Capítulo Um

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— O vento está forte. — comento,  enquanto vejo as várias flores, que caiam das árvores, voarem.

— É início de primavera — Caren explica, sem realmente prestar atenção em mim. — Agora vamos, que você tem uma entrega na rua Jacarandá.
   Olho no espelho, que tinha atrás do balcão, e dou uma arrumada no meu curto cabelo preto, que ficava um pouco a baixo das orelhas, e dou uma bagunçada na franja, que era na linha da sobrancelha.

— Isso me faz lembrar de uma música. — Procuro rapidamente a música em minha memória — “Jacarandá que flor seria essa, Que linda flor se parece com você..”

— Não começa, Analu. — Ela revira os olhos —  Para tudo você tem uma música.

— A vida é uma grande canção. — Comento sorrindo. — Qual a entrega? — Caren vai até o fim da loja e volta de lá com um grande buquê de lírios.

— Suspeitei que seus olhos brilhariam desta forma, quando visse o buquê.

— Elas são.. fantásticas. Fazia tempo que não às via por aqui. — Dou um suspiro, eu era apaixonada por lírios.
   Caren sorri, com alegria, deixando a mostra a covinha que tinha do lado esquerdo, seus olhos eram castanho escuro e seu cabelo castanho claro, um pouco abaixo dos ombros, com mechas em tons mais claros. Ela tinha 1, 63m de altura e era a pessoa mais séria que você poderia conhecer, até ser sua amiga, então via que era totalmente ao contrário.
   Trabalhávamos em uma loja de flores, como já se podia imaginar, e era simplesmente o melhor trabalho que alguém poderia ter. Eu trabalhava aqui desde os meus 16 anos, que foi quando a Caren decidiu ter a própria loja e minha mãe pediu se eu poderia ficar de ajudante, mesmo com 4 anos de diferença de idade nos tornamos amigas.

— Separa umas para mim — Peço, enquando tomo o buquê em meus braços.

— Essas são as únicas, Analu. — Sinto que a olho com decepção e ela começa a abrir a boca para, provavelmente dizer algo que me faria sentir melhor.

— Tudo bem, quem sabe na próxima — Dou um sorriso de canto, antes que ela podesse dizer algo. — Vou arrumar a bicicleta. 
   Caminho para o lado de fora onde encontro minha bike azul escuro, sorrio, mil lembranças me invadem. Ganhei aquela bicicleta quando tinha uns 10 anos, era muito grande para mim na época, o que resultou várias falhas na tintura, cada uma delas tinha uma história, na verdade era para ela ser do meu pai, mas ele fala que meus olhos brilharam tanto quando virão a bike, que ele não teve coragem de dizer que era dele e, mesmo sendo grande demais, ele me presenteou com ela.
  Deixo o buquê na sexta, que tinha na frente da bicicleta, e vou tirar a corrente que prendia a roda de trás, subo na bicicleta e vou até a frente da loja avisar a Caren que eu estava indo. A encontro parada na entrada com dois lírios na mão, sorridente.

— Achei esses dois lá atrás. — Ela caminha até mim e me entrega — Para você, minha entregadora favorita.

— Eu não sei como te agradecer, Caren — Lhe dou um abraço apertado e pego as flores, depositando junto do buquê. 

— Leve as flores em segurança.

— Isso é o que eu faço de melhor — Respondo sorrindo e dou a primeira pedalada — Talvez eu demore um pouco, pois vou passar no cemitério para deixar um lírio — Grito.

— Tudo bem!

   Então a loja já estava distante, me ergo um pouco para sentir o ar e com ele o cheiro da água salgada do mar, vejo o céu azul, sorrio. Morávamos na praia grandes a dez anos e ao contrário do que as pessoas diziam, eu nunca enjoava, sempre que podia ia dar um pulinho no mar. 

   Quinze minutos depois estava estacionando em frente a uma loja de bolsas, deixo minha bicicleta ao lado da loja, pego o buquê e entro na loja.

— Sra. Tânia? — Chamo e uma linda mulher aparece, aparentava ter uns 38 anos, mas continuava bela e elegante.

— Sou eu — Ela diz com uma voz doce, porém forte, e sorri.

— Tenho uma entrega para você.
   Seus grandes olhos azuis, da cor do mar do caribe, caem sobre as flores e ela da um sorriso mais largo, mostrando algumas rugas ao redor dos olhos, esse era o efeito que as flores causavam nas pessoas, por isso eu gostava tanto delas. Ela coloca uma mecha de seu cabelo preto, que ia a dois dedos acima dos ombros, atrás da orelha.

— Quem mandou? 

— A pessoa pediu para não dizer, mas tem um cartãozinho com uma lembrança que te fará saber quem é.

— Então vamos, jovem, me dê logo aqui — Lhe entrego o buquê, sua animação havia consumido o lugar. Ela encontra o bilhetinho entre os lírios e abre, com pressa, lê com calma e ao fim da leitura solta um longo suspiro. — Ele é um safado! — Dou risada e ela me olha. — Tivemos uma briga ontem e ele mandou as flores para se desculpar.

— Isso mostra que ele se importa. — Respondo, sorrindo.

— Bento sempre se importou, estamos juntos a vinte anos e ele continua o mesmo de sempre. 

— Quero um dia ter um amor assim.

— Você terá — Ela sorri com amor.

   A minha volta para a loja foi com o pensamento totalmente na Dona Tânia e no Sr. Bento, mesmo com as possíveis brigas, deveriam ser um casal apaixonado. Minha mãe e meu pai me vêem imediatamente a cabeça, eles eram muito apaixonados um pelo outro, então me lembro que não ia voltar para a loja e sim que iria ao cemitério.
   Dou a volta rápido ao ver que o semáforo ia fechar para os carros, dou peladas mais rápidas e atravesso, segundos depois ouço rodas derraparem no chão e sinto um forte batida do meu lado direito, caiu da bicicleta e bato meu ombro com força no chão, sentindo logo após uma dor aguda. Vejo um homem de idade cruzar meu campo visão, com a expressão de preocupação, então tudo escurece e eu não vejo mais nada.

* Para quem ficou curioso para ouvir a música que a Analu canta nesse cap é só olhar a mídia.

   Espero que estejam gostando.

As flores de AnaluOnde histórias criam vida. Descubra agora