"Meu nome é Ismael, me dando conta que meu porta moedas estava vazio,resolvi voltar a navegar.
O meu Primo Gabe, possui seu próprio navio, e me convidou para ser seu escrivão. Já que partirá em uma busca pela terrível fera do mar. Uma maldita baleia albina, que há muitos anos atrás, arrancara sua perna esquerda. Como a saúde ha muito me abandonara, não tenho serventia alguma trabalhando no convés. Por esse motivo, irei relatar sua maior aventura, neste livro de notas que Ana me deu. Estou por muito ansioso para que zarpemos, e antes que eu me esqueça, hoje é 18-03-1789. Sexta feira, e está quente como o diabo.
"19-03-1789. Sábado. Gabe e eu fomos encontrar alguns de seus velhos tripulantes. A maioria estava caída em bares ou deitada entre os porcos. Alguns aparentavam ser apenas bêbados ou vagabundos, mas Gabe confia neles com sua vida então eu também devo confiar. Meu primo não parece se importar que eu esteja escrevendo mesmo antes de zarparmos, pois sabe que é uma maneira de me lembrar de minha doce Ana. Deus sabe quando vou vê-la outra vez"
"19-03-1789 Mais tarde. Depois que convocamos a maioria da velha tripulação, fomos inspecionar o navio de Gabe, o Gabriel's fly. O navio não está em condições miseráveis, mas admito que gostaria de navegar em algo que não fosse completamente remendado. A nossa missão não é apenas matar a baleia, mas também devemos levar algumas mercadorias para o oriente. Um conhecido de Gabe está pagando 30 moedas de ouro para que levemos seu conteúdo até o cais de Londres, e foi bem claro para que não o abríssemos durante o caminho. Muitos outros nobres, vieram nos falar, solicitando que levássemos suas mercadorias e não fizéssemos perguntas. Em outra ocasião isso seria deveras estranho. mas pelo valor que estão nos pagando,eu levaria essas mercadorias até a borda do mundo, e tomaria um chá com o próprio leviatã.
Ana, meu amor, quando eu regressar dessa viagem terei dinheiro o bastante para comprar uma casa em Dunwich, como você sempre quis. Parece que a sorte está virando a meu favor.
Por volta das 18h estava indo com Gabe para uma loja de penhor. Ele iria penhorar seus moveis para comprar alguns barris de rum e alguns suprimentos, e se o homem quer beber não serei eu a impedir. quando saímos da loja de penhor, fomos levar os recém comprados barris de rum para o navio.Depois que depositamos,ficamos sentados na frente do barco, conversando e bebendo. Até que um garotinho um tanto estranho passou com a mãe. ele correu em minha direção, e perguntou se o navio iria para Londres. Surpreso com a exatidão do menino, eu confirmei que sim. Ele então tirou um pequeno pacote do bolso e me entregou, pediu para que levasse para seu pai, um dos fundadores da recém-inaugurada Universidade de Miskatonic. Eu prometi que sim, enquanto o menino era levado pela mãe.
Gabe aparentemente não gostara muito, mas como ficaríamos em Londres por duas semanas, era tempo mais que suficiente para agradar o garoto.
"20-03-1789 Domingo Zarpamos com as bênçãos dos Deuses e dos ventos. Os homens de Gabe eram muito eficientes, em menos de vinte minutos o navio estava pronto para que partíssemos. Guardei o pacote que o menino me deu, junto de minhas coisas e uma duvida me abateu: como saberia quem é o pai do garoto, se nem ao menos perguntara seu nome. Mas essa era uma duvida que eu poderia deixar passar. Estou muito feliz de estar aqui, pois ha muito eu não navego. Os ventos marítimos fizeram muito bem para meus pulmões, acostumados a fumaça e aos vapores típicos da cidade."
“21-03-1789 Segunda feira Maldito seja Baco, ou Dionísio, ou qualquer que seja a deidade dos vinhos. Pois quando estava bêbado na noite de ontem, fiz a estupidez de mostrar meus relatos aos outros membros da tripulação. Agora Gabe quer ter uma conversa seria comigo.”
