Acordo com o despertador atrapalhando (mais uma vez) meus sonhos. Estava pouco acostumada com esse barulho soando e soando nos meus ouvidos todo dia de manhã há uma semana. Era bem mais convidativo quando a mamãe me chama para ir à escola. Mas há um mês ela e o papai foram viajar a fim de resolver negócios... E acabaram indo morar com o papai do céu... Então, por nossa decisão, eu e minha irmã Beatrice ficamos com Letty, nossa antiga babá, em casa.
Como sempre, fico com preguiça de levantar. O que há de errado com essa cama? Parece que ela tem um imã puxando meu corpo, que não permite que eu levante. Com toda falta de vontade do mundo, sento na cama e coloco meus pés no chão. Tenho a impressão de ter relado eles em gelo ou algo do tipo, mas percebo que somente me esqueci de colocar minhas pantufas de panda (as mais fofas possíveis). Coloco um vestidinho amarelo com flores rosas, vou ao banheiro e escovo meus dentes. Abro o armário para pegar (escondido) o gloss rosinha que era da minha mãe, e fecho para me olhar no espelho. Quase caio dura no chão ao notar que Letty estava encostada na porta me olhando.
- Que susto tia Letty!!! Quer que eu morra do coração? – Ela ri do meu espanto, chega mais perto e me da um abraço, faço um biquinho de brava ao notar que ela não estava nem se importando com a possibilidade de eu morrer.
- Calma mocinha, só estava vendo você encontrar onde eu havia escondido o gloss de sua mãe. Assim ela vai ver lá de cima e vai pensar que sou eu que estou usando as coisas dela. Empresta aqui. – ela toma de minha mão.
- Ei! – mas percebo que ela estava abrindo-o para passar em mim.
- Prontinho! – dou uma olhada no espelho e gosto do que vejo: uma menina com cabelos loiros lisos, pele clara e de tamanho não muito grande abraçada com uma mulher jovem, um pouco mais velha que minha irmã, cabelos ruivos e pele do mesmo tom que o meu. Ela vê meu sorriso no rosto e volta a falar, já satisfeita – Agora vamos descer para a cozinha e fazer como o combinado.
Descendo a escada já podia sentir o cheirinho de bacon vindo da cozinha que Letty preparava todo sábado. Ela poderia ser uma chef de cozinha. Sua comida era A MELHOR! Espanto meus pensamentos ao ouvir Bea saindo do outro banheiro da casa.
- Rápido, aja naturalmente. – digo baixinho à Letty, para Beatrice não escutar. Era aniversário de 17 anos de Bea, mas íamos fingir que hoje não possuía nada de diferente dos demais dias.
- Bom dia Letty! Bom dia mana! – diz com um sorriso de orelha à orelha, pegando um suco de caixinha na geladeira para beber.
- Bom dia Bea! – Respondemos em coro. Noto sua cara de decepção ao perceber que ninguém se "lembrou" do dia dela. Ótimo! Parte do plano em ação.
- Minhas amigas me chamaram para sair. – Ela aguarda a gente falar alguma coisa, provavelmente esperava que nós perguntássemos qual o motivo especial dela sair ás sete e meia da manhã. Mas logo percebe que não iriamos falar nada e dá um suspiro. Vira-se para Letty e volta a falar, secamente – Volto às 14h.
Quando a porta se fecha, vejo Letty piscar para mim. Nosso plano seria tentar "despistar" Bea de casa para prepararmos uma festa surpresa à ela. Já havíamos comprado as decorações e os salgadinhos. Ia ser bem simples, já que somente eu, Letty e Bea participaríamos.
***
Finalmente, as 13h07min, terminamos as decorações, sendo que paramos somente para almoçar. Estava tudo simples, mas tão lindo, que meus olhos brilhavam ao olhar ao redor.
- Carrie, vá tomar um banho e coloque sua melhor roupa, hoje nós temos uma festa!
Saí saltitando até o banheiro mais próximo do meu quarto, tomei meu banho e vesti meu vestido rosa com babados de bailarina (meu preferido!). Fui até meu quarto e peguei um desenho que eu havia feito para Bea, era simples, mas representava tudo o que eu sentia por ela... Eu amava minha irmã...
Desci até a cozinha e pude ouvir passos de fora de casa. Olhei para Letty, que me lançou o olhar de "agora ou nunca" dela. Pude sentir uma escola de samba dentro do meu coração. Então, finalmente, a hora de gritar "SURPRESA!" chegou...
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Espelho Negro
HorrorCarrie, aos seus 8 anos, sofre a perda de sua família, mas o que ela não sabe é que terá que ir morar em um orfanato afastado, onde, após uma "brincadeira" começa a presenciar acontecimentos paranormais...