenção, mas por favor, leia. 

Oi. Não sei como começar, então vou direto ao assunto: você tem toda razão. Está completamente certa quando diz que sou a pessoa mais egoísta e sem coração que já conheceu. Eu sou mesmo. E não estou dizendo isso só pra quem sabe ter o seu perdão (sei que não sou digna dele, também). Eu sei que perdi essa chance há muito tempo, quando cometi o maior erro da minha vida, que foi te deixar ir.
Eu não pretendo "me justificar" ou quem sabe fazer parecer que minhas ações tiveram algum sentido. Mas vou, pela primeira vez, tentar explicar o que se passava na minha cabeça naquela época. Era o mínimo que eu devia a você, o que qualquer pessoa decente teria feito. Mas eu não sou isso. Sinto muito por demorar tanto para perceber.
Era tudo tão simples, naquela época... Tão inocente. Queria segurar suas mãos até o fim do mundo. Nunca, nunca soltá-las. Mas eu soltei. E por isso, nunca serei capaz de me perdoar.

Nenhuma de nós foi pedida em namoro. Não foi preciso. Pensando nisso agora, acho que sempre fomos namoradas, desde o começo. Me lembro daquela noite, quando você disse, de brincadeira: 
- Ei, Jiloba.
Eu estava distraída, sentindo suas mãos trançando meu cabelo de chiclete, e só percebi quando parou. 
- O que foi?
Você deu de ombros, como sempre fazia quando queria tirar um pouco da seriedade do que ia dizer. 
- Quer ser minha namorada?
Não consegui segurar um risinho confuso.
- Ué... Mas não é o que somos?
 - Sei lá. - Você disse, evitando olhar para mim. Aquela atitude de roqueira despreocupada sempre me encantou. Eu sorri e coloquei os braços ao redor do seu pescoço. 
- Sim.  
- Sim o quê? 
- Sim. Quero passar a eternidade sendo exatamente isso: namorada de uma vampira irônica e meio confusa, mas que compõe músicas incríveis e é a melhor fazedora de pipoca de microondas do mundo.
 - Essa palavra não existe - você murmurou.
- O quê? 
- "Fazedora". Você disse "fazedora de pipoca de microondas". 
Meu Deus, como eu te amava. Te puxei para mais perto e a beijei como se fosse te perder algum dia.
E eu perdi. 