"Dito e feito, ele leu todos os meus relatos e agora quer que eu escreva apenas da maneira como ele acha melhor, para que isso não seja um relato naval, e sim uma epopeia onde ele é o personagem principal. Estou quase ultrajado."
"22-03-1789 Terça feira O grandioso Capitão nos guia pelos sete mares, o vento balança seus cabelos e o sol ilumina sua testa. Destemidamente nos levando para riquezas imensuráveis, e para a gloria de uma bela e poética, vingança."
"até quando terei que escrever este tipo de asneira para que Gabe me deixe em paz? meu relato cientifico é de longe muito mais sensível, pois é nada mais que a verdade. Não um emaranhado de palavras jogadas para enaltecer o ego de um homem. não estou mais com vontade de escrever rotineiramente. Agora, apenas espero pelo anoitecer para beber com a tripulação."
"29-03-1789 Domingo Já faz um tempo que não escrevo, mas hoje eu não pude evitar. Enquanto todos estavam se recuperando da bebedeira na noite anterior, eu vi algo se movendo ao lado do barco, a principio pensei que fosse a maldita baleia, mas era algo muito maior. Particularmente estou com medo de todas as velhas histórias de serpentes marinhas.
“E trago ainda uma triste noticia: o Rum acabou, e nem estamos na metade do caminho. Algo me diz que essa viagem será muito longa."
"31-03-1789 Quinta feira Estou escrevendo isso, mas que Deus me perdoe. Se qualquer membro da tripulação ler o que irei escrever, me lançará ao mar. Sem Rum, os marinheiros esperam Gabe dormir e começam a abrir as mercadorias que nos pagaram para proteger, e buscam por bebidas, ou comidas finas. Somente nesses últimos dias, acabaram com mais de 15 garrafas de vinho nobre que iam para um famoso restaurante londrino. Anotarei ao fim deste volume, tudo o que foi subtraído de seu estado original e contatarei os donos. Fomos pagos para transportar, não roubar."
"01-04-1789 Sexta feira MALDITO SEJA GABE, E MALDITO SEJA EU POR TER VINDO EM TAL EMBARCAÇÃO. DESCOBRI HOJE QUE GABE SABIA QUE SEUS MARINHEIROS ESTAVAM FURTANDO AS MERCADORIAS, E COMPACTUA COM ELES. HOJE ELES PRETENDEM ABRIR O CAIXOTE ENDEREÇADO A LONDRES. IREI COM ELES PARA VER, APENAS POR CURIOSIDADE. RAIOS ME PARTAM, RAIOS PARTAM TODOS."
“a partir de agora, meu relato pode aparentar ser um pouco fantasioso, mas acreditem quando digo que essa foi a total procedência dos fatos”. Todos os marujos se juntaram ao redor do imenso caixote de mogno para tentar abri-lo. Mesmo com muita tentativa, ninguém foi capaz. Quando estava começando a sentir uma ponta de alegria por eles não concretizarem o roubo, um marujo conhecido como bagre, chega trazendo consigo um pedaço de aço partido, afirmando que consegue abrir o caixote. Acontece que o infame, realmente conseguiu. Depois de varias tentativas, forçando a barra de aço contra o caixote a tampa finalmente se desvencilhou. e acreditem quando digo que o maldito caixote estava vazio, completamente vazio. Frustrados os homens o abandonaram e foram abrir mais caixotes. Depois de certo tempo eu me aproximei do caixote e o analisei. Para minha surpresa, lá dentro havia um pequeno papel, e nele estava escrito “Caixote um de quinze.Parte do sistema do Doutor Alcatrão e Professor Pena. Se você
foi o coitado que teve o infortúnio de abrir esse caixote,sinto lhe informar que terá uma morte bastante dolorosa. “Uma morte bastante dolorosa?” o que quer que estivesse lá dentro já tinha se ido embora há muito tempo. Mas por alguma razão aquilo muito me perturbou. Peguei o papel e o mostrei a Gabe, que já estava bêbado e ameaçou me atirar no mar se eu continuasse a dizer tolices. Cansado demais para debater vim para o meu quarto, onde tenho certeza que pude ver a criatura ao lado do barco mais uma vez.
