Eu fiquei

Capítulo 2

Não posso dizer que as coisas não têm acontecido de forma perfeita, porém, está tudo muito rápido. Dani e eu passamos o máximo de tempo juntos. Após o trabalho eu o acompanhava nas compras de roupas e nos seus compromissos com a mudança de país. Ele poderia permanecer nos Estados Unidos durante os próximos anos até a empresa resolver abrir uma filial em solo brasileiro.

Compramos roupas novas para os primeiros dias, malas, uma câmera nova, entre outras coisas que ele ia precisar lá. Já que a empresa providenciou moradia provisória para os próximos meses, Dani não teria que se preocupar com nada disso. Meu coração ia ficando cada vez mais apertado e em quase todos os momentos sozinha, eu sentia muita vontade de chorar.

Era como um ciclo: eu trabalhava, após o trabalho me encontrava com Daniel e após chegar em casa, eu desabava em lágrimas, não sabendo lidar com a saudade antecipada que eu estava sentindo.

Eu fazia o máximo para não pensar no dia de sua partida, mas ele se aproximava cada vez mais. Me fechei para outras pessoas como uma ostra, só o enxergava, só pensava nele, e as pessoas estavam começando a perguntar o que estava acontecendo. A resposta imediata era um "Está tudo bem", mas não dava para disfarçar o olhar triste, nem as olheiras causadas pelas noites sem conseguir dormir.

Certo dia, Amanda, minha colega de trabalho, me chamou na porta do escritório, dizendo que Denise queria falar comigo. Não fazia a menor ideia do que minha chefe poderia querer, faltavam apenas quinze minutos para acabar meu horário. Respirei fundo e andei até a sala dela, sentindo vários olhares curiosos me atingindo. Bati na porta, com certa impaciência.

- A senhora me chamou? – Forcei um sorriso para minha chefe.

Ela estava sentada em sua mesa, em volta de um monte de papeis e com os olhos vidrados em seu computador. Sua pele estava tão mais branca que o normal, que me dei conta que nunca ouvira falar das férias dela. Seus cabelos loiros, arrumados num coque perfeitamente alinhado lhe dava um ar severo, que se ressaltava com seus óculos meia-lua que precisavam urgente de uma limpeza.

- Sim, Julia. Sente-se. – Sentei-me imediatamente, apreensiva. – O que há com você Julia? Você tem andado distraída.

- Me desculpe, acho que tenho problemas pessoais demais, vou tomar o devido cuidado para que não ocorra novamente. – A olhei, com vontade de chorar.

- Não só no trabalho, menina. – Denise tirou os óculos e os repousou sobre a mesa. – Você está muito magra e cheia de olheiras.

- Eu não sei muito o que te dizer, Denise. – Respirei fundo. – Desde que decidi morar sozinha, foi um alívio ter o Daniel, meu namorado, ao meu lado. Mas, dentro de uma semana ele vai embora. Eu já sabia que um dia isso ia acontecer, mas não posso abandonar tudo e ir com ele.

- Querida, você precisa ser menos introspectiva. Você tem pessoas ótimas ao seu lado, e está se afastando de todos por conta deste rapaz. – Ela sorriu, com compaixão. – Sei que amar alguém é algo sério, mas antes de tudo, você precisa se amar, amar as outras pessoas ao seu redor.

Não pude evitar que uma lágrima escapasse, mas tentei manter a compostura.

- Eu vou me lembrar disso, só preciso de um tempo para pensar. – Sorri.

Não sei se vai te ajudar, mas assim que esse rapaz for embora, você pode tirar suas férias, se quiser.

- Acho melhor não. Preciso conviver com pessoas e me distrair.

- Tudo bem, querida, mas pense bem nisso, você pode aproveitar o restante das suas férias da faculdade para poder passar um tempo com seus pais.

- Muito obrigada, Denise.