1 - Seus olhos castanhos brilharam

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- Me fale sobre as suas amigas, florzinha.

Florzinha. Era desse jeito que meu psicológico me chamava desde meu primeiro dia de consulta. Eu estava usando um vestido repleto de flores amarelas de crochê, e isso chamou sua atenção.

- Minhas amigas estão bem. Acho que vou encontra-las hoje...

- Isso é ótimo! - Ele ficou surpreso. Não era todo dia que algo assim acontecia.

- É, sim - Respondi, com um sorriso singelo no rosto.

- Para mim, parece que está tudo perfeito, Elle - Seus dedos mexiam em papeis recheados de anotações sobre mim.

Eu estava a ponto de fingir um desmaio durante a sessão. Cheguei a conclusão de que meu doutor não queria realmente me ver curar, ou melhor, não queria esperar para constatar o sucesso.

O problema era que o sucesso ainda não havia chegado. E ele deveria se sentir bem, porque quanto mais triste eu ficava, quanto mais precisava dele, mais dinheiro o velho poderia arrancar de mim, a pobre coitada.

- Tudo bem... - de ombros encolhidos e pés balançando, pendentes sob uma poltrona verde grande demais para mim, aceitei o prognostico que ele me deu mais uma vez. Umedeci os lábios e ergui o olhar - Nós vamos nos encontrar na próxima semana?

- Isso vai depender muito - Suas mãos rapidamente procuraram pelo gravador antigo, espalhando todos os papeis que tinha arrumado em busca do aparelho para finalmente encontra-lo dentro de uma gaveta - está pronta para falar sobre o que aconteceu com você? - Seus olhos castanhos brilharam.

Ao ouvir a pergunta rotineira, eu tive a mesma reação de sempre. Engoli em seco e balancei a cabeça negativamente.

A maior parte do tempo, Augustus Sulivan tentava arrancar de mim suas verdades e pensamentos. Por um lado, porque era o seu trabalho, mas observando por outra perspectiva, era claro que do que ele mais gostava era de uma bela fofoca para comentar com os amigos do trabalho. Mesmo que tenha feito um juramento de silencio. Não importava.

Eu descobri isso quando cheguei ao seu escritório uma hora mais cedo, no dia em que falava de mim para estranhos.

- Bom, então espero que sim - Ele disse por fim.

Ergui-me da poltrona de couro com certa dificuldade devido a sua altura. Limpei o suor das mãos e estendi para o velho grisalho.

Para sair do consultório seria outro sofrimento, tinha certa dificuldade em abrir a maçaneta arredondada da porta. Por sorte, não foi preciso nesse dia.

Toc Toc! Alguém bateu e abriu logo em seguida.

Poderia brigar ou fazer cara feia para a pessoa que entrou por empurrar-me contra a porta ao abri-la, mas o que aconteceu foi o contrário disso.

O jovem que entrou no consultório, na verdade, fez meus olhos castanhos brilharem de curiosidade.

- Ahn... Como vai? - eu disse. Estava tentando ser gentil.

- Eu vou bem, Elleanor. Já pode ir - O Sr.Sulivan respondeu no lugar dele enquanto organizava alguns documentos.

Tatuagens cobriam todo o corpo atlético do garoto-homem como uma obra de arte ambulante. Os olhos claros invadiram minha alma, e pareciam analisar-me por completo. Ele não disse - ou precisava dizer - absolutamente nada até aquele momento, somente seu silêncio já era avassalador.

Ele parou no meio da sala, com as mãos enterradas nos bolsos da jaqueta jeans. Olhou por alguns segundos para o doutor, e depois para mim.

- Você pode ficar se quiser - O rapaz finalmente abriu a boca. Sua voz encaixava perfeitamente ao visual.

Percebendo a deixa, saí do cômodo. Andei de modo ritmado até saída, ignorando a moça da recepção que a encarava de modo piedoso - o que só alimentava minha teoria do quanto meu doutor tinha a língua comprida.

E essa foi a primeira vez que ouvi a voz de Ash Stymest.

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⏰ Última atualização: Aug 19, 2017 ⏰

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