"02-04-1789 Sábado Não aconteceu nada de anormal, além de fato de que vi muitos tripulantes vomitarem, o que é estranho, vindo de pessoas que passaram pelo menos, metade da vida no mar"
"03-04-1789 Domingo Não aconteceu nada de anormal, além do fato de que vi o vulto marinho mais algumas vezes, porém estou certo que nada mais é do que devaneio provocado pelas ondas"
"04-04-1789 Segunda feira Oh minha doce Ana, como gostaria de estar aí com você, e comemorar seu aniversario. porém, se quisermos nos casar como lhe prometi, você deve ser paciente. confesso que poderia ter conseguido dinheiro de outras formas, os marinheiros não param de vomitar, até Gabe está parecendo uma maldita vaca, vomitando e expelindo fezes. parece que sou o único não afetado por essa doença, que creio ser escorbuto”.
"05-04-1789 Terça feira Bagre está morto, fomos todos dormir normalmente e quando acordamos, seu corpo estava coberto de vomito, próximo ao mastro. seus olhos estavam saltando, e sangue escorria de seus orifícios. levaremos o seu corpo para o deposito, e o daremos a sua família quando voltarmos, para que tenha um enterro digno. com um tripulante a menos, eu terei que me encarregar das tarefas dele, por isso escreverei com menos frequência."
"Não sei que dia é hoje Maldito seja o escorbuto, ou qualquer que seja o flagelo que se abateu sobre nós. mais três homens estão mortos e nosso trabalho só aumenta. temos que levar seus corpos vomitados para o deposito, o que não é uma tarefa fácil. para piorar, eu estou vendo o vulto marinho todas as noites. Por enquanto acho que sou o único não contaminado. Com homens morrendo aos montes, será muito difícil de matar a baleia, visto que da vez em que atacou Gabe, ela destruiu seu navio, e matou toda a tripulação."
Não sei que dia é hoje Gabe não saí de seus aposentos há muito tempo, quero entrar lá e ver se ele está bem. A maioria dos homens já morreu, mas por algum motivo, eu não apresento sintoma algum.
As visões estão mais intensas. Vejo o mesmo vulto todas as noites. Ontem, vi mãos segurando as bordas do navio. Temo que sejam os espíritos de meus companheiros mortos. Indignados por eu não me juntar a eles.
Ana, os únicos membros no navio sou eu, e outros dois. Rezo a todo o momento para que Gabe esteja vivo. Na madrugada de ontem para hoje o resto dos homens apareceram mortos. Por Deus, não tem mais espaço nos depósitos então estamos colocando homens em botes, e os atirando ao oceano. Maldito seja o mar. Maldita seja a ganância dos homens.
"Chamamos por Gabe o dia inteiro, ele não deu um sinal se quer. Estou com medo do que verei se abrir a porta de seu quarto. Lembrei-me do estranho garoto que encontrei antes de zarpar, e de seu misterioso embrulho. Quando anoitecer eu me trancarei no meu quarto e verei o que o menino está enviando a seu pai"
Como eu gostaria de estar morto. Não digo isso da boca pra fora, mas essa é a realidade. Os dois homens que restaram parecem estar mortos em vida. Um deles, não tinha mais líquido no corpo para que pudesse vomitar e acabou vomitando partes de seu estômago. Havia sangue e pedaços do que devia ser seu intestino. Mas de alguma maneira, estava aguentando de forma surpreendente.
Finalmente anoiteceu. Não sei o nome de meus companheiros. Eles não conseguem mais falar. Somente andam de um lado para o outro e me ajudam a levantar algum peso ocasional. Ouvi barulhos vindos do aposento de Gabe. Torço para que ele esteja vivo. Irei agora ver o misterioso embrulho que o menino enviou para seu pai.