Desculpe por trazer à tona esses fantasmas. Eu não deveria estar aqui, escrevendo sobre nossos primeiros anos, como se tivesse tal direito. Vou agora mesmo avançar até o assunto x. O motivo de eu estar escrevendo isso, e de passar todas as noites me afogando em remorso e arrependimento. Você sabe do que estou falando. A maior 'faca de dois gumes' a que alguém pode se submeter: uma coroa. Quanta coisa, um objeto tão pequeno pode representar, quanta coisa pode destruir. Não, não foi a coroa que nos destruiu. Fui eu. No dia em que adicionaram oficialmente a palavra "Princesa" antes do meu nome, foi a primeira de muitas pequenas mortes que se seguiriam. Então agora eu era Princesa Jujuba, com um mar de responsabilidades e deveres e um reino que precisava de mim. Toda aquela gente dependia de mim. Era da minha proteção que eles precisavam, da minha liderança. No começo, foi tudo um verdadeiro mar de rosas. Eu achava mesmo que tinha nascido para cumprir a função de princesa. E quem sabe, tivesse mesmo. Dizem que um bom líder é medido pelas horas que passa se dedicando ao seu povo, não é? Pois isso, eu fiz. Me entreguei de corpo e alma àquelas pessoas que tanto precisavam de mim. Só me esqueci, Marcy, que você também precisava.
Em pouco tempo, eu estava soterrada. Mal conseguia fazer uma refeição de 10 minutos. Não dormia mais do que 3 ou 4 horas por noite, quando tinha sorte de não ser acordada com algum problema de última hora. Tempo livre era algo já muito longínquo, deixado lá atrás, quando eu era apenas uma garota e não uma garota com um reino nas mãos. Repito: não estou tentando justificar meus erros; mas explicá-los, ao menos. Porque na época, fazia sentido. Eu REALMENTE achava que estava fazendo a coisa certa.
A questão, Marcy (se é que ainda tenho permissão de te chamar assim), é que eu não tinha TEMPO pra você. Dizer isso, com todas as letras, me machuca, mas é a verdade: não tinha lugar pra mais absolutamente nada na minha agenda. Simplesmente não cabia. Não sabia como equilibrar todos os aspectos da minha vida de forma que pudesse continuar com você e ainda assim cumprindo meus deveres. E passei da fase de culpar a coroa por isso. Eu deveria ter dado um jeito! Deveria ter jogado tudo fora, na pior das hipóteses. E deveria, acima de tudo, ter sido honesta com você. Pedido ajuda, talvez. O que eu fiz foi a maior covardia que poderia ter feito: te deixei no escuro. Te expulsei da minha vida como se não significasse nada, e nem me dei ao trabalho de explicar por quê. Achei que assim estava te protegendo (fazia sentido, pra mim).
Foi isso. Comecei a fingir ter uma força que não tinha, uma frieza que me custou tudo o que eu era. E você foi ficando cada vez mais machucada e exausta, até que sua dor se transformou em raiva. E eu não te culpo. Um dia, eu acordei e me deparei com uma carta na janela do quarto. Você deve ter voado até ali na madrugada para deixá-la e me olhado dormir pela última vez.
À medida que ia passando os olhos pelas suas palavras, comecei a sentir uma dor aguda no peito, me massacrando. As lágrimas começaram a cair com uma intensidade assustadora, e com elas, a ficha de que tinha te perdido para sempre. Quando cheguei ao final, minhas pernas amoleceram de forma que eu tive que sentar no chão. Este, parecia ter desaparecido, e o ar se tornara difícil de inspirar. Então aquilo era o fim. Quer dizer, já tínhamos chegado ao fim há muito tempo, mas aquele era o ponto final definitivo. Chorei por dias, mas isso não amenizou a minha dor. Pelo contrário: a cada nova manhã, era mais difícil suportar o fato de que você se fora e estava reconstruindo sua vida sem mim. Eventualmente iria conhecer alguém que te merecesse, se apaixonar por essa pessoa e me esquecer. Era dolorosamente justo, e ainda é. Lembro de quando chegou até mim a informação de que estava namorando um cara chamado... Acabo de perceber que não me lembro do nome dele. Talvez não importe, de qualquer jeito. Me senti destroçada. Lidar com o ciúme foi devastador. Então agora tinha outra pessoa na sua vida, e a culpa era toda minha por não ter dado valor ao que tinha. Aquilo que nunca devia ter terminado, não devia! E não posso deixar de imaginar como seria, se não tivesse. Ainda estaríamos juntas? Eu acredito que sim... Tenho certeza absoluta de que você estaria aqui do meu lado, cantando uma de suas composições loucas e me fazendo acreditar que o amor valia a pena.
Ele vale, Marcy? Eu não acredito no amor há tanto tempo... Mas já acreditei. E se pudesse voltar no tempo, você sabe que teria feito tudo completamente diferente. Mas eu não posso. E estou condenada a passar o resto dos meus dias lamentando por isso. Acho que não há mais muito o que dizer. Já disse tudo que devia ter dito há anos. Sabe, o tempo é um aliado poderoso da compreensão. Dizem que ele cura todas as feridas que alguém possa ter... Obviamente não sou "alguém", pois as minhas estão muito longe de se fecharem.
Você foi a melhor coisa que me aconteceu. Só queria que soubesse disso. Espero que um dia, encontre um meio em seu coração de me perdoar.

Te amarei para sempre. Não te amar seria como não existir (eu não posso não existir, posso?).

- Bonnie. 

P.S: você nunca foi "meu problema".

Lágrimas de ChicleteWhere stories live. Discover now