Prólogo - Um bebê na floresta

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4 de maio de 1987

"Você é pior que balde de merda", disse meu novo chefe, conduzindo-me pela sala de corretagem da LF Rothschild pela primeira vez. "Tem algum problema em relação a isso, Jordan?"

"Não", respondi, "sem problemas."

"Bom", ralhou meu chefe, e seguiu andando.

Estávamos atravessando um labirinto de mesas de mogno marrom e fios de telefone pretos no 22º andar de uma torre de vidro e alumínio de 41 andares na famosa Quinta Avenida de Manhattan. A sala de corretagem era um espaço amplo, talvez de 15 por 22 metros. Era um local opressivo, lotado de mesas, telefones, monitores de computador e diversos yuppies detestáveis, setenta deles ao todo. Não usavam seus paletós e, a essa hora da manhã — 9h20 —, estavam encostados em seus assentos, lendo o Wall Street Journal e se parabenizando por serem jovens Mestres do Universo.

Parecia um objetivo nobre querer ser um Mestre do Universo, e, enquanto passava pelos Mestres, em meu terno azul barato e sapatos rústicos, descobri-me desejando ser um deles. Mas meu novo chefe era rápido em me lembrar que eu não era.

"Seu trabalho", ele olhou para o crachá de plástico em minha lapela azul, "Jordan Belfort, é ser um conector, o que significa que vai telefonar quinhentas vezes por dia, com o intuito de ir além das secretárias. Você não estará tentando vender, recomendar nem criar alguma coisa. Estará apenas tentando trazer os empresários ao telefone." Fez uma pausa por um breve instante, então despejou mais veneno. "E, quando realmente conseguir colocar um no telefone, tudo que dirá é 'Olá, sr. Fulano, Scott gostaria de falar com o senhor', e então passará o telefone para mim e voltará a discar. Acha que pode fazer isso ou é muito complicado para você?"

"Não, posso fazer isso", disse, confiante, mas uma onda de pânico me assombrava como um tsunami assassino. O programa de treinamento da LF Rothschild durava seis meses. Seriam meses duros, cansativos, durante os quais eu estaria ao inteiro dispor de babacas como Scott, a escória yuppie que parecia ter surgido das mais ferozes profundezas do inferno yuppie.

Espiando com canto de olho, cheguei à rápida conclusão de que Scott parecia um peixinho dourado. Ele era careca e pálido, e o pouco de cabelo que lhe restava tinha um tom laranja lamacento. Tinha trinta e poucos anos, era alto e ostentava uma cabeça fina e lábios rosados e grossos. Usava uma gravata-borboleta, o que o deixava ridículo. Sobre seus olhos castanhos salientes, usava um par de óculos de armação de metal, o que o tornava estranho.

"Bom", disse o peixinho de merda. "Eis as regras de trabalho: não há pausas, nada de ligações pessoais, nada de faltar por doença, nada de chegar tarde e nada de ficar sem fazer nada. Tem trinta minutos de almoço", fez uma pausa para causar efeito, "e é melhor voltar a tempo, porque há 50 pessoas aguardando para tomar sua mesa se você fizer alguma cagada."

Continuou andando e falando enquanto eu o seguia um passo atrás, hipnotizado pelas milhares de cotações da bolsa que deslizavam através de monitores de diodo laranja. À frente da sala, uma parede de vidro dava vista para o centro de Manhattan. Mais à frente, eu podia ver o Empire State, que erguia-se sobre tudo, parecendo elevar-se até o céu e arranhar as nuvens. Era uma visão que merecia ser contemplada, uma imagem valiosa para um jovem Mestre do Universo. E, naquele instante, aquele objetivo parecia muito, mas muito distante mesmo.

"Para dizer-lhe a verdade", resmungou Scott, "não acho que você seja adequado para este trabalho. Você parece uma criança, e Wall Street não é lugar para crianças. É um lugar para assassinos. Um lugar para mercenários. Assim, nesse sentido, você tem sorte por não ser eu quem faz as contratações por aqui." Ele soltou uma risadinha irônica.

Mordi o lábio e não disse nada. O ano era 1987, e babacas yuppies como Scott pareciam comandar o mundo. Wall Street era o centro de um mercado de touros indomáveis, e novos milionários surgiam abundantemente. Dinheiro era fácil, e um cara chamado Michael Milken inventou algo chamado "títulos de alto risco", que mudara a forma como a América corporativa conduzia seus negócios. Era uma época de ambição desenfreada, uma época de excesso libertino. Era a época dos yuppies.

O Lobo de Wall StreetOnde histórias criam vida. Descubra agora