Capítulo I

294 14 0
                                    


Lobos não vivem sozinhos, não: eles se organizam em alcateias. O bando é importante, o bando é parte de si, o bando é você. Viver sem ele é tão doloroso quanto não viver. Disso Scorpius entendia: a época solitária que enfrentou até seu ingresso em Hogwarts lhe doía, como só um filho único poderia entender.

Mas, então, entrou em Hogwarts e – finalmente – tinha amigos. Tinha alguém. O que ninguém esperava era que esse alguém fosse ser um Potter, mas detalhes a parte. E, sendo selecionado para a casa dos leões, mesmo contrariando todos os estigmas e tradições da família, sentiu-se bem, porque a fama da amizade e do companheirismo era muito mais presente do que a da coragem, tratando-se da casa rubra.

Quer dizer, tudo bem não pertencer à Ravenclaw, casa a qual a mãe havia pertencido na época de escola e que tinha tantas histórias maravilhosas. Mesmo que Astória esperasse, no fundo, que ele fosse selecionado à casa azul – não tão no fundo, visto que a primeira roupa que a mãe havia comprado para o filho havia sido um macacão nessas cores (o que não agradou muito a Draco, mas, convenhamos, quando Astória Greengrass não conseguia dobrá-lo?) –, ela ficou orgulhosa de Scorpius estar estampando o leão bordado no peito.

Mas não pertencer a Slytherin? Porém o pai, que ele esperava não aceitar muito bem a quebra da tradição dos Malfoy, na estação King's Cross para as férias de Natal no primeiro ano, apenas o abraçou e sorriu. "Você, Scorpius, é o orgulho da família", ele disse. O garotinho apenas inflou o peito, mostrando ainda mais o cachecol de listras. Sempre, desde que conseguia se lembrar, apenas queria deixar o pai orgulhoso. Queria fazer os pais sentirem orgulho de dizerem: "Ele é o meu filho, é ele".

A todo momento em que ia ao St. Mungus por algum motivo – seja esperar o pai sair do plantão, ou então pedir uma carona de volta para casa depois da aula de esgrima com o professor trouxa – ele analisava o ambiente branco e a impotência de Draco Malfoy a caminhar com seu jaleco pelo lugar como se dominasse tudo, como se conseguisse controlar tudo, e só conseguia se imaginar ali, um dia.

E, depois de concluir Hogwarts, não é que estava ali? Estava ali, de jaleco branco e varinha a punho, com todos os feitiços necessários na ponta da língua e com – quem diria – alguns feijõezinhos de todos os sabores no bolso.

Scorpius Malfoy havia conseguido se formar como medibruxo, e a felicidade não cabia mais em seu peito. Além de tudo – uma surpresa, não? – estava levando uma ótima vida de casado. Scorpius Malfoy, casado?! Vocês se perguntariam. Qualquer um se perguntaria. Mas, no fim, Rose Weasley era a rosa do coração do loiro.

Naquele Natal – naquele mesmo Natal que depois se tornou trágico diante do acidente de Hermione e Ronald – ele percebeu que Rose mexia com seu coração. E, apoiando-a do modo como ela permitia durante aquele período de luto, descobriu que era mais que um simples mexer.

Depois de namorar cinco anos com ela, ele teve certeza que não era mesmo. Era algo maior, mais intenso. Com Rose Weasley era sempre mais. E ele decidiu que queria sempre ter esse mais na sua vida. Foi assim que, aos seus 22 anos, já no final do curso e começando a trabalhar no hospital, pediu a ruiva em casamento e ficou noivo.

Um ano depois, em uma cerimônia relativamente simples, Weasleys e Malfoys dividiram o mesmo teto para casarem seus descendentes. A rixa entre ruivos e loiros terminou em um par de alianças de ouro, dois "sim" e um bolo enorme feito pelas mulheres da família Weasley – que se reuniram para ajudar vovó Molly, que no auge dos seus oitenta anos, apesar de não admitir, já estava cansada.

W O L FOnde histórias criam vida. Descubra agora