Você já assistiu a um filme de terror? Daqueles que dão tanto medo a ponto de fazer você ficar encolhido debaixo do cobertor, ainda que um calor de quase quarenta graus centígrados esteja torrando as pessoas do lado de fora da sua casa? Um suspense tão aterrorizante que gele seu estômago, como se você tivesse acabado de comer todo o conteúdo de pote com um litro de sorvete de uma única vez? Agora imagine os personagens desse filme, dezenas — talvez centenas — de criaturas bizarras de mais de dois metros de altura, pele metálica cor de bronze, montados em cavalos selvagens, cavalgando atrás de você esperando fazer um lanchinho da tarde. E isso tudo de verdade, nada de sonho ou imaginação. É assim que Rick, Verônica e Duda estavam se sentindo, enquanto fugiam dos caçadores que lhes perseguiam e desviavam da chuva de flechas que vinham em sua direção.
Rick corria assustado, com as duas meninas e o outro rapazinho logo atrás de si. Precisavam encontrar uma caverna, ou algo que lhes protegesse dos ferozes caçadores que se aproximavam rapidamente.
As pernas já quase não respondiam, os músculos latejavam, as blusas estavam empapadas de suor. A sensação era a de que o peito ia explodir por falta de ar; o coração parecia bater dentro da cabeça, e o único pensamento que tinham era o de desespero.
Os caçadores mantinham a velocidade. Eram especialistas naquilo, conheciam as matas como a palma de suas mãos. Conseguiam desviar de galhos, espinheiros e animais peçonhentos facilmente. Pareciam até manter certo tipo de contato telepático com as plantas, como se as ordenassem a abrir caminho para que galopassem entre elas.
Os caçadores até pareciam pessoas, salvo pelo tamanho e estrutura do corpo. Eram muito altos, quase gigantes, esguios, e com aquela típica pele vítrea e brilhante dos seres de Orum, assemelhando-se a algum tipo de metal reluzente, como se os seus corpos fossem feitos de bronze ou de algo do gênero.
Enquanto isso, os garotos que fugiam eram adolescentes comuns, humanos, de corpos frágeis, e muito, mas muito assustados — o que era uma grande desvantagem. Além de estarem em um local totalmente desconhecido, com os corpos em frangalhos, sem força para prosseguir, estavam desarmados.
Quanto mais corriam, mais perto podiam escutar o farfalhar das árvores e o ranger de madeira estalando sob os cascos dos cavalos. Se um único cavalo daqueles se projetasse sobre o grupo, não sobraria nem um mísero osso inteiro para contar história. Estar ali, fugindo de seres míticos, com aquela turminha de malucos e prestes a morrer, não era exatamente o plano de férias que Rick tinha feito meses atrás.
Os perseguidores logo os alcançariam, e então não haveria mais como fugir, afinal aquilo era um labirinto no meio da floresta. Rick chegou a pensar em chamar seus companheiros para subirem em uma das muitas árvores frondosas, mas ainda assim estariam visíveis. E havia, também, o pequeno empecilho de que as árvores obedeciam aos comandos dos caçadores. Assim, a única solução seria encontrar uma caverna mesmo. Iriam se esconder nas sombras e conseguiriam despistá-los.
Com o peito ofegante, o rapaz incitava os outros a correrem o máximo que podiam. Notaram que o galopar dos cavalos estava muito próximo, apesar da dificuldade em enxergar, graças aos muitos arbustos que deixavam atrás de si. Rick ainda não compreendia como fora parar naquele lugar, mas já que estava ali, a única coisa que lhe restava era fugir.
Os caçadores eram em grande quantidade, mas não dava nem para calcular quantos seriam, afinal, naquela corrida assustadora não tinha como parar e falar: "ei, esperem, deixem-me contar quantos de vocês estão nos perseguindo".