"Para Howard. P.L. o melhor pai que existe. Espero que o senhor esteja bem. mando-lhe essa caixinha de música para que se lembre de mim. Espero ficar curado logo, e ir para Londres, ficar com o senhor. Nós poderíamos ir para alguma biblioteca,e quem sabe depois ir ver a rainha. Eu te amo muito papai.”
"Rirás de mim se eu disser que chorei enquanto lia essa carta e ouvia o tilintar da caixinha de música. Farei disso meu objetivo, quando sair daqui entregarei nas mãos do próprio pai e contarei o resultado ao garoto. Mas por hora eu devo dormir.
"Acordei pela manhã e vi algo do qual eu jamais me esquecerei. Um dos pobres homens estava vivo, porém paralisado por completo. Enquanto o outro parecia uma obra de arte macabra. O homem vomitara tanto que desprendeu o próprio estomago. Pedaços de intestino grosso saíam de sua boca, junto de sangue necrosado e suco gástrico. Não tive forças para lança-lo ao mar. Voltei para o meu quarto e chorei. Expeli em lágrimas, todo o líquido que tinha no corpo. E no meu desespero, não me dei conta do passar do tempo. Olhei pela pequena janela e vi que já era noite.”
Momentos depois, ouvi uma leve batida em minha porta. Levantei-me e fui depressa abrir na esperança de que fosse Gabe. Porém ao abrir a porta, me deparo com o mais absoluto vazio. E no lugar onde estavam os homens, não havia nada. Os restos de meu companheiro haviam sumido por completo. Quanto ao paralisado, tinha sido acometido pelo mesmo destino. Tudo havia sumido. Olhei de relance para a lateral do barco e vi algo semelhante a um olho. Porém não podia ser um olho, pois era gigantesco. E se fosse um olho, eu não quero saber a que fera ele pertence.
“Queria apenas nunca ter me apaixonado, por ti minha bela Ana, assim eu nunca teria vindo parar nesse inferno.”
Acordei e já era tarde. Meu relógio interno achava que já tinha passado do meio dia. Resolvi abrir a porta do quarto de Gabe e ver qual era a situação. Mas antes queria encontrar meu último companheiro vivo. Andei por todo o convés e nada encontrei. Além de não achar nada para abrir a porta do quarto de meu primo, não vi sinal algum do último marujo. Até que um pensamento súbito me veio à mente. A Barra de aço que Bagre encontrou e usou para desencadear a ruína sobre nós, poderia vir bem a calhar. Corri para o outro lado do navio e a encontrei. Porém achei algo que eu não queria. O marujo paralisado estava morto ao lado da barra. Porém não havia sido morto pela doença. Seu corpo fora estraçalhado por violentas mordidas. Marcas de dentes não humanos enchiam seus braços, cabeça e tronco. Era simplesmente grotesco.
Peguei a barra de ferro e ouvi uma voz, projetada por uma laringe não humana. Era algo quase cultista "Oh gorath in Ryleh mia shamara in sullah in sullah magorah got in sullah " e de repente,uma mão escamosa se projetou do exterior do barco e agarrou o corpo do marujo. Arrastando o para dentro do oceano. Minha única reação foi correr o mais rápido que pude e sair dali.
“Oh Ana, eu te amo tanto. O cheiro aqui dentro deve ter destroçado meu nariz por dentro. Não sinto mais odor algum, somente o fedor podre da morte. Fiquei com tanto medo que me tranquei em meu quarto pelo resto do dia, e durante a noite não consegui dormir. Meus dedos parecem que vão se desprender da mão a qualquer momento E eu sinto uma dor lancinante por todo o corpo. Morrer deve ser assim.”
"In sullah magorah got in ryleh tie dagon gorath na Ryleh "
“Não me lembro de ter escrito isso, Não me lembro de ter dormido no convés, Não me lembrei de resgatar Gabe”.
Peguei a Barra de ferro e fui para seu quarto, não sei como tive forças para desprender a fechadura. Mas foi o que fiz. Dentro do quarto havia sangue, urina, fezes e vômito. Porém escondido no canto do quarto estava Gabe. Que surpreendentemente estava não só vivo, mas falando.
