Tick.
Harry, agora não é hora de brincar, a gente precisa ir pra casa agora, olha pra mim...
Tock.
Harry, você está bem?
Não brinca assim comigo, levanta logo...
Tick.
Há, peguei você!
Tock.
Aaah, Isso não é justo! Eu fiquei preocupado com você, sabia.
Tick.
Você é mesmo um bobão, Colin! Eu vou te proteger dos perigos. Eu sou um menino bem forte para os meus sete anos, né ?
Tock.
...
O som incessante do relógio na quase não usada enfermaria não trazia memórias felizes para mim, o único garoto consciente que nela estava. Não quando aquele que compartilhava tais memórias comigo estava em estado deplorável. Esperar Harry acordar era uma das maiores torturas que eu poderia passar naquela situação. O tempo parecia infinito - e aquele maldito relógio não estava ajudando nem um pouco. Com um suspiro, eu voltei meu olhar para o amigo inconsciente que, mesmo desmaiado, ainda carregava uma expressão de culpa no rosto.
Harry com certeza se culpava pela situação, pela reação que ele teve ao ver o corpo. Eu ainda estava chocado pela morte dela, mas não podia me deixar abalar. Meu melhor amigo estava desmoronando, alguém precisaria ser forte para segurá-lo. Eu seria o ombro amigo, as palavras cálidas, a voz afetuosa, tudo que ele precisasse, eu seria, sem queixas ou lamentações. Tantas foram as vezes que Harry esteve ao meu lado... Eu nunca seria capaz de negar apoio, mesmo que, para isso, eu precisasse esconder minhas intenções e sentimentos egoístas, negar que estava caindo também. Pelo garoto em minha frente, eu faria qualquer coisa.
Eu vou te proteger, Harry. Nem que essa seja a última coisa que eu faça.
Uma lágrima rolou pela minha face, carregando toda a amargura que podia expressar. Esse era o último sinal de fraqueza que eu poderia demonstrar na presença de meu mais fiel amigo.
Eu não tirei isso do pensamento até que meus olhos não conseguiam mais encarar a enorme contradição que se desenrolava em minha frente.
Um quarto tão claro, para uma realidade tão escura...
***
Precisávamos contar às mães dela, de qualquer forma. Quanto mais tempo demorasse, maior era a chance de elas ficarem sabendo por outra pessoa. Por menos que eu gostasse da Meadow, Alextrasza e Ysera eram duas das melhores pessoas que eu conhecera. Eu não suportaria ver elas sofrendo sem poder ajudar. Como estava acontecendo com Harry.
Elas nos esperaram na porta. Assim que viu nossas expressões, o sorriso de Ysera se desmanchou.
- É a Meadow, não é?
Alextrasza suspirou.
- Devia ser por esses dias mesmo. Venham, entrem. Tem uma coisa que precisamos contar.***
Depois que estávamos devidamente acomodados, Alex começou a falar. E foi bem direta.
- Meadow não está morta.
Isso pareceu despertar a atenção de Harry. Ele saiu completamente do estupor das últimas horas, mas não falou nada. Alextrasza estava totalmente séria. Eu estava quase acreditando nela, já que ela não era muito de brincar. Mesmo assim, tínhamos visto o corpo.
- Senhora, sinto muito, mas você precisa aprender a lidar melhor com suas perdas.
Eu fiquei surpreso. Realmente não esperava que ele fosse desperdiçar uma oportunidade de acreditar que ela estava viva. A enfermeira me disse que o luto faz coisas estranhas, acho que ela estava falando disso. Mas Ysera continuou falando.
- Vocês sabem que Meadow foi adotada. Isso é meio óbvio. Há dez anos, ela apareceu na porta e pediu abrigo.
- A parte interessante - interrompeu Alextrasza - É que ela parecia ter 16 anos.
Isso era totalmente razoável. Às vezes acontecia de alguém virar imortal ou ficar preso na mesma idade para sempre. Só que magia era proibida no castelo, exceto em ocasiões especiais, como o baile de ontem. De jeito nenhum seria permitido a uma imortal residir e ser parte da corte. Harry estava especialmente ciente disso. Repetiam isso para ele o tempo todo.
- Mas... como?
- Não temos certeza. Ela nunca nos deu detalhes, mas achamos que foi uma espécie de maldição.
- O que sabemos com certeza - interveio Ysera - É que a maldição, ou o que quer que seja, não funcionou como esperado. Meadow virou praticamente imortal. No entanto, ela morre.
- Ah, entendi. Por que não? - Harry havia voltado a ser sarcástico. Ótimo. Ops.
- Mas só a cada 30 anos. E ela renasce logo depois.
- Obviamente. - Infelizmente, o sarcasmo dele era contagioso. - Mas... Espera. O quê?
- Vocês não estavam ouvindo? - Alex parecia estar perdendo a paciência. Eu calmamente expliquei a ela que eu tinha a tendência a ignorar as coisas que eu não entendo. Ou seja, tudo. - Ok, eu desisto. Saiam daqui. Vão, eu tenho coisas a fazer.
- Resumindo - disse Ysera - ela morreu, mas não está morta. Ela pediu para vocês irem a um templo? - Eu confirmei. - Bom, vão para lá. Tem alguma coisa lá em que ela precisa da sua ajuda. É melhor vocês saírem daqui antes que a Alex bata em vocês.
Saímos. O corredor parecia absurdamente normal depois de tudo que ouvimos lá. Harry se virou para mim, com seus olhos bicolores brilhando. Ele sorriu.
- Então, você entendeu alguma coisa?
- Não. E você?
- Só a parte de ir para o templo. Vamos?
Nota das autoras:
Votem no BriGaydeiro
Além de bonito é solteiro
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Guardião das Almas
FantasíaQuando sua quase-namorada desaparece no meio de um baile, Harry Bass precisa encontrá-la antes que Phoebe, a fada, o faça. O único problema: Harry é o herdeiro do reino de Lesta, e não pode deixar o palácio. Como ele conseguirá fugir da guarda estre...