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1933

Lincoln, Inglaterra

A pequena cidade de Lincoln, localizada no nordeste da Inglaterra, estava agitada. Também pudera, uma vez que receberia um quartel da força aérea de Vossa Majestade, a RAF. Era o maior empreendimento da região, tomada por longos campos de fazendas e um pequeno centro. O quartel seria em uma fazenda abandonada, cujas posses foram tomadas pelo governo na ausência de algum proprietário.

A inauguração seria após uma missa solene, que aconteceria ao ar livre – isso se, é claro, o Deus anglicano de Henrique VIII assim permitisse mantendo o tempo firme. O seu contemporâneo, Jorge V, estava adoentado e não poderia participar, mas os boatos indicavam que um dos príncipes – Edward ou George, o filho – fariam as honras. O conde de Lincolnshire havia garantido ao padre, mas aparentemente fora somente para convence-lo a realizar uma celebração fora das quatro paredes da igreja. Ramsay MacDonald, o Primeiro Ministro, mandaria um representante.

Muitos perguntavam-se qual a finalidade de um quartel daquela importância logo naquele fim de mundo. Ao final das contas, concluiu-se que era para treinamento de iniciantes, uma vez que, apesar de baixa, a adesão militar ainda era presente. O mundo estava em considerável paz desde o horror da primeira grande guerra e o Reino Unido mal havia com o que se preocupar – até mesmo a crise iniciada em 1929 já parecia ser coisa do passado. Tudo girava em relativa tranquilidade e os cidadãos seguiam sua rotina, que era cuidar de suas propriedades e, se fosse o caso, encaminhar seus jovens filhos para a capital, a fim de possibilitar um futuro menos monótono e óbvio. Com a ascensão industrial que acontecia, tão logo o tempo passasse, logo as fazendas que ainda restavam seriam tomadas por fábricas de produção têxtil ou de agropecuária. Mas, enquanto esses dias não chegavam, os habitantes preocupavam-se em estar bem asseados para a abertura do novo quartel.

Em uma considerável casa no centro, Elise Spencer tentava ajeitar sua única filha para o evento que iniciaria pela manhã.

- Charlotte, tenha a gentileza de ficar imóvel – ela pediu, contando, pela quinta vez – Lhe fiz um conjunto com chapéu novo, mas precisamos arrumar o resto.

- Mas mamãe, não quero ir à missa. Não quero sair, quero ficar dormindo.

Elise suspirou, se perguntando de onde vinha tal gênio teimoso.

- Querida, não há opção. Se colaborar comigo, garanto que lhe farei uma sobremesa especial amanhã.

- Ainda assim, não quero. – ela cruzou os braços e chacoalhou a cabeça.

- Existe alguma chance de eu convencê-la? – Elise perguntou, quase jogando a toalha.

Charlotte permaneceu emburrada e fez um "não" com a cabeça; nisso o pai, Andrew, apareceu vestindo o terno.

- Se não se importam, precisamos sair dentro de cinco ou dez minutos. – ele avisou – Os Prescott irão passar aqui para irmos todos juntos e os...

A face de Charlotte se iluminou.

- Evelyn irá também?

- Ora, certamente – seu pai confirmou

- Mamãe, poderia terminar de arrumar meu cabelo, por favor? – a menina sentou-se na poltrona – Depois podemos conversar sobre a sobremesa.

- Os Evans também estarão esperando – seu pai continuou

Nisso, a boca de Charlotte abriu-se em um "O" seguido por uma expressão zangada. Porém, já era tarde para se rebelar, pois sua mãe já tinha agarrado uma porção de cabelos e arrumava graciosamente com grampos para acomodar o chapéu.

Corações PartidosOnde histórias criam vida. Descubra agora