Único

117 19 16
                                    

Meus sonhos estão sendo assaltados... um a um.

Ele é feio. Soturno como o vazio imenso do espaço. E ele suga; suga como uma dobra dimensional.

Meus sonhos estão sendo assaltados um a um. Espere... eu posso lutar; eu posso resistir.

Ele agarra mais um sonho meu e digo NÃO! Puxo de suas mãos o meu sonho com todas as forças que me são permitidas. Por quê? Por que ele quer meus sonhos? Enquanto puxo ele me soca entre as costelas. Me contraio um pouco, mas não desisto; continuo puxando intensamente.

Os seus grandes olhos opacos me encaram como um fuzil prestes a disparar. Bam! Recebo um golpe de cima para baixo na cabeça. Eu não resisto ao seu olhar e abaixo minha cabeça como um cão amedrontado- esse é o efeito desse olhar.

Eu quero correr e quero fugir, mas meus sonhos ainda estão sendo assaltados e não quero desistir. Mas minha cabeça está baixa, ele vê e adora. Recebo uma saraiva de coronhadas do assaltante de sonhos. Minha mente quer sair do corpo e deixá-lo lutando sozinho, entretanto, ainda em aflição, eu continuo a segurar ao menos este sonho. Sim, ao menos este sonho.

Um filete de sangue percorre meu rosto horrorizado. Percebo minhas mãos sangrando de tanto segurar o sonho que me é assaltado. Sigo recebendo socos e chutes. Me retraio de dor; de ódio. Estou com medo, muito medo do desconhecido, do intocável, do etéreo, do sombrio, mas ainda seguro meu sonho.

O assaltante parece enfurecido e puxa e chuta e soca e bate, esvaindo minhas forças. Ele gargalha de prazer, o meu opressor. Irritado, o olho nos olhos e, sob a visão daqueles olhos opacos, torno a abaixar a cabeça, mas não largo o meu sonho.

Por que ele quer este sonho? O último que me restou. Ele não já levou tantos? Por que este?

Sabe... talvez eu deva deixá-lo levar, pois não sei quanto tempo aguento. Estou fraco, pernas bambas, coração ribombando, vômito impedido; e continuo recebendo golpes, subjugado por um assaltante sádico. Ele tem uma arma, por que não atira?

Entre impactos olho para meu sonho, o qual agarro já sem forças; as mãos do assaltante também o seguram. Só então percebo que o sangue em minhas mãos não me pertence. Meu sonho está sangrando. Droga, ele está sangrando.

Um sentimento de revolta me atingi. Uma coragem renovada vinda da imensidão luminosa da minha alma. Eu o olho nos seus olhos opacos, ele me fuzila com o seu, eu não abaixo a cabeça.

O sonho é MEU! Ninguém vai tomá-lo! Ninguém. Ninguém!

Eu puxo meu sonho com força renovada e incomensurável. O assaltante me encara com os olhos e eu continuo a fuzilá-lo com os meus. Puxo mais forte e o assaltante vem em minha direção cambaleando. Enterro-lhe um soco poderoso em seu sorriso sínico, o qual vejo desfazer-se. O encaro nos olhos e neles vejo medo. Ele tenta puxar de novo. Agarro meu sonho com ambas as mãos e nele cravo minhas unhas. Sem opções puxo o meu sonho junto ao assaltante, ele vem em minha direção e lhe afundo uma cabeçada. Ele cai amedrontado. Com um suspiro aliviado eu guardo meu sonho no coração.

Agora sou eu que sorrio; um sorriso de vitória.

Vejo a arma caída e a pego, caminho na direção dele e aponto-lhe o revólver. O assaltante caído começa a tremeluzir em uma luz negra antes mesmo de disparar e some levando junto de si o medo que me assolava. Confiro a arma e vejo que nem balas ela tinha. Caio de joelhos e agradeço, pois resisti.

Junto ao meu coração está novamente o meu sonho. O mais importante. O que pode me ajudar a retomar todos os outros sonhos que me foram tirados. Junto ao meu coração está a personificação do Amor e de tudo o que é bom.

Junto ao meu coração está a vida.

"Qual o sentido da vida?
Em frente".

InfinitoOnde histórias criam vida. Descubra agora