Capítulo 1 - Reviravolta

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Eu sabia que isso iria acontecer, mas não agora, quando eu tanto preciso dela. Tenho de ajuda-la a enxergar que ele está longe de ser uma boa pessoa! Minha melhor amiga precisa da minha ajuda. E é exatamente o que vou fazer.

***

Rebecca estava no corredor encostada nos armários, esperando sua melhor amiga passar pelas portas e lhe contar a tão aguardada novidade do final de semana, porque a notícia precisava ser contada pessoalmente.

Quando se distraiu para pegar a bolsa do chão, alguém parou bem à sua frente, fazendo com que erguesse a cabeça.

- Oi, está preparada para a melhor novidade de todas? - Júlia sempre foi muito empolgada com coisas novas.

- Estou muito curiosa! Desembucha logo. - foi dizendo a amiga enquanto se levantava.

Júlia era uma garota que ficava feliz por qualquer motivo - provável ou improvável - sempre vendo o lado bom das coisas. Neste caso, a notícia não se referia a ela, como Rebecca imaginava.

- Meus pais decidiram reatar! E nos mudaremos para a nossa antiga casa juntos! Eu estou tão feliz Becca!

Rebecca não teve reação na hora, os pais de Júlia viviam brigando, e agora estavam juntos de novo? Essa novidade não foi tão emocionante quanto imaginava.

Júlia nem percebeu o rosto confuso dela, pois Rebecca foi rápida e abraçou a melhor amiga comemorando:

- Nossa Júlia, isso vai ser bom para você!

Depois da rápida conversa, as duas seguiram para a primeira aula. Júlia radiante, e Rebecca ansiosa, nem uma das duas imaginavam o quanto aquele ano seria revelador.

Estavam na última aula quando Rebecca se lembrou do convite que foi feito a ela mais cedo, cutucou a amiga e cochichou:

- Ju, o que acha de irmos a uma festa hoje?

- Bem que eu queria, mas eu e minha mãe vamos levar nossas coisas a casa do meu pai.

- Então eu também não vou. Os veteranos me convidaram, é uma "comemoração" do primeiro dia de aula e essas coisas de faculdade. - gesticulou as aspas com os dedos.

Júlia sorriu para a amiga.

- Nossa. Rebecca Becker dispensando uma festa? Isso merece ser anotado em um bloquinho.

As amigas começaram a rir, afinal a garota nunca dispensava uma festa. Era onde podia se divertir sem pensar no amanhã.

-Meninas, será que podem compartilhar com a turma o que é tão engraçado? Também gostaríamos de interagir. - questionou o Sr. Fallen, professor de Genética.

Rebecca e Júlia se entreolharam meio assustadas com a bronca e um tanto divertidas pela situação. A segunda decidiu se manisfestar:

- Desculpe professor, não é nada importante. Pode continuar, não vamos mais atrapalhar sua aula.

Alguns alunos soltaram risadas abafadas, e outros nem sequer ousaram se mexer, pois conheciam a fama do Sr. Fallen. Ele não deixava passar uma, e para o azar das duas garotas aquele dia não estava sendo um dos melhores para o professor.

- Agora estamos todos muito curiosos. O que duas calouras em biomedicina têm a oferecer para a sala? - Ele não deixaria passar em branco, não com duas alunas dando risadinhas na sua aula.

- Realmente Sr. Fallen, não temos nada a oferecer para a sala - Rebecca teve a coragem de responder, afinal gostava de um desafio, mesmo sendo contra um professor.

Agora todos estavam olhando de Rebecca para o professor, e do professor para Rebecca, enquanto Júlia permanecia quieta observando. Ela sabia que a amiga ia até o fim em uma "discussão", mesmo esta, sendo para todos os efeitos, muito errada.

- Então por que raios davam risadinhas inúteis, enquanto eu explicava?

- Não eram risadinhas inúteis, muito pelo contrário, era um assunto muito gostoso - a garota adorou quando viu um brilho de raiva passar pelos olhos do professor, mas a sensação durou pouco, não esperava pelas palavras que vieram a seguir.

