Assinado Eu

Arthur e Lauren - Encontro

O sol daquela tarde ardia em suas costas impacientes fazendo com que ela não pudesse mais esperar um segundo para levar o cachorro embora. O celular tocou quando esperava em frente ao veterinário.
- Laura? Já conseguiu o carro? Não acredito que o taxi não quis levar o vira-lata.
- Tive que pedir o David pra nos ajudar, ele não sabe do Haru e nem conhece a Lauren, não vai desconfiar de nada.
- Okay, mas se ele abrir a boca, você vai me pagar, ta entendendo?
- Relaxa amiga, ele só vai achar que estou ajudando você a levar seu cachorro perdido pra casa. Estarei aí em 15 minutos. Sarah desliga antes mesmo que Laura pudesse o fazer.
Lauren havia acabado de entrar no café onde Alice trabalhava, estava distraída com o cheiro de bolo e de outros doces que tanto gostava de comer, observava tudo parada e se viu pensando em Haru outra vez, quando quase foi atropelada por Alice que carregava duas bandejas de capuccino nas mãos e se dirigia bem depressa a uma mesa próxima as grandes janelas de vidro.
- Lauren! Que bom que veio! Disse Alice surpresa enquanto servia a mesa de um garoto loiro que conversava com outro alto e bonito. Lauren sentiu um arrepio muito mais forte que os demais anteriores e quase caiu no chão, se reequilibrou sem que Alice percebesse o acontecido, parou mais uma vez para pensar em algo enterrado na cabeça, a preocupação com Haru e a intolerância de seus pais faziam com que Lauren deixasse de lado um sentimento, que a pouco tempo reprimia. Estava claro que Sarah tinha seu papel naquilo.
- Alice. Lauren a chamou baixinho enquanto ela passava sorrindo docilmente para a amiga, e logo segurou os passos para ouví-la.
- Preciso conversar com você. É muito sério.
- Tudo bem... Alice logo pensou que fosse algo sobre Sarah, ela sabia o quanto a namorada gostava de implicar com Lauren, e que ela nunca aceitou a continuação da amizade das duas. - Vou sair em 10 minutos.
Arthur não queria ter vindo ao café com Gabriel. Ele não conseguia esquecer David por mais que quisesse, mas o beijo da noite passada estava corroendo a sua cabeça desde cedo, a memória era mais real que qualquer sentimento que pudera um dia ter pelo garoto mais popular do colégio, o qual acreditava amar.
- Eu não o chamei aqui para falar da noite passada. Disse Gabriel enquanto recebia seu capuccino e experimentava com aprovação, Arthur quase derramou tudo em si ao sentir o pior dos arrepios que já sentira, mas preferiu ignorar tudo e continuar a encarar Gabriel com um certo nervosismo no olhar.
- Então porquê estamos aqui? Perguntou num tom desafiador.
- Arthur, acho que o cachorro não possui dono nenhum, eu quero adotar ele. Sei que passamos por um susto danado quando vimos ele sendo atropelado, e meio que criamos um afeto por ele. "O afeto não foi só pelo cachorro." Pensou Arthur. Gabriel parou de falar e o encarou com mais rispidez como se tivesse entendido.
- Eu me sinto responsável por ele, e entendo o seu gesto, acho admirável até, mas eu também desejava adotá-lo. Os dois se encararam um pouco mais sérios, mas logo caíram em gargalhadas.
- Deixe-me adotá-lo Gabriel, prometo que você poderá ir vê-lo sempre, Amélie sempre quis ter mais um cachorro e eu também. Por favor? Os olhos de Arthur brilhavam e Gabriel se perguntou se algum dia conseguiria dizer um não ao amigo que acreditava estar apaixonado. "Verei você também" ele pensou concordando com a cabeça.
- Seu capuccino vai esfriar. Disse Gabriel rindo, e Arthur logo voltou a tocar na xícara.       
- Você demorou. Disse Sarah enquanto Laura saía do carro com uma coleira nas mãos, logo pôde ver David saindo também.
- Desculpe. Meu pai demorou para concordar com a idéia de levarem um cachorro solto no seu carro.
- Eu trouxe a coleira dele que você deixou na minha casa aquele dia. Disse Laura piscando o olho para Sarah.
- Vamos buscá-lo então. Os três entraram. Logo encontraram o enorme labrador, que pareceu mais feliz ao ver Sarah, afinal era um rosto conhecido, Alice sempre trazia o cachorro para sua casa e muitas vezes Sarah levara ele para passear. E ela iria usar isso a seu favor.
Haru! Sarah gritou e correu até ele como se realmente fosse sua dona, ele estava em um cercado com outros cachorros mas conseguiu escapar e pular em cima dela.
- Eu procurei você por todos os lugares. Chorou ela enquanto o veterinário se aproximava e Haru lambia o seu rosto. Sarah tentou disfarçar o nojo daquela cena, e Laura estava espantada com o talento da amiga.
- Vejo que a dona dele finalmente apareceu! Disse o veterinário passando a mão sobre a cabeça de Haru.
- Sim, sofri muito ficando longe do meu amigo, estou muito agradecida por vocês terem cuidado tão bem dele.
