Prólogo

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Quatro dias.

Foi o tempo em que a minha mãe ficou trancada no quarto esquecendo-seque tinha filhos para alimentar e um trabalho para comparecer.

Na altura eu tinha doze anos, no primeiro dia eu fiquei próximo da porta a tentar perceber o que tinha acontecido para deixar a minha mãe naquele estado.

Eu tinha voltado da escola com a minha irmã ao meu alcance para deparar-me com a imagem da minha mãe sobre os seus joelhos a chorar desesperadamente, não demorou muito para ser acompanhada pelo choro de Mel, a minha irmã, que naquela época tinha a mania de chorar sempre que via alguém chorar mesmo que não fosse capaz de perceberas razões para essa pessoa estar a chorar.

Demorei algum tempo a perceber aquilo que se passava.

Começou com a minha mãe a trancar-se no quarto sendo que a única vez em que isso aconteceu foi quando recebemos a notícia da morte do avô, na altura eu teria apenas nove anos, Pan nem se quer ainda existia.

O segundo sinal foi quando o meu pai apareceu em casa no segundo dia em que a minha mãe estava trancada no quarto, foi uma visita breve de talvez uma meia hora havendo mais choro por parte da minha mãe e um grande silencio do meu pai.

Até hoje sinto a sensação do afago no meu cabelo como despedida vinda do meu pai.

Foi a última vez que o vi!

Nos próximos dois dias eu fui obrigado a dar um passo em frente e tomar as rédeas que o meu pai abandonara e que a minha mãe estando demasiado frágil não era capaz de as tomar.

Ainda me lembro do momento em que a vizinha do lado, que se oferecera para cuidar de Pan nas horas em que a nossa mãe estava a trabalhar,batera à porta da nossa casa a perguntar se estava tudo bem.

Eu tinha doze anos na altura, não fazia a mínima ideia qual era o cenário de uma negligência familiar por isso contei tudo aquela velha senhora que sempre me oferecia biscoitos de canela quando era a minha vez de ir buscar Pan à sua casa.

Quando vi tanto eu como os meus três irmãos mais novos tínhamos sido retirados da nossa mãe e mandados para uma instituição de acolhimento.

Por três meses vivemos naquela instituição como se não tivéssemos familia, junto de outras crianças e adolescentes enquanto a nossa mãe tinha as chances de se endireitar e oferecer um ambiente saudável e estável para quatro crianças.

A verdade?

A verdade é que sermos retirado à nossa mãe talvez tenha sido a melhor coisa que lhe podia ter acontecido por isso foi o que deu força para a nossa mãe lutar por aquilo que amava e acreditava e acima de tudo aprender que não havia nada que a pudesse destruir enquanto tivesse os seus filhos ao seu lado.

Quatro dias.

Quatro dias foi o tempo em que a minha mãe ficou trancada no quarto esquecendo-se que tinha filhos para alimentar e um trabalho para comparecer.


Quatro dias foi o suficiente para eu perceber que o meu pai não voltaria e que agora cabia a mim ser o homem da familia.

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⏰ Última atualização: Sep 18, 2016 ⏰

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