Garotas como eu foram ensinadas a seguir ordens. Minhas bonecas foram trocadas por cartas de pôquer, as habituais noites de pijama de uma adolescente comum trocadas por festas regadas à maconha, bebida, prostitutas e muito jogo, o sorriso obrigatoriamente sempre estampado no rosto, a postura alinhada. Com uma mãe morta quando eu havia recentemente completado 15 anos e um pai viciado em jogatina, tive que aprender a me virar sozinha. Vivendo no mundo em que eu cresci era de se esperar que viesse parar onde parei. Só não podia esperar que o golpe viesse de onde veio. Era inaceitável que eu viesse parar aqui, mas mulheres apaixonadas se tornam garotas cegas.
Dou um suspiro, o cheiro de mofo invade meu cérebro e me lembram que o dia é longo e a noite mais ainda.
Minhas lembranças mergulham mais fundo quando lembro que há 3 anos as coisas eram completamente diferentes...
Sete de Setembro de 2020.
O vestido que encontrei no quarto de hospedes assim que entrei caia perfeitamente no corpo, a máscara que o acompanhava era preta encrustada de pequenos diamantes e deixava só o meu nariz e boca de fora, um bilhete escrito em uma letra corrida dizia apenas:
"Esteja linda para a noite"
Bufei de frustração, o vestido era um clássico presente de Joe, meu noivo e indicava que eu era dele e ele fazia o que bem entendia comigo. Logo quando desci para o salão de festas, os espelhos dourados que iam do chão até o teto sinalizaram que a nora do maior agiota de Londres finalmente dava o ar de sua graça no evento. A The Ballad Of Music era a maior festa do circuito social Londrino e o meu sogro, o senhor Christopher Bouvier era o anfitrião.
Dei meu primeiro sorriso da noite quando vi minha melhor e única amiga tropeçar nos próprios pés.
— Rindo da desgraça alheia Cristal! — Annie me encarava com as sobrancelhas arqueadas.
— É apenas um sorriso, mulher — ela soltou uma risada.
— Vamos lá, melhore essa cara baby, quero ver a rainha da festa estonteante. Sorria querida.
Fiz uma careta e ela logo me puxou para a pista de dança, conheci Annie na mesma época em que conheci Joe Bouvier. Tinha acabado de perder minha mãe e os dois foram essenciais para me ajudar a segurar as pontas em casa. Meu pai logo se tornou um viciado em pôquer e cerveja barata, gastando assim todo o dinheiro da família. Devia minha vida aos Bouvier, mas isso foi antes de meu pai me perder em um jogo de pôquer para o Christopher, me tornando assim, a futura senhora Joe Bouvier.
Annie sorria para mim, enquanto me oferecia uma taça de martine.
— Eu odeio essas festas — disse bem alto antes de virar o copo.
— E você sabe o tanto que iria ficar feio se você não comparecesse a balada que o seu sogro dá todos os anos. Vamos anjo, mostre-me a verdadeira Cristal Salazar — "anjo" foi meu pai que me deu esse apelido, quando eu ainda era um bebê.
— Tudo bem garota, vamos dançar.
Não demorou muito para sentir alguém segurando a minha cintura e me virando, apesar da mascará reconheci os olhos negros e o sorriso prepotente. Joe Bouvier, o primogênito, meu primeiro amor e agora o infeliz que me obrigaria a casar com ele. O cabelo preto caia perfeitamente sobre a mascará também preta, a pele branca destacava-se por baixo do terno Armani e o sorriso com covinhas dava o conjunto perfeito com a barba rasteira e os olhos. As mãos com dedos longos me proporcionava um carinho gostoso no final das costas, é fácil qualquer uma se apaixonar por ele, o único problema é que eu deixei a muito tempo de ser qualquer uma.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Trapaça
RomanceEssa história foi escrita a uns 4 anos atrás, ela é uma nova versão. Com situações completamente diferentes mas com o mesmo núcleo. Espero que gostem.