P or que ele achou que isso ia dar certo?

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O dia já não ia muito bem mesmo antes da minha melhor amiga fugir num urso. Na verdade, não ia nem um pouco bem. Eu estava no meio de um baile no palácio, com nobres ricos, monstros e feiticeiros que eu nunca vi na minha vida em todo canto do salão, e eu tenho que cumprimentar cada um deles por ordem do meu pai, o rei. E, para fechar com chave de ouro, Mead fugiu em um urso mágico, como eu mencionei primeiro. Esse é simplesmente o melhor dia da minha vida.

Meu pai provavelmente me repreenderia por reclamar tanto sem nem mesmo me apresentar, mas ele me repreende por tudo. De qualquer modo, meu nome é Harry. Muito prazer.

Falando no meu pai, a culpa do baile foi dele. Eu cometi a única burrice da minha vida até então, contar para ele o nome da menina que eu gostava. Ele cometeu a pior burrice da vida dele até então, me fazer repetir em um evento público, na frente dela. Pensando por esse ângulo, foi até bom ela ter desaparecido. Me poupou de desaparecer também.
Você provavelmente deve estar se perguntando porque resolveu ler isso, então eu vou parar de enrolar e contar a história.

Meadow estava atrasada. Muito. O baile estava quase na metade e ela não dava nem sinal de existência, embora a hora marcada pelo meu pai para fazer meu discurso estivesse quase chegando. Até que um caminho entre as pessoas foi se abrindo. Gente caindo no chão, gente sendo empurrada, gente indo parar do outro lado do salão. Mead saiu do meio do tumultuo, radiante, sorrindo de orelha à orelha. Ela usava um vestido azul céu tomara-que-caia que ia até o joelho e estava com o cabelo preso em um coque, simples para os padrões da corte. Mead correu na minha direção com os braços abertos e me envolveu num abraço surpresa. O impacto me fez perder o equilíbrio e cair pra trás, ainda envolto por ela. (Um fato: se você me abraçar de repente porque está muito feliz, a chance de eu me apaixonar por você é 99%. A chance de eu cair também, então tome cuidado.)

Saído das profundezas de uma das passagens ocultas do castelo, surgiu um criado vestido em sua roupa formal e nos ajudou a levantar, como se o salão de festas não tivesse sido arruinado pela fúria de Meadow Nighttale, a Terrível.

- Estou atrasada? - Ela deu uma risada ligeiramente insana.

- Você é terrível - eu disse, mas minha declaração solene foi arruinada por um sorriso, assim como nosso momento de felicidade foi arruinado por um rosto que exibia qualquer coisa, menos um sorriso. Meu pai estava na nossa frente, sério e chato como sempre. Mead sorriu e foi na direção dele.

- Sua Majestade! - ela se curvou, fazendo uma reverência. Eu notei que ela tinha pintado bolinhas douradas em seu rosto, como sardas.

- Harry. - Ele se dirigiu diretamente a mim, como se Mead não estivesse lá. - Quem é essa de...

- Essa é a Meadow, pai. - Eu o interrompi antes dele completar a palavra delinquente. Sua expressão se suavizou imediatamente, como se ele não achasse prudente ofender a quase namorada de seu filho. Meu pai ficou em silêncio. Ele fitou Mead dos pés à cabeça, e então abriu um largo sorriso.

- Ah, sim! Meadow, claro. Ouvi falar muito bem de você, querida.

Meadow estava claramente ofendida, mas não teve tempo de replicar. Uma fantasma veio do nada absoluto conversar com meu pai sobre um dos convidados. Mead me puxou pelo braço até o lado de fora do salão.

- Cara, teu pai é uma péssima falsiane - ela riu, me arrastando na direção do bosque.

- Aonde estamos indo? - eu perguntei.

- Preciso de um tempo sozinha com você. - Meu sangue gelou. Será que ela já sabia? Será que meu pai já tinha contado a ela? Isso é o tipo de coisa que ele faria. Então, é óbvio que eu falei a coisa mais idiota na qual eu consegui pensar.

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