Arthur - Um dia imprevisível

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Arthur se apressou pois não podia se atrasar. O sol do meio dia sempre o deixava estressado, seus cabelos agora curtos não esquentavam mais e o seu pescoço respirava melhor, sentiu mais uma vez aquele forte arrepio ao atravessar a rua, parou por um segundo e olhou para os lados antes que as buzinas dos carros o assustassem.
O calor mexia com seus nervos e ele queria chegar na casa de David a tempo, antes que o mesmo desistisse de tudo. Sua mochila estava cheia dos livros de filosofia que tanto gostava de devorar, nem mesmo lembrou que David detestava qualquer tipo de leitura, conformou-se de que eles continuariam guardados.
- Se eu demorar mais ele irá mudar de ideia e nunca mais vou ter essa chance...
Arthur não lembrava o momento certo em que aquela ilusão nasceu. David nunca o notou, desde o primeiro momento em que pisou no colégio novo a única coisa que lhe dissera foi "Você pode levar esses livros pra mim?" E desde então nunca mais o dirigiu a palavra. Todos do colégio amavam David, ele era perfeito, bonito e popular, garotos e garotas o desejavam. Arthur sempre o observava de longe, e esperava que um dia fosse notado, simples pensar que um simples olhar o faria a pessoa mais feliz do mundo. Continuou assim por muito tempo até que um dia, escutando os cochichos das garotas do terceiro ano no refeitório, Arthur descobriu que David perguntara por ele "Aquele garoto do segundo ano tem namorada?" Isso o matou do coração, "Teria David algum interesse em mim?" A dúvida o perseguiu por muitos dias até que a bomba explodiu. Caroline, sua amiga, trouxe um recado escrito por David.
"Se quiser algo comigo, esteja na minha casa as 13:00 de amanhã, ou nunca mais terá uma oportunidade dessas. Abraço, David." Perguntou a si mesmo se o que sentia estava tão na cara, como aquilo foi acontecer? Arthur não conseguia entender, ficou alguns segundos em choque. Caroline teve sua parte nisso, não aguentava o ver daquele jeito, sem pensar duas vezes decidiu dar um empurrãozinho contando a David sobre seu sentimento.
Olhou o relógio e viu que estava oficialmente atrasado, o ônibus havia quebrado e o segundo demorou demais para chegar. Decidiu ir a pé pois não podia perder mais tempo, mal podia esperar parar ver David. Sentia que aquele dia seria especial, atravessando a avenida principal mais uma vez sentiu o arrepio, parou para olhar mas o sol no rosto dificultava a visão, o susto aconteceu quando um cachorro é atropelado na sua frente, alguns segundos a mais poderia ter sido ele, não pensou duas vezes e correu para socorrer o animal. O motorista ignorou o acontecido e acelerou imediatamente. As pessoas que passavam pouco ligaram para o acontecido.
- Você anotou a placa? Um garoto  perto correu com o celular e tentou fotografar o carro, mas já estava fora de vista.
- Ele ta sangrando muito! Gritou Arthur, o garoto voltou, tirou a sua camisa xadrez e enrolou o cachorro nela colocando-o no braço.
- Você vem comigo? Arthur ficou preocupado com o cachorro, sempre teve amor com os animais e detestava vê-los sofrendo, por isso era vegetariano.
- Vou sim, vamos pegar um taxi! Eles levaram o cachorro ferido ao veterinário e juntos pagaram a conta. Ficaram observando o animal enquando descansava.
- Você vai levá-lo com você? Perguntou o garoto, que Arthur sequer sabia o nome.
- Gostaria muito, mas já tenho três em casa, aliás, como você se chama?
- Gabriel. E você também não me disse o seu. Achei muito bonito da sua parte ter corrido para socorrer o cachorro, que também deve ter um nome, ou um dono procurando por ele.
- Muito prazer, sou Arthur. Eu fiz o que qualquer pessoa deveria fazer, animais não são pessoas, mas eles tem sentimentos. Gabriel o olhava, atento a cada palavra que dizia.
- O que foi? Arthur riu. - Porquê você ta me olhando assim?
- Desculpa, é que fiquei pensando nos donos dele, concerteza ele deve ter. Parece ser um cachorro saudável e bem cuidado. O que você acha de procurarmos os donos dele? Me passa seu contato?
Ao pegar o celular Arthur lembrou de David e entrou em pânico.
- Meu Deus! Eu tô muito atrasado! Devia encontrar uma pessoa as 13:00! Gabriel ficou confuso.
- Já são 14:19 Arthur, era muito importante?
- Sim, muito mesmo... não sei o que vou fazer agora... ele nunca vai me perdoar!
- Eu não devia ter chamado você, acabei atrapalhando seu compromisso. Me desculpe.
- Não se preocupe com isso, eu teria levado o cachorro para o veterinário de qualquer forma. Preciso ir agora, obrigado pela ajuda. Arthur se virava para ir embora quando Gabriel segurou sua mão.
- Eu realmente te admiro muito pelo que fez, posso mesmo te ligar? Olhou fundo os olhos de Arthur o deixando envergonhado.
- Pode sim, encontraremos os donos do cachorro haha! Arthur soltou sua mão e Gabriel sorriu.
- Concerteza encontraremos.

Assinado EuOnde histórias criam vida. Descubra agora