Na delegacia pela primeira vez

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O Wesley tinha me dito que sabia dirigir, aí então eu peguei uma chave mixa emprestada com um colega do morro, e neste dia meu pai estava passando a noite na fila do posto de saúde, para marcar uma consulta, eu e o Wesley fomos com ele, por volta das 22 horas saímos dali para andar um pouco, e meu pai continuou naquela fila, andamos por algumas ruas até que passando por uma rua quase deserta decidimos tentar abrir um carro que estava estacionado por ali, nos aproximamos do carro e tentarmos abri-lo, um homem que passava por aquela rua caminhou em nossa direção, nesse momento saimos de perto do carro e fomos para a calçada, de repente ele sacou uma arma e disse:
- Podem parar os dois aí, aqui é policia!
Rapidamente joguei a chave por um portão de grade que tinha ali, mas o policial ouviu o barulho da chave quando caiu ao chão, e começou a nos questionar:
- O que vocês jogaram ali? Anda me diz, o que vocês jogaram ali?
- Não jogamos nada! Eu dizia.
Até que ele chamou a mulher que morava naquela casa, e ela veio com uma lanterna e achou a chave e entregou para o policial, ele ficou muito nervoso por eu ter mentido, aí nos colocou sentados no chão e algemados um ao outro, e começou a nos agredir com chutes na costela.
Ficamos ali apanhando até a viatura chegar.
Nos colocaram no porta-malas da viatura, e passaram no posto de saúde, onde meu pai esperava cansado para marcar uma consulta, para dizerem a ele que seu filho estava sendo apreendido por tentativa de roubo.
Ao chegarmos na delegacia, não queriam deixar nós dois juntos, e por isso o Wesley ficou numa cadeira junto com meu pai, que deixou a marcassão de consulta pra outro dia, e me colocaram numa celinha que ficava no fundo da delegacia, que é chamada de corróu.
Nesse corróu o mal cheiro tomava conta, e eu estava sozinho ali, então procurei um lugar seco e deitei, até que colocaram um outro cara lá junto comigo, e quando esse cara entrou na cela foi dizendo pra mim sair de onde eu estava para ele deitar ali, não fiz nada nem disse nada, fiquei parado esperando ele vir pra cima de mim, eu estava pronto para brigar, mas parece que ele percebeu que eu não estava com medo dele e se acomodou num outro canto seco que tinha por ali, poucos minutos depois começamos a conversar, e falamos sobre o motivo pelo qual estavamos ali, e ficamos conversando ali naquela cela fria até a hora em que fui chamado para conversar com o delegado e fui liberado pois eu era menor de idade.
   Nunca voltei a ver aquele cara que estava na cela comigo.
   Voltei para casa e minha mãe falou demais comigo, mas não me lembro se eu apanhei.

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