"Ismael, primo, me diga que é você e não uma maldita alucinação "
"Gabe, sou eu. Venha comigo, vamos sair daqui"
"Você também ouviu? A voz? Chamando-me para Ryleh. Para me encontrar com Deus em casa. Ele pode nos tirar daqui”
Sabia que Gabe não estava mentalmente são, mas concordei com tudo, afinal eu realmente tinha ouvido a voz, mesmo que não tivesse compreendido nada. Arrastei Gabe ainda delirando para fora de sua cabine.
Naquela noite ficamos em meu quarto, eu dormi e ao acordar vi Gabe lendo meus escritos. Estava chorando com o livro na mão e quando se deu conta de minha presença começou a recitar :
"Terça feira O grandioso Capitão nos guia pelos sete mares, o vento balança seus cabelos e o sol ilumina sua testa. Destemidamente nos levando para riquezas imensuráveis, e para a gloria de uma bela e poética, vingança."
"Eu sou um maldito, tirei você de sua terra, de sua amada para que você morresse comigo em alto mar e sem achar a maldita baleia que me feriu. Eu deveria ter morrido sozinho"
"Não Gabe, você não vai morrer. Temos ainda um último bote. Podemos remar até algum lugar e ficarmos bem, acharemos a baleia, e levaremos sua carcaça de volta a terra firme.”
"NÃO. Não foi uma baleia que me levou a perna esquerda.”
Assustado perguntei "o que?”
"Eu era jovem, nunca tinha navegado antes. Enquanto meus companheiros dormiam eu mudei o curso do barco. Queria ir para as índias. Ser tatuador ou algo assim. Porém batemos direto em um bloco maciço de gelo. Todos morreram menos eu. Fiquei somente com um pedaço de madeira cravado na perna. Quando acordei, estava em um barco inglês e sem uma das pernas. Perguntaram-me como eu havia perdido. Se eu contasse a verdade poderia ser preso ou jogado em alto mar. Por isso inventei essa baleia. Para tirar a culpa do meu fracasso”. Depois de ouvir tal relato, eu estava em choque.
Sem saber como reagir, fui para o mastro e me sentei. O cansaço me abateu e mais uma vez eu dormi. Quando acordei ouvi barulhos vindos do cais e corri para ver do que se tratavam. Vi então Gabe com uma das caixas de vinho, jogando seu conteúdo ao mar, e repetindo "in sullah magorah got in ryleh tie dagon gorath na sullah " Fui para meu quarto e peguei a caixinha de música do garoto, uma pena e meu ultimo frasco de tinta . Corri de volta para Gabe e perguntei o que ele estava fazendo.
"Em poucos instantes Dagon virá e nos salvará”
Peguei a caixa de vinhos e a coloquei no bote. Iria partir dali e levar junto meu primo, que a esta altura já não gosava de suas faculdades mentais. Quando tudo estava pronto para irmos, ouvi um som estridente. Como se a terra do fundo do mar se desprendesse e viesse para a superfície. Vi então o vulto que me perseguiu desde o começo dessa desventura.
O casco do navio se rachou e começou a afundar. Subi no bote e chamei Gabe. Ele veio em minha direção e soltando as amarras que prendiam o bote ao navio ele disse "O capitão afunda com o navio. espero que na morte, meus pecados sejam redimidos”
e me empurrou no bote, enquanto contemplava o inexistente.
Vi uma mão colossal sair do mar e destroçar o navio. Amassando o como se fosse feito do mais fino papel. Os corpos de meus companheiros que estavam no deposito, foram jogados para a superfície violentamente, e vi Gabe lutando para se manter de pé.Corpos em estado avançado de decomposição boiaram, enquanto o Gabriel’s Fly era tragado pelo mar.
Remei com toda a força que me sobrara, para sair dali o mais rápido que fosse possível.
Passei a noite remando, sem notar os caminhos que me guiavam. Quando amanheceu me vi preso em um mar totalmente negro, com inúmeras carcaças de animais que supostamente sequer existiam.