As folhas secas no chão da floresta crispavam com as pisadas dos tênis dos jovens que mantinham a corrida, ainda que muito cansados. Aquela floresta-labirinto tinha milhares de espécies de plantas diferentes, com árvores e arbustos que se entrelaçavam, formando os inúmeros túneis naturais.
As criaturas esguias e gigantescas com pele cintilante galopavam em sua direção, soltavam silvos e gritos guturais, como se os garotos fossem uma caça há muito esperada pela tribo.
Uma caçada! Rick jamais imaginou, em seus dezesseis anos de vida, que um dia chegaria a viver algo do gênero. Se é que dava para imaginar alguma coisa quando se está fugindo de criaturas tão bizarras, vindo em sua direção a galope.
Os meninos tinham a impressão de estarem correndo em círculos. Duda dava sinais de exaustão, enquanto Verônica começava a chorar compulsivamente. Lud agarrava as mãos das meninas instigando-as a correr. Rick estava com o corpo queimando como se estivesse em chamas, por causado esforço físico intenso.
Os corredores de mato estreitavam-se e se abriam para em seguida bifurcarem entre trepadeiras, galhos, gravetos e folhas da maior diversidade já vista, dificultando sua corrida. Verônica se lembrava do Jardim Botânico, nem lá existiam tantas espécies de plantas diferentes, o que não vinha ao caso agora, claro.
Depois de passarem umas vinte vezes pela mesma trilha de plantas, chegaram finalmente à beira de uma gigantesca ravina que precipitava em um desfiladeiro rochoso. Ao longe, correndo entre as pedras, um rio caudaloso e turbulento. Pular seria morte certa. Se sobrevivessem à queda do penhasco, certamente morreriam nas águas revoltas do rio escuro lá em baixo.
Apesar de o rapaz nunca ter se deparado com uma questão dessas para resolver, Rick precisava encontrar uma solução rápida. Era se entregar ou morrer. Não havia saída, e a escolha não lhe parecia assim tão simples. Caso viessem a se entregar, não saberiam o destino que lhes esperava. Talvez fossem simplesmente feitos escravos. Se pulassem, provavelmente morreriam de falta de oxigênio antes de se estatelarem em alguma pedra pontiaguda. Em quaisquer das alternativas, precisavam de muita, mas muita sorte, e sorte não parecia ser o que tinham à disposição naquele momento.
Antes que pudesse elencar todas as hipóteses possíveis e organizar seu pensamento, avistou seus perseguidores saindo da mata, em seu encalço, galopando ferozmente, com as peles de bronze cintilando à luz do sol, os arcos coloridos apontados para os quatro, e os olhares crispando a mira.
Aquele era o incentivo que Rick precisava. Se não morressem caindo pelo penhasco, ou por afogamento no rio, seriam mortos pelas flechas dos caçadores. Agora ficava bem mais fácil decidir. E, melhor ainda, ele sabia que não seriam feitos escravos.
"Fabuloso!"
A coisa toda foi muito rápida, foi apenas o tempo de ele gritar aos outros que pulassem no desfiladeiro para a chuva de flechas voltar a zumbir em sua direção. Entre morrer lutando, ou morrer entregando-se, eles preferiram a primeira opção.
Entretanto, logo abaixo de si, não foram pedras pontudas e nem o rio caudaloso que encontraram, mas sim gigantescas asas douradas, muito reluzentes, que pairavam logo abaixo de seus corpos em queda, em um voo rápido e suave.
O Guardião chegara a tempo de salvá-los com seu dragão alado, ele estava cumprindo sua promessa de protegê-los do que quer que fosse. Ali, voando com aqueles garotos pelos céus de Orum, o Guardião começou a lembrar-se de tudo o que acontecera, e como chegaram até ali...
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A Saga de Orum - Os Guerreiros Sagrados
AdventureA pedra sagrada do príncipe Oxaguiã está desaparecida e isso está abalando os pilares de sustentação de todo o cosmos, o que pode acarretar na aniquilação não apenas de Orum, como também da Terra. A única esperança dos "dois mundos" é uma antiga pro...