Capítulo 4 - Princípios da Esperança

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   Cristian queria brilhar. Ambicionava iluminar o mundo com seu resplendor, ser aplaudido, aclamado e homenageado.Nas intermináveis noites de delírio, sonhava que era assediado pelas multidões à procura de um autógrafo e imaginava-se rodeado por lindas garotas. Via-se sorrindo para as câmeras, ofuscado pelos flashes e acenando para seus admiradores.Seu sonho aconteceu. Porém, o deslumbramento durou pouco. Foi uma estrela cadente tragada pela escuridão e consumida pela brevidade do tempo.Quantas estrelas como Cristian brilham nesta vida! Umas mais, outras menos. Aplaudidas, aclamadas, quase idolatradas. O tempo elimina seu brilho, e, às vezes, nem sequer sobram lembranças.A tragédia de Cristian foi achar que podia brilhar sem respeitar fronteiras e limites. Pensou que podia voar como águia, sem possuir asas, ou mergulhar durante horas como um golfinho, sendo apenas homem.- "Sou mais eu" - costumava dizer.E viveu sem respeitar as regras da vida. "Abaixo as proibições". "Cada um decide o que é bom para si." "Não faça a guerra, faça o amor." Enfim, proclamou a própria liberdade, mas acordou, numa manhã sombria, no leito de um hospital, sentenciado à morte, consumido pelo vírus traiçoeiro da Aids.

  Um dia, conheci o pai de Cristian. Adolfo era um cristão fiel. Aceitara Jesus na hora da dor. Abriu o coração a Deus, procurando remédio para o filho amado. Orou muito, clamou ao Senhor esperando um milagre. O próprio Cristian abriu o coração e, arrependido, pediu perdão a Deus pela maneira desastrosa como administrara a vida. Porém, a morte chegou implacável, cavalgando na garupa do tempo.Dois anos depois da morte do filho, Adolfo ainda se perguntava:- Por que Deus não restaurou a saúde de Cristian? Ele não é amor? Onde estão Suas promessas de perdão e redenção?Adolfo precisava entender a dimensão do caráter protetor de Deus. Ninguém ama como Ele. Os pais humanos cuidam de seus filhos pequenos e os protegem quando correm em uma rua cheia de trânsito ou próximos à linha do trem. Para as crianças, não existe perigo. Elas não têm consciência do risco. Por causa disso, os pais, com frequência, estabelecem regras: "Filho, aqui não"; "Ali é perigoso"; "Só pode brincar nesta área"; "Não cruze a rua sem olhar para os dois lados". Regras, entende? Elas não existem para coibir a liberdade. São, na verdade, uma expressão de amor. Os pais amam os filhos e, por isso, desejam vê-los crescer sãos e salvos. Anelam conservá-los seguros e protegidos.A mesma coisa acontece entre Deus e o ser humano. Levado pelo instinto, o filho cria problemas para si, e Deus, que o ama, estabelece regras para mostrar-lhe o caminho seguro com o propósito de evitar dores e sofrimentos. A lei é uma cerca protetora do amor de Deus.Constantemente, encontro cristãos maravilhosos que creem que os mandamentos de Deus foram dados para as pessoas do Antigo Testamento. Elas imaginam que as ordenanças divinas não se aplicam mais aos que vivem sob a graça. Por outro lado, existem cristãos que acreditam poder alcançar a salvação guardando mandamentos. Qual é o ponto de equilíbrio?O tema da lei e da graça parece contraditório. Porém, não é lógico colocar a Lei de Deus contra a Sua graça. Deus é o autor da lei e também da graça. E nEle não existe contradição.- Por que os adventistas falam tanto da lei? - perguntou Adolfo um dia, enquanto conversávamos acerca dos resultados da salvação na vida do cristão.

      - Não são os adventistas. É a Bíblia - respondi. - A lei é mencionada 223 vezes no Novo Testamento, enquanto a graça é mencionada apenas 184 vezes. Não existiria graça se não houvesse a lei. As duas nasceram na mente divina.- Como assim?- O apóstolo Paulo declara que "a lei foi introduzida para que a transgressão fosse ressaltada. Mas onde aumentou o pecado, transbordou a graça, a fim de que, assim como o pecado reinou na morte, também a graça reine pela justiça para conceder vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor" (Romanos 5:20, 21, NVI). A expressão "onde aumentou o pecado, transbordou a graça" precisa de alguma explicação adicional? A graça é a solução para o pecado.- Por que o pecado faria transbordar a graça?- Jesus morreu na cruz para salvar o pecador arrependido. O pecado manifestou a graça. Jesus jamais teria morrido se não existissem pecadores que precisavam da salvação. Isso é o que declara Paulo: "Porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, morreu a Seu tempo pelos ímpios. Dificilmente, alguém morreria por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém se anime a morrer. Mas Deus prova o Seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores" (Romanos 5:6-8). A existência do pecado demandou a graça.- Você está me confundindo - interrompeu-me Adolfo.- Porque eu disse que a lei e a graça são parte do mesmo evangelho? A explicação é simples. A lei tem o lugar devido, e a graça também. Não podemos confundir as coisas. A lei tem a função definida de mostrar o pecado. Não de salvar. "Visto que ninguém será justificado diante dEle por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado" (Romanos 3:20). Esse verso é claro: "pela lei vem o pleno conhecimento do pecado". Ninguém jamais será justificado pelas obras. A lei não tem a função de salvar. Quem guarda os mandamentos achando que está obtendo algum mérito para ganhar a salvação está completamente enganado. A lei não salva.- Então?- Ela só mostra o pecado. Paulo repete esse conceito uma e outra vez. "Que diremos, pois? É a lei pecado? De modo nenhum! Mas eu não teria.

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