Aquele mar era quase sólido. Eu não podia abrir caminho remando. Então eu esperei que o denso liquido começasse a voltar para o mar e eu pudesse deixar meu bote.
Vi no horizonte algo como um pico e fiz daquele lugar meu alvo.
Foi uma longa caminhada de três dias e três noites, mas enfim eu cheguei.
O pico que se projetava na minha frente era muito maior do que eu esperava, mas consegui escalar até o topo.
E ao chegar lá me deparei com algo que beirava o absurdo. Um grande monólito, que mostrava através de hieróglifos a história da humanidade de acordo com os seres abissais.
Vi imagens de criaturas marinhas sendo mortas
E homens do tamanho de embarcações.
Vi as proles famintas dos filhos das profundezas com os humanos
Vi que esses eram adorados
Vi deuses ancestrais, que não estavam mortos, mas sim sonhando.
Vi a face da morte e ri
Ri e dancei e durante dias, enlouqueci.
E quando a sanidade me voltara à mente eu ouvi as mesmas palavras diabólicas sendo pronunciadas em uma língua inumana. "In sullah magorah got in ryleh tie dagon gorath na sullah "
E então pude ver:
Homens que andavam como peixes, e agiam como predadores.
Se esgueirando dos pesadelos mais profundos.
As bestas estavam me observando, porém eu não conseguia compreender suas formas inexatas. Alguns tinham o copo de homem, e a cabeça de criatura marinha, outros tinham tentáculos de polvo e muitos olhos na face. Aquilo era insanidade, pura, simples e cruel.
Havia um entre eles, que falava com língua humana, mas voz de besta. “ssssomente o vazzio o esssspera no fim de ssssua jornada.”
Senti então uma garra me rasgar a carne, e o sangue jorrar em minha pele.
O medo tomou conta da minha alma
Minha visão se tornou embaçada, e vi um ser maior que eles surgir de trás do monólito. Era uma fera colossal, tinha formato humano, mas possuía mil tentáculos ao redor de si.
Uma grande nuvem de tempestade se formou sobre sua cabeça, como se até mesmo os céus lhe dessem autoridade. E todas as criaturas em torno de mim se curvaram e lhe adoraram, chamando-o de Dagon.
Meus olhos se fecharam, e senti frio.
E quando percebi, estava de volta no bote e este estava em mar aberto.
Senti mãos vindas do fundo do mar empurraram o barco em direção a algum lugar que eu desconhecia.
Quando voltei a mim por completo, estava me aproximando de terra e meu livro estava comigo. Relato agora toda essa história, para que saibam o que eu senti. Os. Mistérios que reinam sobre os céus podem ser desconcertantes. Mas os que se escondem no fundo do mar, esses são frutos da insanidade da mente doente de um ser maior.
Estou levando comigo cada página deste maldito relato, pois não tenho coragem de destruir tal obra, pois é tudo o que tenho para acreditar que tudo isso foi real.
E mais uma última coisa. Se você está lendo esse manuscrito, eu lhe peço desculpas por ter aberto nosso mundo para os terrores que habitam as profundezas.
"In sullah magorah got in ryleh tie dagon gorath na sullah’’
"In sullah magorah got in ryleh tie dagon gorath na sullah”
"In sullah magorah got in ryleh tie dagon gorath na sullah”-Inspetor Lestrage, encontramos um homem, dentro de um bote no Porto londrino. Ele não parava de repetir a palavra Miskatonic. E o nome Howard P.L. O levamos para o hospital, mas ele morreu no caminho, junto com ele achamos também um livro de notas, porém dentro dele havia apenas rabiscos. Ninguém ainda conseguiu decifrar tais insanidades. E tem também a palavra que o homem escreveu com seu próprio sangue na maca, era algo como...
-Dagon – interrompeu o inspetor momentos antes de ir ao banheiro e vomitar.
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O relato
HorrorUma de minhas primeiras histórias, com grande inspiração na mitologia de Lovecraft, é uma releitura do conto "Dagon" com referências à outras obras clássicas.