- Então você achará muito gostoso não assistir mais a minha aula, ir até a secretaria e reformular sua grade horária.

A garota ficou perplexa, não imaginava que o professor seria tão rígido. Juntou suas coisas de queixo erguido, e já estava na porta quando ouviu:

- Mais alguém quer se retirar? - Ninguém se mexeu. - Foi o que pensei.

Depois de refazer sua grade horária, foi esperar a amiga na saída. Pensando em como havia sido idiota ao desafiar um professor. Prometeu para si mesma que melhoraria nessa parte, já tinha 18 anos, a maturidade deveria estar se manifestando e não brincando de esconde-esconde.

- O que foi aquilo Rebecca? Você tem que pensar mais antes de falar, parece não se importar com as consequências. - Júlia estava mesmo indignada pela amiga ainda não ter mudado nesse aspecto. Sempre querendo ser a última a falar, o que só a ferrava.

- Nossa a coisa está feia para o meu lado mesmo né? Me chamou de Rebecca.

Júlia a olhou com cara feia, diante da brincadeira.

- Tá bom, ok, eu pensei sobre isso e vou melhorar - Júlia a olhou desconfiada, e Becca afirmou - É sério Ju, eu prometo pela nossa amizade - Levantou sua mão aberta do lado da cabeça, para demonstrar que estava falando sério embora o gesto parecesse infantil.

A amiga vendo sua atitude soltou uma risada gostosa e acrescentou:

- Com essa demonstração muito adulta, eu totalmente acredito em você agora.

As duas riram.

Rebecca lembrou, e decidiu tocar no assunto: M-U-D-A-N-Ç-A.

- Então, vai se mudar é?

- Pois é, não quer nos ajudar?

Becca estava prestes a perguntar se ela não queria ajuda, então mais que depressa aceitou o convite, e as duas seguiram para a casa de Júlia.

Quando chegaram em casa, Júlia notou que algo estava errado.

Primeiro: o portão estava escancarado.

Segundo: a porta se encontrava na mesma situação, permitindo enxergarem um grupo de pessoas lá dentro.

Terceiro: os pais de Júlia iam se mudar, não é como se pudessem fazer uma festa. Não hoje.

Entrando, foi direto falar com a mãe, cumprimentando algumas pessoas pelo caminho. Quando a viu, percebeu também uma figura masculina num canto, bastante familiar. Então ficou alerta.

Era o detetive Steven.

- Mãe, o que está acontecendo aqui? - o olhar dela era vago, passando rapidamente pela filha e parando no de Rebecca, que a olhou desconfiada.

- Becca, eu sinto muito.

Todos olhavam para a menina, com expressões tristes, alguns choravam baixinho, e Rebecca reconheceu sua tia chorando no canto. Que raios ela estava fazendo na casa da mãe de sua amiga? E por que o clima estava se tornando tão pesado dentro naquela casa? Então repetiu a pergunta de Júlia.

-O que está acontecendo? Por que você sente muito?

Ashley não conseguiu dar a notícia. O detetive se aproximou, olhou bem fundo dos olhos da menina a ponto de deixa-la desconfortável, e soltou a "bomba":

- Srta. Becker, seu pai foi assassinado.

Quando ouviu aquelas palavras Rebecca perdeu o chão, não conseguia acreditar no que tinha acabado de ouvir, seu pai estava morto? Quando deu por si se encontrava com as mãos na cabeça, chorando muito, agachada e sendo confortada por Júlia.

A amiga repetia baixinho, só para ela ouvir "Eu estou aqui, vai ficar tudo bem Becca" "Eu estou aqui, eu sempre estarei aqui".

Rebecca abriu os olhos e se deparou com uma imagem embaçada da amiga, ela sabia que Júlia não a abandonaria. Depois desse pensamento só enxergou escuridão.

O psicopata mora ao ladoOnde histórias criam vida. Descubra agora