Pequena Mulher.

Parte 1.

Tenho trinta anos.

Como é que dizem mesmo? Ah, claro, trinta é a idade do sucesso.

Com certeza é a idade do sucesso, visto que estamos falando de ninguém mais, ninguém menos do que eu, Pandora WestWick.

Uma grande mulher. Uma profissional conhecida e renomada. Uma mulher amada por tudo e por todos ao seu redor.

— Eu quero. Eu posso. Eu consigo. — murmurei para mim mesma, ao analisar meu lindo reflexo no espelho. — Você está divina, Westwick!

Abro um sorriso satisfeito nos lábios.

— Posso te contar um segredo? — sussurro baixinho, chegando mais perto do enorme espelho à minha frente. — Você tem trinta, com carinha de quinze.

E gargalho. Gargalho o mais alto que meus pulmões permitem.

— Hoje é o seu aniversário e todos vão te lembrar do quão amada e admirada você é. Você é demais, Pandora! Você é A garota!

Encaro, pela última vez, meu reflexo. Jogo meus cabelos loiros para o lado e faço meu carão de sempre.

Estou pronta. Estou pronta para o melhor dia de toda a minha existência.

*👧🏼👩🏼👧🏼👩🏼👧🏼👩🏼*

Minha primeira parada é na casa de Julie. Ela é minha melhor amiga há muito tempo. Julie e eu somos parceiras de todas as horas.

Toco a campainha e estampo meu melhor sorriso.
Espero alguns segundos e... Nada.

Tudo bem, ela deve estar dormindo, como de costume. Tudo que preciso fazer é tocar a campainha de novo.

E eu o faço. Mais uma vez. E outra. E outra mais.

E, finalmente, após tantas tentativas a porta se abre.

Sorrio. Mas espere, não é Julie...

— Pandora? — Reymond murmura sonolento.

— Onde está a Julie?! Eu pensei que...

— Julie está no banho.

— E ela vai demorar?

— Bem... — ele coça a nuca. — Possivelmente, Pandora.

— É que hoje é...

— Ah, eu sei. Ela me contou.

Abro  um sorriso enorme.

— Ela ainda não fez o relatório que mandou, mas... — franzo o cenho. — ela disse que te liga a noite para falar sobre alterar o prazo de entrega.

— Relatório? Do que está falando, eu...

— Hoje é o dia da entrega do relatório, não?

Minha vontade é de socar a cara do ser que está bem na minha frente.

— É. É isso mesmo, Reymond. Pode dizer a Julie para ser mais rápida quanto a isso? Quando eu peço uma coisa, espero um retorno rápido, tudo bem?

— Certo. Eu direi a ela.

— Fico grata.

Reymond abre um sorriso amarelado e eu rolo os olhos. Rapidamente ele fecha a porta e eu fico ali, parada.

Julie é minha melhor amiga. Melhores amigos não esquecem sua data de aniversário, não é mesmo?

Parece que alguém precisa rever alguns conceitos sobre amizade, Pandora.