Querido Lucas...

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24/12/2016
23:47

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Querido Lucas,

hoje é véspera de Natal, uma das minhas datas favoritas de todo ano, onde nós sempre nos reuníamos com toda a família em volta da árvore para trocar presentes ou então em volta da mesa conversando sobre tudo enquanto comíamos a ceia, imensamente felizes. Sinto em dizer que não é como, nem onde estou agora.
Sentada no parapeito da minha janela, olhando para as pessoas andando alegres na Avenida Beira Mar, tudo que eu consigo sentir é um pouquinho de inveja. Todas estão felizes enquanto eu estou aqui, só existindo.
Acho que ainda tenho que superar o choque inicial das palavras que vieram na carta oficial, ah aquelas palavras, elas deixam um gosto amargo na boca mesmo sem serem pronunciadas. Eu sei que era uma possibilidade mas nunca considerei que realmente receberia uma escrito "oficial morto em combate".
Eu não sei onde está doendo mais, se é a minha cabeça depois de tanto chorar ou se é o meu coração, que aos poucos vai se dando conta da nova realidade. Uma realidade sem você.
Uma lembrança acabou de me vir a mente e por incrível que pareça conseguiu me arrancar um sorriso triste, no fim das contas você estava certo, você realmente era o Peter Pan que havia vindo pra cá por ter se apaixonado pela sua Wendy, por mim, mas parece que a Terra do Nunca é um pouco ciumenta e não quis dividir, te levou embora e me deixou aqui, sem nenhuma chance de te encontrar já que seria complicado seguir a segunda estrela à direita e então direto, até amanhecer.

Você nunca vai ler essa carta, e isso faz com que meu coração sangre um pouco mais depressa, quantas vezes nós podemos morrer e ainda assim continuar vivos? Já morri inúmeras vezes desde que li a carta e sinto que ainda vou morrer mais mil. Acho que é isso que acontece quando se perde alguém que ama, tudo dói e tudo sente.

Talvez seja melhor sentir essa avalanche de dor do que me afogar lentamente na areia movediça da tristeza, que no final vai acabar me sufocando. Pensar nisso me fez levantar uma questão, será que você sofreu ao morrer? A dúvida vai me seguir até o túmulo, mas daí, quando nos encontrarmos na terra do nunca, eu te pergunto.
Meu amor, pensar em você vai me machucar. Eu sei disso e irei aceitar a dor como uma velha amiga, mas eu espero que com o tempo ela diminua e se torne uma lembrança boa da minha juventude, onde eu amei intensamente e fui amada. Todos nós deveríamos amar e ser amados dessa forma pelo menos uma vez na vida.
Mas Lucas, meu doce amor, mesmo que você esteja inalcançável na terra do nunca, onde você irá ser uma eterna criança, a minha janela sempre estará aberta para você. E minha fé naquela história infantil se manterá inabalável, assim como o meu amor, porque é disso que a natureza é feita não é mesmo? De mente adultas apegadas a sonhos infantis. Eu estarei sempre aqui, esperando.

Com amor,
Marina."

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