10/01/16

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Comecei a escrever como fonte de desabafo, como procura de alguém que me ouvisse e não me julgasse pelo que sou e pelo que sinto.
Há dois anos que passo a vida trancada no quarto com as cortinas fechadas com medo dos vizinhos que poderiam ver as minhas lagrimas, o meu sangue, os meus pensamentos... há dois anos que vou para as aulas com insegurança mas com esperança de lá poder ter um pouco de tranquilidade, há dois anos que só adormeço com o som de música a abafar os gritos dos meus pais.
Há dois anos que não sou feliz e tudo começou com uma noite, com garrafas vazias na mesa, com risos que por uma ida se transformaram em gritos, em choros e numa nova maneira de viver... para ver quem mais tempo consegue sobreviver. Talvez a partida do meu irmão não tenha sido causada apenas por aquelas garrafas vazias mas também por todas as trocas feitas na escuridão que eu via quando acordava a meio da noite, por todo o cheiro no quarto dele, por todas as seringas escondidas... mas não fazia ideia que uma perda conseguiria mudar tanto as pessoas, o que uma perda conseguia fazer a toda uma garrafa cheia de risos.
Em vez de olharem para mim, abraçarem-me, esperar que eu não partisse por tanta culpa que sentia, os meus pais decidiram por a culpa um no outro, partir garrafas vazias que não foram partilhadas, de me trancar num quarto e não admitir nenhuma referencia à perda.
Já não havia luz na minha vida, já não tinha um lar em minha casa, já não tinha um caminho confortável por onde fugir.

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