- Agradeça aos meninos que pagaram tudo e juraram encontrar você, imagino que já os tenha encontrado. O cachorro sofreu um acidente um pouco grave mas foi forte e sobreviveu por pouco, e ele se recuperou muito rápido, aliás. Onde estão o Arthur e o Gabriel? Se não me engano os nomes, achei que estariam com você. David logo percebeu de quem se tratavam e Laura o olhou espantada com a descoberta, Sarah não podia saber que David os conhecia, pelo ou menos até conseguir o que queria.
- Ah os garotos? Não cheguei a vê-los pessoalmente, foi Laura que intermediou nosso contato, mas logo irei encontrá-los para agradecer pessoalmente. Sarah usou de todas as suas forças para parecer convincente e enganar o veterinário. Ao sair da clínica Laura tagarelava mil assuntos com o propósito de não deixar que David comentasse sobre Arthur e Gabriel, estavam tentando sem sucesso enfiar Haru no carro, mas o cachorro parecia ter desenvolvido um certo trauma com veículos desde os ultimos acontecimentos.
Longe dali alguém os observava friamente, Laura nunca gostou de animais, e nem David. O que eles faziam com esse? A dúvida enchia os seus pensamentos de ideias e a pessoa que os observava decidiu desvendar esse assunto. Depois de muito tempo Haru aceitou entrar no veículo, e todos se puseram a descansar, logo saíram de lá em direção a casa de Sarah.
- Desculpa, acabei demorando mais que 15 minutos. Alice deu um sorriso tímido para Lauren, que parecia diferente do normal, ela a conhecia suficientemente bem para notar isso.
- Você pediu algo? Perguntou Alice.
- Sim, creio que já deve estar chegando. Respondeu Lauren em um tom triste. Alice logo sentou espantada, levantou o queixo da amiga e logo viu que ela chorava.
- Lauren o que aconteceu? É sobre o Haru? Calma amiga, ele vai ser encontrado!
- Eu fui um monstro com você Alice. Agora entendo tudo que você suportou, por tanto tempo... e eu sequer percebi que isso só te despedaçava e te destruía. Alice segurou as lágrimas e limpou as da amiga.
- Porquê está falando disso agora Lauren? Eu já lhe disse várias vezes,  se ser sua amiga me faz ficar perto de você, e te fazer feliz de outras maneiras como os amigos fazem, eu sempre vou estar satisfeita com isso. Isso não mudou. Lauren olhou fundo nos olhos de Alice.
- Eu estou apaixonada por você, demorei muito pra perceber e aceitar, você é única capaz de me fazer sorrir quando o tempo está ruim, quando os dias passam devagar, quando o mundo inteiro parece estar contra mim, é você quem me faz feliz. Lauren falou rápido com muito nervosismo, Alice achou que nunca ouviria aquelas palavras da pessoa que a tanto tempo amava, demorou a acreditar no que ouvira, mas não sabia se devia estar feliz ou triste, ainda estava com Sarah e seria difícil terminar com ela.
O celular de Lauren toca, era Sarah. Ela enchuga as lágrimas e engole o resto do choro antes de atender.
- Alô.
- Olá Laurenzinha. É a Sarah que ta falando.
- Eu sei. Alice estava curiosa pra saber de quem se tratava a ligação, mas preferiu esperar.
- Eu tenho uma boa notícia pra te dar.
- Como assim? Boa notícia?
- Sim fofa. Encontrei o seu cachorro. Os olhos de Lauren voltaram a se encher de lágrimas de alegria, que logo virariam de tristeza.
- Onde ele está? Você encontrou ele mesmo? É labrador amarelo? Lauren acabou falando alto demais despertando a atenção dos garotos da mesa próxima a janela. Alice pulava na cadeira de alegria.
- Sim sim, isso mesmo. Eu conheço o Haru.
Você já levou ele pra casa da Alice várias vezes e eu sempre estou lá. Enfim, vamos aos negócios.
- Como assim? Perguntou Lauren assustada.
- Se quiser ver o seu cachorro de novo. Vai ter que cortar por total, todo e qualquer laço que você tenha com a Alice. Começando agora mesmo, sei que está no café com ela. Lauren olhou Alice assustada e ficou sem reação.
- Saia já daí! E não diga uma palavra sequer para ela! Eu saberei se o fizer, vai ter que me obedecer direitinho se não quiser que eu mande a cabeça desse vira-lata pra você numa caixa. Lauren levantou, suas expressões eram frias e tristes, não podia permitir tamanha crueldade com um animal inocente, o seu animal, o seu amigo. Sarah desligou, e Lauren saiu do café.
- Lauren? Lauren! O que aconteceu? Volta aqui! Lauren! Ela atravessou a rua sem dizer uma palavra. Alice caiu na calçada sem entender nada, quando um garoto a ajudou a levantar.
- Moça, com licença, a sua amiga gritou algo sobre um cachorro ĺabrador? Que foi encontrado?
- Sim. Alice respondeu limpando as lágrimas do rosto outra vez. - Lauren o perdeu semana passada, ele pulou do carro da mãe dela e desapareceu na avenida, você sabe alguma coisa sobre isso?
- Sim, eu e meu amigo encontramos ele após ser atropelado e levamos pra um veterinário, pagamos as cirurgias e estávamos loucos a procura dos donos dele, desculpe não me aprensentar, sou Arthur, e esse é meu amigo, Gabriel.