Parte 2.

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A casa de meus pais permanecia da mesma forma que sempre foi.

Simples, porém sofisticada.

Talvez a única diferença fosse os brinquedos jogados por todo o tapete.

Certamente eram de meus sobrinhos, os quais eu nunca vi pessoalmente. E não por falta de tempo, acredite.

Continuei minha trajetória pela casa e ao subir os degraus que levavam até os quartos, fixei meus olhos no quarto do final do corredor.

Meu antigo quarto. Meu quarto.

Hesitei, por alguns segundos, em ir até lá.

— Vamos, Pandora. Vamos.

Tentei me encorajar e, felizmente, deu certo. Em poucos segundos eu estava ali, estática, segurando firme na fechadura, esperando a coragem chegar e me fazer entrar ali, após tantos anos.

Suspirei fundo. Eu consigo. Eu consigo.

Num ato rápido, abro a porta e abro os olhos velozmente.

Meu coração aperta dentro do peito. Meu quarto ainda era... Meu quarto?

Pronto. De novo a cachoeira resolveu brotar em meus olhos.

— Merda. — murmuro em meio há soluços estrondosos. — Que merda é essa, Pandora?

Sinto um arrepio percorrer todo o meu corpo e, no exato momento em que giro meu corpo para encarar a porta de meu quarto, vejo alguém parado, os olhos fixos em mim.

— Que por...

— Que boca mais suja, Pandora!

Uma voz fina agonizante soa e tudo que eu faço é gritar.

Muito alto.

O mais alto que consigo. E não sou a única a fazer isso.

— Q-Quem é você? Vá... Vá para a luz, coisa ruim!

Coisa ruim? — Vejo que é uma criança. Uma criança extremamente familiar. — É, talvez sejamos mesmo.

Sejamos?

— É, tendo em vista que eu sou você, se está dizendo que eu sou uma coisa ruim, automaticamente está dizendo isso de si mesma.

— Você... O que?

A garotinha baixinha tenta andar na minha direção, mas eu recuo.

— Eu sou você, Pandora. Até parece que você não sabe.

— Não, eu não sei. — digo nervosa.

— Você está pálida. Parece até que viu um fantasma.

— É porque estou olhando pra você.

— Eu não sou um fantasma! — ela berra, irritada. — Eu sou você!

— Como você pode ser eu, se eu sou eu e eu estou bem aqui?

A garotinha franze o cenho.

— Que vergonha de ser você. — ela murmura descrente, revirando os olhos em seguida.

— Eu... Olha só, eu...

— Eu sei que está assustada. Não é todo mundo que vê sua própria versão de quando era criança, tá legal? — ela fala cheia de si. — Mas se eu estou aqui, é porque você precisa de mim.

— Não. Eu não preciso de você.

— Se não precisasse, eu nem estaria aqui.

— Olha só, isso é um pesadelo. Com certeza é. Meu dia está sendo terrível nesse pesadelo, mas eu vou me beliscar e a realidade virá à tona. — sorrio satisfeita. — Ótimo. Um... Dois... E...

Pequena Mulher.Onde histórias criam vida. Descubra agora