Capítulo 46

332 50 18
                                    

  
  Eu esperava o pior, mas não só o pior, espera o fim, porém o destino quis me dar uma segunda chance, quis balançar meu mundo para me acordar.
  Jason está respirando sem aparelhos, ele não acordou mas agora pode se dizer que está vivo realmente, que está usando menos os aparelhos e com mais chances de despertar.
  Isso definitivamente é o melhor presente de natal que eu poderia ter agora.
Eu e meu pai ficamos à noite toda no quarto do meu irmão assistindo a filmes natalinos na televisão, caio no sono em algum momento e acordo com as vozes familiares perto de mim.
- Então você lembra? - Louise diz desconfiada.
- Sim.
- Eu deveria te bater por isso, mas não vou porque hoje é natal.
- E porque não conseguiria - Jackson acrescenta.
- Olha que eu chamo sua mãe!
- Okay, eu parei.
Coço meus olhos e os obro devagarzinho, Louise está sentada ao lado de Jackson que tenta roubar um pedaço de seu lanche e leva um tapa na mão.
- O que fazem aqui? - questiono ainda grogue.
- Festejando o natal, oras! - Louise ri.
- Não era para estar rolando uma festa na sua casa?
- Está. Mas aproveitei que minha mãe queria ficar de cara amarrada a noite toda e vim para cá.
- Sua mãe gosta de mim, um pouco mas gosta. - Jack diz para a namorada.
- Se você acha. - Louise da de ombros e olha para mim - Bryan foi comprar comida com seu pai.
Me ajeito na poltrona do quarto.
- Bryan está aqui?
- Não. Está comprando comida com seu pai.
- Mas ele veio aqui?
- Sim.
Olho para os lados, Jason ainda está lá deitado na cama como se estivesse dormindo.
- Ele está bem? - Jackson pergunta.
- Sim, melhor do que antes. - respondi.
- Então o nosso campeão está voltando!
- Sim.

_

   Tinha me esquecido de que tinha prometido para Lou que iria ajudá-la na freira de natal lá da rua do bazar da Maia, cada um precisa montar sua barraca e vender coisas natalinas, a mãe da Lou decidiu que ela venderia tortas e todos sabem que quando a mãe dela diz algo ninguém discorda - só a Louise.
- Épocas natalinas me lembram do passado. - Lou suspira pegando uma caixa do chão e colocando no carro.
- Épocas natalinas me lembra ceia de natal. - falo.
- Ceia é essencial. Mas estou dizendo que me lembro do colégio.
- Cruzes.
- Tudo parecia mais fácil.
- Sério? - questiono.
  Para Louise as coisas não pareciam ser tão fáceis, pelo menos não no último ano.
-Teve seus altos e baixos. - ela ri - Okay, ainda tem. Mas eu gosto da minha mãe!
- Eu não falei nada, Lou.
- Mas pensou. O único problema é que ela tem aquelas frescuras, mas de resto, eu a amo.
- Ela só tem medo de te perder.
- Ah, quanto drama! Me lembro que foi um desastre me ensinar a cozinhar.
- Eu me lembro do dia que brigamos.
- Qual?
Jogo um enfeite de papai Noel nela e ela mostra a língua.
- Aaah, não me esqueci do dia que a Marlee Carter mostrou a prova da sua falta de vergonha na cara!
  O rosto de Louise enrubesce e eu dou risada.
- Cala boca!
- Como esquecer da sua sogra devolvendo as suas roupas que estavam na casa dela.
- Não aconteceu nada! - ela tenta se defender.
- Vou fingir que acredito.
   Percebo mais uma vez que, sim, o passado parece ser muito mais fácil agora.
- Chamei o Bryan para ajudar a pintar a placa.
  Paro de colocar as coisas no carro e olho para a Louise.
- O que?
  Ela para também e olha para mim confusa.
- Qual o problema? Vocês não tinham se entendido?
- Eu...eu não sei.
- Você gosta dele e ele gosta de você, qual o problema?
- Você sabe qual é.
- Mas o Jason está melhor!
- E daí?! Não significa que possamos ficar juntos.
- Eu quero bater em você agora. Para de frescura! Você vai chegar nele e dizer como está feliz pelo Natal e depois vai conversar e planejar coisas.
- Planejar coisas?
- Isso. Planejar.
  Não. Eu não estava pronta para isso. Mas isso não significava que Louise não estava pronta para interferir.

_

- Aqui estão as tintas, os pincéis e a folha com o que eu quero escrito. - Louise põe tudo na grande mesa de madeira - Agora eu vou ir almoçar com o Jack e volto para organizar a barraca! Se divirtam!!!Beijinhos!
Eu fico lá parada olhando para as tintas e chego até a suspirar.
- Quer escrever? Minha letra é igual a de médico!
Bryan me entrega o lápis e eu não olho para seu rosto apenas pego o lápis e olho para a placa em branco.
- Está tudo bem? - o ouço perguntar.
- Está.
- Okay.
- Okay.
Silêncio.
- Eu não estou bem. - Bryan diz .
- Qual o problema?
- Você. Quer dizer, esse silêncio idiota.
- O que quer que eu diga?
- Diga qualquer coisa.
- Estou tentando escolher entre vermelho e amarelo - falo.
- O que?
- Para a placa. Vermelho ou amarelo?
- Amarelo.
Pego a tinta amarela e começo a escrever com o lápis na placa.
- Posso falar algo?
- Pode. - dou de ombros.
- Estou em dúvida entre pedir gentilmente para você olhar para mim ou te obrigar a falar sobre o que aconteceu na praia.
Paro de escrever.
- Sério, April, nós vamos falar sobre aquilo...agora.
- Precisamos terminar de fazer a placa, Bryan.
- Não - ele tira o lápis da minha mão - não precisamos.
Olho para seu rosto, ele está perto demais do meu, seu perfume invade meu cérebro como se fosse droga para alguém em abstinência.
- Por que não quer falar sobre isso? - ele pergunta.
- Porque eu não sei o que é isso.
- Como não pode saber?! Você é cega ou o que?
Eu deveria ficar ofendida, eu uso óculos!
- Me diga então. - peço.
- Eu estou aqui. Você está aqui. Eu te beijei. Eu amo você e você me ama. O que há de errado?
- Nada. - confesso.
- Então pare de agir como una idiota.
- Da onde você tirou toda essa coisa, hein? - solto algo parecido com um bufo.
- Louise disse que eu precisava ser sincero com você, e o Jack que eu deveria te dar um pouco de realidade.
Um sorriso de canto aparece nos seus lábios.
- Só para constar - eu digo - você já me chamou tanto de idiota que agora eu estou com pena de mim mesma.
- Me desculpe.
Respiro fundo.
  Cansei disso.
- Eu só estou com medo.
Bryan coloca uma mexa do meu cabelo para trás.
- Com muito medo?
- Com muito medo. - afirmo e ele beija minha testa.
- Se você deixar...eu estarei sempre ao seu lado.
- Para sempre não é muito tempo?
- A eternidade não é nada quando estamos juntos da pessoa que gostamos.
- Isso parece frase de algum livro. Você tirou de algum livro?
- Provavelmente.
Eu queria que momentos como esse durassem para sempre, momentos em que estar ao lado de quem você gosta é o bastante para apagar todos os problemas externos.
Esse é um desses momentos, não estávamos nos agarrando ou coisa e tal, estávamos só ali, um ao lado do outro pintando uma placa para a feira de natal, trocando olhares bobos e rindo de nada.

Entre todas as coisasOnde histórias criam vida. Descubra agora