SOLIDÃO
Era um domingo como qualquer outro, onde nada de especial acontece. Ela estava deitada em sua poltrona, vendo tevê. Ou, mais propriamente falando, zapeando pelos canais, por não haver nada de interessante no aparelho. O relógio marcava vinte horas quando o telefone tocou, assustando-a por um instante.
''Quem pode ser à esta hora?'' -pensou enquanto esticava a mão para pegar o fone.
''Alô...''
''Alô; desculpe-me incomodar mas eu precisava muito falar com você.''
Ela tentou adivinhar quem estaria falando, mas, definitivamente aquela voz lhe era estranha. Porém, era uma voz muito tranqüila e gostosa de se ouvir, além de possuir um certo magnetismo.
''Quem está falando?''- arriscou como resposta -''Eu acho que não lhe conheço.''
''É verdade... certamente você não me conhece. Mas eu presto tanta atenção em você quando lhe vejo pela rua, que não seria nenhum exagero dizer que eu estou apaixonado. Não seria nenhum exagero dizer que eu estou fascinado por sua beleza. Pelo seu jeito de andar...''
''Desculpe-me, mas como eu disse, eu não lhe conheço, então eu vou desligar.''
Mas ela sabia que não desligaria.
Não, pelo menos, enquanto aquela voz suave e sedutora estivesse soprando aquelas palavras que a faziam sentir-se tão envaidecida.
E ele continuou:
''Por favor, não desliga... Já foi tão difícil eu criar coragem para ligar e dizer as coisas que eu estou lhe dizendo...''
''Ah, mas até que você não está se saindo tão mal, para quem precisou tomar coragem...''- rendeu-se por fim.
''Então... Me deixa falar com você só mais um pouco. Melhor ainda: 'deixa-me ouvir a sua voz.'''
Ela ficou calada. O bastante para ele deduzir que poderia avançar um pouco mais na conversa:
''Olha, eu sei que você está sozinha à um bom tempo, e que não está interessada em novos relacionamentos; então me deixa ao menos falar pelo telefone. Me deixa ao menos ouvir um pouco a sua voz...''
Era verdade... Ela já estava sozinha há quase um ano. Desde que havia des-coberto que seu namorado estava transando com aquela, que ela considerava a sua melhor amiga. Mas como este estranho sabia disto? Talvez fosse algum conhecido, ou talvez, até mesmo o seu ex que, decerto arranjou alguém para lhe pregar alguma peça. Então, pensando assim, ela resolveu entrar na brincadeira:
''É verdade. E você sabe por quê eu estou sozinha há tanto tempo, meu simpático estranho?''
''Opa, opa... eu já estou tendo progresso. Já consegui me tornar simpático... Mas eu sei sim porque você está sozinha. É que o seu namorado era um idiota, e lhe trocou por uma outra, que não tem a metade do seu encanto.''
Ela gostou do idiota. Mas ainda era pouco para a mágoa que guardara por tanto tempo:
''Não, ele não era só idiota, não. Ele era muito frouxo também. Ele já não me dava uma noite de prazer intenso muito antes de eu descobrir que ele estava me traindo.''
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PALAVRAS SUJAS AO PÉ DO OUVIDO (contos)
Short StoryAlguns contos com a humilde intenção de serem eróticos...