Girassóis

Almas equivalentes.

Por Clarisse.

Saí do meu quarto desesperadamente. Enquanto corria pelo corredor, só conseguia me lembrar daquela noite em que conheci Henrique, foi completamente incrível. De repente, encontro o quarto dele. Na porta, o seu nome estava escrito, de um jeito muito fúnebre. Sem pensar, entrei no quarto e o vi de costas.
- Henrique?
Ele se vira imediatamente, corre para minha direção e segura na minha mão. O mesmo toque. O mesmo turbilhão de emoções. O mesmo sentimento.
- Pensei que você tivesse morrido...- ele choramingou- ...Eu não estava mais me aguentando, precisava te ver! Como você está?
- Péssima...- completei-... estou cada dia pior. Não vi nem Alicia nem Augusto, estou com medo. Como vamos sair disso?
- Calma Raio de Sol, tudo ficará bem. Você está linda com esse vestido branco!
- Você está lindo também com essa roupa toda branca!

Aqueles eram meus primeiros dias no coma e era realmente péssimo. Consegue-se ouvir tudo, sentir as mesmas sensações e as lembranças são mais intensas. Por fim, não se sabe quando irá se sair dele, nem como sair. Essa é a pior parte. Fiquei abraçada com Henrique por mais de 20 minutos. Até que uma visita especial chegou.

* * *

Por Henrique.

Ela esta linda. Seus cabelos louros estão mais radiantes do que nunca. Estamos abraçados há um longo tempo, pareceram horas, anos, séculos.

- Este é o quarto do Henrique, você pode ficar aqui até 11h00 e depois pode trazer Alicia - disse um enfermeiro da UTI- Comer aqui e uso de celular não são permitidos. Tenha uma boa visita.

Augusto entra no quarto e puxa uma cadeira do lado da maca. Ele tenta segurar o choro, mas não aguenta. Eu e Clarisse sentamos no chão no canto direito do quarto, perto da porta. Até que ele cessa o choro e começa a falar.

- Eu nunca imaginei estar aqui com você. Não agora pelo menos. Nós somos amigos desde sempre e isso nunca vai mudar. Hoje eu não tenho muitas palavras pra lhe dizer, na verdade eu nem sei se você me ouve...
- Claro que ouço!
- ... trouxe seu livro preferido, O Pequeno Príncipe. E tentei escolher alguns versos que melhorassem toda essa sensação- ele parou por alguns minutos enquanto folheava o tal livro-... Eu não sei o que dizer. Tudo o que passamos juntos, os momentos bons e ruins, eu não sei como reagir a isso. Aquele dia foi um dos melhores de todos esses anos e você agora está ai, numa maca de um hospital! Eu não sei o que fazer...
Augusto ficou mais alguns minutos, disse que minha mãe estava a caminho e que Clarisse estava estável. Mal sabia ele que ela também estava ouvindo tudo. O relógio marcou 11h:00 e ele teve que sair do quarto.

- Como você está?
Disse Clarisse quase choramingando, me abraçando e apoiando seu queixo sobre meu ombro.
- Estou péssimo! Augusto é meu melhor amigo, não queria que ele passasse por isso.

De repente vimos Alicia passando pelo corredor, indo em direção ao quarto de Clarisse. Puxo Raio de Sol pelo braço e vamos correndo ao quarto dela.

* * *
Por Alicia.

Era 11h:06, quando uma enfermeira me disse que eu poderia visitar Clarisse na UTI. Segui pelo corredor até o que cheguei no quarto dela. Aqui é bem arrumado, Raio de Sol deve estar adorando aqui. Puxo uma cadeira e sento do lado da maca, procuro um lugar que não esteja coberto pelos fios e tubos.
- Como você está? Seria tão bom se você me respondesse. Nunca imaginei vê-la dessa forma, mas vamos lá. Esse hospital é bom até, mas não queria ter que passar uns dias aqui, muito menos por causa disso. Você vai se recuperar! Irá se formar e trabalhar aqui um dia. Mas, enfim. Sou sua amiga desde o jardim de infância e você não imagina o quanto é especial para mim. Eu passaria horas falando o quanto eu te amo Clarisse, mas nem sei se você me ouve. Sua mãe irá chegar amanhã cedo e logo poderei ir para casa dormir um pouco. Ah, o Augusto está aqui comigo, ele é realmente o amor da minha vida. Tenho notícias do Henrique. Quer ouvir?- fiz uma pausa- Bom, acredito que sim. Ele está estável, assim como você. Vocês devem se unir para sair de todo esse pesadelo. Cuidado com o que fazem, o coma é algo perigoso e muitas vezes sem volta. Fique bem. Amanhã eu volto amanhã. Te amo...

* * *

Por Henrique
Eu pude ouvir cada palavra dela. Vi-a sair do quarto, enquanto abraçava Clarisse que estava em choque. Não sabia o que fazer nem dizer, mas consegui deixá-la calma.
-Queria gritar, agarrá-la!- Ela gritou- Precisamos sair disso!
-Clarisse, me escute! Tudo ficará bem! Nós vamos sair disso um dia, mas não podemos prever o futuro. Eu estarei aqui com você e você estará aqui comigo. Não importa o que aconteça, eu nunca vou te abandonar.

Depois daquilo, vi que tudo era verdadeiro. Precisamos sair disso. Preciso tê-la. Preciso ser forte.