Isabel sempre fora a mais linda da cidade. Cobiçada pelos rapazes solteiros e invejada pelas outras mulheres, desfilava com vestidos da última moda, que demonstravam o desenho de corpo perfeito. A cintura moldada pelo espartilho era seu maior orgulho, já que nenhuma outra tinha sua silhueta.
Numa noite, porém, seu reinado caiu. Chegara à cidade a sobrinha de um distinto cavalheiro e para recebê-la foi organizado um jantar.
A família de Isabel fora convidada e ela se arrumou com esmero, contando com os elogios que viriam.
Mas, naquela noite, todos os comentários pertenceriam à recém chegada. O vestido, o cabelo, a pele clara: tudo rendeu exaltação. No entanto, nada irritou mais Isabel do que os dizeres sobre a cintura mínima da moça.
Tão logo chegou à sua casa, pôs-se a pensar sobre o que faria para tomar de volta o seu posto. Ela própria tinha todas as características que faziam uma jovem mulher bonita, não fosse a cintura, que devia dar duas vezes a de sua concorrente. Faria algo a esse respeito na manhã seguinte.
A criada chegou para ajudá-la a se vestir tão logo o sol nascera, e Isabel ordenou que apertasse o espartilho mais que o habitual.
Satisfeita, foi tomar a refeição da manhã e teve sua alegria minada pela conversa que os irmãos tinham a respeito da estrangeira. Não bastasse, avistou a moça circulando pela rua com sua cintura e os suspiros dos que observavam.
No outro dia mandou a criada apertar ainda mais o espartilho. E mais no terceiro, no quarto, no quinto e no sexto dia depois do banquete.
Quando o sétimo dia chegou, pediu que a peça fosse mais apertada. A empregada hesitou, disse que não era possível, mas a senhora mandou calar e apertar. Assim foi feito, até que a moça soltasse um grito agudo e assustador.
A serva parou e a senhora mandou continuar. Não via que ela estava feia?
Os laços foram puxados e puxados, e a Isabel refreava os gritos, as lágrimas, a dor. Sua serviçal sentia lágrimas chegarem aos olhos enquanto realizava a tarefa e puxava, apertava...
Por fim, Isabel soltou um uivo horrível que morreu ao meio, com ela, sem ar pra se manter.