CAPÍTULO 1

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DESPERTAR


Acordei ao lado de várias pessoas imóveis, minha visão estava um pouco ofuscada, mas os corpos no chão era evidente e o cheiro de ferrugem no ar me remetia a sangue.

Tentava a todo momento lembrar a última coisa que acontecera antes daquela tragédia.

Com dificuldades consegui me arrastar até um carro que estava virado e destruído, sua pintura brilhante exibia meu reflexo meio ofuscado.

Aos poucos vinham na minha mente algumas lembranças de uma mulher clara com um vestido azul num parque com uma criança, elas estavam num parque e vinham em minha direção. As duas pareciam felizes e por algum motivo eu também estava.

-Al... Alv... Al...

Uma voz cansada e falhada vinha de trás de mim, por algum motivo sabia meu nome. Sua voz masculina me intrigou e tentei arrastar-me ao seu encontro.

Seu rosto parecia familiar, porém não o conhecia, não conseguia fazer referência a nenhum rosto o qual eu tivesse intimidade.

- Você vai ficar bem. - Falei tentando confortá-lo, sua camisa estava manchada de sangue, e havia alguns hematomas no rosto, como se houvesse se metido numa briga recentemente.

Ele fazia realmente muito esforço para me falar algo. Porém seu estado era realmente deplorável.

- Min... Perna.

Foquei em uma de suas pernas, por algum motivo, e de alguma maneira, havia um pedaço de ferro partido, atravessado. Havia perfurado e jorrava sangue da ferida.

- Me acertaram...

- Quem? Quem te acertou? - perguntei ao rapaz enquanto ele permanecia deitado no chão.

- Ei, se afaste dele!- De repente, surge uma outra voz no local.

Um homem vinha em minha direção, tinha aparência jovem, e caminhava como se tivesse o peso dividido desproporcionalmente nas costas. Carregava um arco e apontava uma das suas flechas em direção ao homem agonizante no chão.

- Afaste-se garoto.

Ele chegava cada vez mais perto, e parecia determinado a acertar e matar por uma vez o pobre rapaz.

- Já disse, afaste-se!

Olhei bem nos olhos do homem, que continuava se aproximando, parecia tratar a situação como extremamente perigosa. Porém afastei-me, e permaneci sentado, não tinha forças para levantar-me e correr, e por algum motivo a próxima vítima poderia ser eu.

O homem deitado no chão deu um ultimo olhar de súplica direcionado a mim, parecia aflito com a situação, não planejava seu fim daquela maneira.

- Volta pro inferno, besta. - Falou o caçador, preparando-se para atirar. Porém o homem já não tinha aparência humilde, seus olhos agora demonstravam fúria.

- Não se eu te levar primeiro... - Falou ele ainda deitado, porém sua voz tinha se tornado grave e rouca, como nos filmes de terror.

Uma névoa preta envolvia seu corpo, porém não tão densa, algo o impedia de utilizar seus poderes. 

A essa altura estava apavorado, mas minha curiosidade me manteve imóvel, afastei-me ainda de costas, e continuei assistindo a cena, até que o caçador acertou o homem. 

A névoa cessou, uma luz vinha do buraco onde a flecha tinha penetrado, bem abaixo do peito, atingindo na zona do estomago; algumas rachaduras em seu corpo, porém não saíam sangue, e sim tinham uma luminosidade em tons de laranja escuro e borrões negros; seus olhos estavam totalmente brancos, e sua boca e nariz expeliam um liquido pastoso preto.

O homem se debateu como se tivesse convulsões até que o liquido terminasse de ser excretado, então ficou imóvel, como se houvesse acabado de morrer.

- Você está bem?

Tentei responder que sim, porém ainda permanecia aéreo devido a situação.

- Meu nome é Laurence, eu sou um caçador de demônios.

Tive alguns pensamentos irônicos, não é todo dia que alguém diz que é um caçador de demônios...

- Eu sou Alvin.

- Diga Alvin, o que fazia deitado ali?

- Não me lembro...

- Hm, típico feitiço de esquecimento. Do que se lembra antes de estar deitado?

- Na verdade não lembro muito, tinha uma mulher e uma criança, e estávamos passeando.

Ele então olhou reflexivamente para mim, como se estivesse compreendendo algum mistério oculto no meu espírito, e calmamente disse:

- Levante, temos que sair daqui.

Com sua ajuda, consegui levantar. A vista era assustadora, como se tivesse havido um apocalipse zumbi. Milhares de corpos no chão, prédios em ruínas, carros incendiados, e sangue, muito sangue.

Não era todo dia que aceitaria a carona de um homem que me encontrara na estrada, e matara um outro em minha frente, mas de algum jeito sabia que no Laurence eu poderia confiar.


-Ás vezes uma amizade surge do momento mais improvável. Mais vale um amigo assassino, que mata pra proteger, do que uma pessoa amigável que o deixa morrer.

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⏰ Última atualização: Oct 21, 2016 ⏰

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