Suspiro. É a terceira noite seguida que passo em claro. Não apenas minha noção de dever, mas também os xingamentos e gritos que ecoam exageradamente pelas paredes frias e repletas de mofo, me proíbem de fechar os olhos. Apesar da exaustão e dor de cabeça que os gritos me proporcionam, devo admitir que despertam em mim uma pontada de felicidade e extremo prazer. Não que aquele homem em si seja capaz de despertar algo em mim, mas o estado em que ele se encontra, suas súplicas por misericórdia, o sangue que escorre de sua boca e pinga lentamente sobre seus braços, seus olhos que buscam falha e desesperadamente em meu olhar indiferente alguma gota de piedade. Isso é... Excitante.
— Irei perguntar de novo: Quem mandou você? - A voz grave de Namjoon ecoa pausadamente entre os intervalos dos gritos. Ele se mantinha calmo, no entanto havia um sutil, porém amargo tom de impaciência em sua voz.
Sem obter respostas, Namjoon suspira vagarosamente até que, por fim, as paredes encontram novamente o som grave de sua voz:
—Amor? Continue...
Súplicas intensas por misericórdia, gritos e ranger de dentes soam cada vez mais alto enquanto Jin se aproxima. Compreendo seu desespero e não o culpo por isso. Eu não gostaria de estar em seu lugar, a mercê de um dos homens mais cruéis de Seul que já conheci.
Jin caminha com passos firmes, porém relaxados até o homem, enquanto ouve sua falha tentativa de parecer firme escapar em tom agressivo por entre seus dentes semicerrados:
— Vocês não fazem idéia do que ou com quem estão fazendo!
Uma falsa e cínica expressão de empatia surge no rosto de Jin.
— Você possui olhos, querido, mas não consegue enxergar a situação na qual se encontra. - Seu tom de voz quase consegue me fazer pensar que está com pena do homem. Porém eu sei que, mais do que qualquer um de nós, Jin está realmente se divertindo.
— Olha só que divertido... vou poder arrancar seus olhos! Ah, não me olhe com essa cara, vou ter fazer um pequeno favor, te livrando de algo inútil. Afinal, quem precisa de olhos se eles não podem enxergar?
A cada passo que dá, ouço o tilintar dos objetos pontiagudo que Jin carrega em seu jaleco branco, que agora está sujo e fétido de sangue podre. A medida que vai se aproximando mais e mais do homem, Jin enfia vagarosamente uma de suas mãos no bolso, e ao invés de bisturis ou facas, ele retira um pequeno garfo de sobremesa.O homem se agita na cadeira desesperadamente como se estivesse tendo um ataque convulsivo, enquanto Jin abre um de seus olhos com dificuldade. Ele chacoalha a cabeça bruscamente e grita como se isso fosse capaz livrá-lo das mãos de Jin. Porém já é tarde demais, Jin o contém e enfia de maneira impiedosa o pequeno garfo em um de seus olhos, fazendo o sangue esguichar em seu rosto, enquanto ele sorri de maneira doce.
Logo em seguida, retira o garfo do globo ocular e o limpa em sua jaqueta, como quem limpa um garfo sujo de bolo. Enquanto o homem crava suas unhas na cadeira, fazendo seus dedos sangrarem e se encherem de farpas, Jin retira de seu bolso um bisturi, e, olhando fixamente no olho que ainda resta, Jin molha os lábios e pergunta:
— Que tal se eu te livrar das orelhas também? Já que você parece não ouvir as perguntas.
Antes de obter uma resposta do homem que agoniza de dor, Jin começa a cortar a sua orelha esquerda com movimentos bruscos de serra. Porém antes de terminar, Namjoon percebe a sua empolgação e o interrompe, sabendo que se não o fizesse, Jin mataria o homem antes mesmo de obter uma resposta.
— Amor, espere!
Jin o olha de maneira frustrada, porém não contesta sua ordem.
— Está é a sua última chance e será a última vez que irei perguntar: Quem mandou você?
Nada. Nenhuma resposta do homem, que apenas fita seus pés descalços e molhados de sangue no chão frio, pois não consegue sequer olhar nos olhos de Namjoon.
De repente, Namjoon se levanta de sua cadeira e caminha em direção ao homem que não ousa respirar. Com uma de suas mãos, Namjoon levanta o rosto do homem de maneira suave e tranquila, e obriga o seu agora único olho fitar os olhos frios de Namjoon.
— Que indelicadeza a minha, não acha? Te fazendo perguntas sem ao menos saber o se nome.
— S-Suk - As palavras saem de sua boca como um suspiro, sua voz está trêmula e fraca.
— Sabe o que todos os homens do mundo têm em comum, Suk? Se tivessem que escolher salvar alguma parte em seu corpo, todo e qualquer homem na terra escolheria a mesma coisa, a que lhes é mais preciosa. Jin pode dizer isso com propriedade, pois já fez muitos homens implorarem pela preservação do mesmo.
Ainda fita os olhos de Namjoon e não ousa sem quer piscar.
— Se não me responder agora, não só sua orelha direita como seu amigo no meio das pernas também será bruscamente arrancado. Eu o faria de maneira rápida, mas não posso responder pelas ações de Jin. Ele é um pouco mais... Excêntrico. Acredite, nada do que sentiu até agora se compara a isso.
Sua voz e suas palavras soam de uma maneira tão calma que me assusta.
Namjoon espera alguns segundos, mas sem resposta, olha para Jin que logo entende e sorri, se preparando para a diversão.
— Eu só o conheço como Jun! - gritou de repente quando viu percebeu o malicioso de Jin e as mãos suas mãos se voltarem novamente para dentro do bolso de seu jaleco branco.
— Quem é Jun? - Perguntou Namjoon um pouco confuso. Nunca tinha ouvido aquele nome.
— N-Nunca cheguei a vê-lo realmente, mas sei que é o braço direito do chefe.
Ao ouvir aquilo, sabia que já tinha acabado, estava na minha hora.
Me aproximando do homem, abro meu canivete e o coloco em sua garganta. Levo a minha boca até os seus ouvidos e sinto sua pele arrepiar enquanto sussurro vagarosamente:
— A gente se encontra no inferno...
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My Happy Litte Pill
FanfictionNão o amava, não me permitia amá-lo. Como poderia amá-lo sem o machucar? Como poderia amá-lo se qualquer resquício de humanidade que me restava se foi gradualmente a medida que eu ingeria cada uma daquelas paralelas linhas brancas? Pouco à pouco, me...