19 de Novembro de 2013.
Washington.
Olá, Gus.
Bem, eu havia prometido ao nosso pai que pararia com isso; que nunca mais escreveria nenhuma carta para você. Sabe o que Megan me disse semana passada? Que estou louco. Que só retardados insistem tanto em "falar com mortos". Não acho que sou retardado, porque você me disse isso, se lembra? Sim, quando Eivan e seus amigos mexeram comigo na escola, me jogaram contra a parede e xingaram com palavras feias – como retardado. É, Gus, a sua namorada também viu aquela cena e se assustou com sua raiva. Quase chorou. Aliás, ela almoçou conosco semana passada. Hanna se lembra de você, sente sua falta, e não me acha retardado. Até disse que gosta das minhas coleções de CDS artigos de Rock e isso foi legal, porque você quem me deu todos eles no meu aniversário de 12 anos. Hoje eu tenho 16. É lógico que sabe disso.
Hoje também faz um ano e meio que você se foi, e aquela merda toda ainda não saiu da minha cabeça. Será que um dia esqueço? Mark falou que você se orgulharia se eu me lembrasse somente dos nossos bons momentos. Alexi disse a mesma coisa. Ah, não te contei? Conheci uma garota, e sim, ela é bonita. Se você estivesse aqui provavelmente me daria conselhos sobre como conquistá-la e ser legal, mas Alexi já me acha legal. Isso te deixa feliz? Espero que sim. Por causa dela, eu brinquei na neve. Foi a primeira vez depois daquele inverno ruim, e olha que não fiquei tão triste.
Vou te explicar o que aconteceu:
Antes de ontem Megan me acordou mais cedo para dizer que teríamos visita – as afilhadas e uma sobrinha da Suzie passariam o final de semana aqui. Papai gostou da ideia, até porque elas virariam minhas irmãs também. Nossas irmãs. São até gente boa, mas mal falaram comigo. Talvez tivessem me achado estranho, como os outros.
A Alexi, não. Ela me encarava de um jeito engraçado durante o jantar da primeira noite, e sabe o que mais? Eu ri disso, daí Mark também riu. Então a Sozie; depois as meninas; e até a Megan. Eu me senti bem, e ele conversou comigo antes de dormir.
Foi sobre você.
Ah, ok, voltando ao assunto: no dia seguinte Alexi veio falar comigo. Jogamos video-game – ensinei do mesmo modo que você me ensinou –, comemos bolo de chocolate, corremos com o Toby e assistimos filmes de terror. As outras não nos acompanharam, porque para elas são atividades de meninos. Alexi não é um menino.
Quase me esqueço de avisar que ela gosta de estrelas tanto quanto nós! Não é incrível? Cheguei a me sentir um mané por saber menos sobre o universo... Se bem que Alexi tem 16 anos. Sim, é um mês mais velha que eu – pelo menos foi esse o resultado dos meus cálculos. Sabe que odeio matemática, e você quem me ajudava a passar nessa matéria.
Continuando...
Na noite passada, às 23:10, fomos para o quintal. Antes disso a contei sobre você, e a única coisa que saiu da sua boca foi um "sinto muito".
Sim, todos sentem, mas Alexi não parecia ter dó.
Ela ficou quieta durante alguns minutos;
Depois, disse que tinha uma surpresa;
Então pulamos a janela do quarto.
Foi difícil porque Toby latiu um pouco, mas não chegou a acordar alguém.
Admito que fiquei bravo no começo, pois havia acabado de contar sobre sua história e meu ódio pela nave para ela me levar para perto da coisa que te matou?
Eu realmente queria voltar para casa, mas Alexi não deixou. Me pediu para ficar. Disse que não queria sair dalí. Disse que precisava da minha companhia. Precisava? Será que era verdade? As pessoas geralmente não precisam de mim.
Nos sentamos no balanço do parque e olhamos as estrelas. Ela até apontou para uma das mais brilhantes e disse: "Olhe, aquele é o Gus. Diga algo a ele, pois está brilhando por você."
Você me ouviu nessa noite? Eu tinha dito que o amava e sentia sua falta. Depois chorei, e ela me abraçou. Eu parecia uma criança: senti meu rosto ficar vermelho, e cheguei a fazer barulhos irritantes enquanto as lágrimas rolavam. Não tive vergonha. Não naquela hora porque você estava lá me vendo do céu ao mesmo tempo em que ela me abraçava.
Na verdade, senti alívio. Um peso desapareceu das costas. A garganta esvaziou.
O silêncio chegou logo após, mas não durou muito porque ela jogou uma bola de neve em mim – e riu da minha careta que dizia ser engraçada. Eu revidei. Isso te magoa? Sempre me disse que revidar nunca resolve nada, mas a intenção foi boa.
Nessa hora, Gus, eu te imaginei ali com a gente. Me lembrei dos nossos bons momentos de forma automática. Ganhei uma amiga de verdade.
Aquela nevasca fez da minha vida um inferno e acabou com a sua, mas me esqueci dela quando estávamos debaixo das estrelas.
P. S: Alexi está me dando aulas de matemática agora, e só hoje aprendi muita coisa com ela.
Com amor, do seu irmão Brian.
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estrelas na nevasca
Short StoryBrian sempre possuiu uma ligação forte com o irmão mais velho, e isso não se quebrou quando ele morreu num acidente natural há alguns anos: o que o fazia permanecer por perto eram as cartas que o menino escrevia sobre teu dia a dia, sempre contando...