Prólogo

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Em algumas culturas, na minha opinião rigorosamente arcaicas, gêmeos são uma espécie de bem e mal dividido por um Deus soberano. Sendo um o representante do bem e o outro do mal. Talvez, nem seja o bem e o mal, talvez sejam apenas diferenças. Como a dogmática e a zetética, um contrapondo o outro.

Comigo, não seria diferente. Muito menos sendo eu irmã de Casey.

Somos diferentes em tudo, e quando digo tudo, não é apenas a cor favorita. Ela gosta de vermelho e eu de verde, ela gosta de bonés e eu de tiaras, eu gosto de banana e ela de laranja. E eu não estou falando literalmente da fruta.

Acho que o fato de ela ser lésbica é a nossa principal diferença, sendo usada como fator de diferenciação entre ambas. Todos sabem, todos veem. Menos mamãe.

Minha mãe, desde sempre, sempre mesmo, achou que estava grávida de apenas um bebê. Até que viemos nós duas. Retomando a cultura arcaica da separação do bem e do mal, a qual nossa mãe vive fielmente ligada, fomos jogadas num internato desde pequenas porque mamãe nunca soube diferenciar quem era o lado bom da história.

Com certeza não era eu, muito menos Casey. E depois de longos e cansativos 17 anos, minha irmã resolveu contar sobre sua opção sexual para mamãe.

Mais ou menos assim:

"Querida, você tem que ser mais delicada, mais pura, mais feminina. Homens gostam de delicadeza." Minha mãe falou para Casey após a mesma ter aparecido em casa com um piercing no nariz.

"E eu não gosto de homens." Ela falou calma como se estivesse em uma aula de yoga.

O silêncio se formou na mesa, mas minha risada bem louca o quebrou.

"Opa." Falei assim que minha mãe me fuzilou com o olhar.

"O que falou, Casey ?" Ela repetiu a pergunta esperando algo que lhe confirmasse a trapalhada dos ouvidos.

"Que eu não gosto de homens. Gosto de mulheres, curvas, chupar vagina, entende ?" Ela exemplificou me fazendo rir mais e mais.

"Isso são modos, Casey ? Já para o quarto." Minha mãe apontou a escada como se ela fosse a magia que resolveria seus problemas.

Não acho que Casey ser lésbica seja um problema, até porque nunca foi um problema eu ser heterossexual. E que grande diferença: eu gostar de homens e ela de mulheres.

"Não, não vou. Eu já deixei minhas malas com um amigo, ele deve estar chegando. Eu vou pra faculdade." Ela sorriu vitoriosa enquanto levantava da mesa.

Eu reprovei um ano no internato, o que me fez ficar atrasada. Enquanto Casey estava indo pra faculdade, eu ainda tinha o terceiro ano pra concluir.

"Vai para o seu quarto agora." Minha mãe falou mais baixo como se isso fosse resolver.

"Não." Minha irmã cruzou os braços e sorriu irônica.

"Casey, se você for por esse caminho de satanás, eu deixo de ter uma filha." Ela falou claramente brava.

"Menos uma." Minha irmã falou e então ouvimos uma buzina "Tchau, tchau." Ela acenou e saiu de casa como se um caminho de purpurina tivesse se aberto.

"Casey." Chamei triste quando ela já estava na porta.

Ela virou e sorriu. Essa é a última cena que eu tenho dela.

"Ela perdeu uma filha, mas você não perdeu a irmã." Sussurrou sorrindo e saiu de casa me deixando com uma mulher brava.

Abri a porta devagar, não dava pra ver quem estava dentro do carro preto, mas minha irmã entrou rápido e o carro disparou pela rua.

Twisted {H.S}Onde histórias criam vida. Descubra agora