Untitled part

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Eramos duas lagartas. Tínhamos as mesmas cores, gostávamos das mesmas coisas, eramos feitas uma para a outra, nos amávamos. Todos nos invejavam, viam que eramos perfeitas, nos dávamos tão bem... 

Um dia, havia chegado a hora.. A hora da famosa mudança, viramos casulos. Não nos preocupava o que nos tornaríamos, nós acreditávamos que nosso amor era fiel.
Então chegou o grande dia, o dia que iriamos nos reencontrar, estávamos ansiosas. Você chegou primeiro, branca como a neve, cheia de alegria, orgulho e esperança. Agora, era chegada a minha hora, mas quando cheguei, era como se o sorriso estivesse saído de seu rosto... Eu era escura como a noite. Cheia de dor, tristeza e solidão. 

Quando eu pensava que ela iria me cumprimentar, dizer o quanto sentiu a minha falta, o quanto ela me queria de volta, ela me enojou e foi embora, abandonando o que antes ela tinha de mais especial, o que antes significava tudo.. Ela foi embora, pra ficar com outros iguais a ela.

E então eu fiquei la, sozinha, esperando, com esperanças que ela iria voltar, que iria pedir desculpas, que iria ser como era antes.. Mas ela não voltou. Ela, infelizmente, não aceitou nossas diferenças.

Então la estava eu, uma linda borboleta preta, voando sozinha. A unica coisa que sobrou foram belas lembranças que só traziam mais tristeza. Eu causava espanto por todo lugar que passava, era rejeitada todo tempo, ate que um dia cansei de voar. Parei em um lugar distante, longe de tudo e de todos, onde poderia me esconder entre a neblina de minhas próprias sombras. Ninguém sentia minha falta, ninguém perguntava se eu ainda existia, ninguém mais se importava. Nem mesmo aquela que tanto me amava. Ela preferia amar outra do que amar alguém como eu.

De longe eu via o quanto as borboletas amarelas eram alegres juntas, o quanto as verdes eram fortes, o quanto as azuis eram inteligentes, o quanto as vermelhas se amavam e o quanto as brancas se davam bem. Por um momento as invejava, queria ser que nem elas. Mas não me arrependia do que havia me tornado..
Era raro encontrar outra borboleta preta como eu, na verdade.. não existia, então tive que aprender a viver com a solidão. 

Depois de um tempo, deixei a escuridão e sai para explorar o mundo. Vi muitos lugares bonitos, deslumbrei novos horizontes e diversas maravilhas da natureza, corri grandes perigos, e vi que a felicidade não dependia de outra borboleta.. mas sim de mim mesma. Eu podia ser forte, eu podia ser inteligente, amar e ser feliz, só bastava.. acreditar!

Quando voltei para onde eu chamava de casa, nada havia mudado. Não procurei chamar atenção nem fui atras de ninguém, voltei pra minha escuridão e agradeci por ser aquela bela borboleta preta. Por que eu era diferente, eu era cheia de sonhos e apesar de tudo, conseguia me sentir viva. Fui enganada, traída, trocada, abandonada, mas por um lado não me importava mais. Na verdade eu não tinha nada de ruim, estava disposta a dar amor, a fazer feliz, a trabalhar, a ajudar, mas ninguém me aceitou do jeito que eu era. Eu não tenho culpa, por um lado eu amo minhas asas negras. Com elas pude voar onde ainda ninguém foi, pude sentir o que ninguém sente, pude ainda ver o que ninguém vê. Estava orgulhosa de mim mesma.

Por trás dessas asas negras havia um coração cheio de luz.  

A história das duas borboletasOnde histórias criam vida. Descubra agora