A Madrasta

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Entrei calma na cozinha, sorrateiramente, e vi Magda abaixada em frente ao forno. Passei alguns minutos em pé a observando. Tossi para que ela notasse minha presença.

"Oh! Bianca! Eu pensei que chegaria mais tarde querida!" Magda disse enquanto levantava, espalmando as mãos no avental.

"É... Eu vim mais cedo para casa por que ia sair com a Lala depois, mas já soube que não vai rolar..." Eu disse, sem me importar em disfarçar meu incomodo.

"Ah! Seu pai já falou com você então." Ela falou tentando não me encarar, era notável seu desconforto. Se eu não a conhecesse realmente, poderia até acreditar. "Sinto muito querida, mas o evento hoje é importante para ele. E bem, como eu sou... Sua esposa, tenho que estar lá, por ele."

Esposa. Essa palavra proferida pela boca dela, me causava ânsia de vômito.

Já iriam completar sete anos, desde este trágico acontecimento.

Mamãe partiu quando eu era nova, mas eu ainda recordava bem meus momentos com ela.

Zach tinha onze anos, Felipe e Dennis, tinham oito anos na época. Eu fui a que menos conheci. Mas todos diziam, o quanto eu lembrava a ela, pele clara como a neve, lábios vermelhos como uma rosa, e cabelos negros como ébano.

Quando Magda apareceu em nossas vidas, todos a aceitaram muito bem, meus irmãos com quinze e doze anos, já eram grandinhos para entender a situação. Eu não. E continuo sem entender.

Sete anos depois e três filhos a mais, Átila, Soren e Dudu. Ela tinha tomado posse sobre toda minha família. Menos sobre mim.

"Querida? Tudo bem?" Magda chamou enquanto eu olhava desatenta para um ponto fixo.

"Hm... Sim." Tentei disfarçar minha falta de atenção. "Eu vou subir, me avisem quando estiverem de saída." Falei virando até a porta, e parando ao lembrar de um pequeno detalhe. "E os bebês? Ficarão aqui?" Eu perguntei assustada. Soren tinha dois anos, e Dudu apenas meses.

"Bom... O Soren, ficará, mas ele não vai te incomodar, só vive tirando soneca, mesmo. Agora o Dudu vai sim, eu não largo meu Dunga por nada." Ela disse com um sorriso de orelha a orelha falando dos filhos. Eu. Queria. Vomitar.

"Ok." Subi o mais depressa possível, aquela mulher me tirava do sério.

Ao anoitecer, meu pai e a madrasta saíram. E eu fiquei presa no meu quarto, verificando Átila e Soren, de instantes em instantes.

Estava tão entretida chorando enquanto relia o final de As Relíquias da Morte, que eu mal notei quando uma mensagem de número desconhecido chegou ao meu celular.

"Oi" Dizia o desconhecido.

Obviamente, com todo o meu conhecimento, após ter visto vários episódios de Scream, e Pretty Little Liars fui super gente boa, e nada desconfiada.

"Quem é? Como conseguiu meu número?" Fui um amor, eu sei.

Fechei o meu livro, indo até o quarto dos meus irmãos, só para conferir se os pirralhos estavam dormindo, e então desci para buscar sorvete na cozinha.

Devido aos gritos e a bagunça, lembrei que a sala de vídeo estava inundada dos amigos do Felipe, evitei ao máximo passar perto.

Primeiro BeijoOnde histórias criam vida. Descubra agora