Clube de Arte dos Idiotas

3.6K 377 970
                                    

Finn olhou para o outro lado da rua quando uma mini van passou. Lá estava o parque da cidade. Grandes árvores, um parquinho para as crianças, mesas de concreto redondas para os mais jovens conversarem, bancos de madeira para aos mais velhos, uma ciclovia que te guiava para dentro da pequena mata.

Ele daria tudo para voltar a ser criança e poder brincar naquele parque como se a manhã seguinte não importasse. Ele preferia ter os machucados e esfoliações de tanto correr, tropeçar e cair a ter que viver com as cicatrizes dos seus problemas com os pais e amigos.

Seu mundo parecia desabar. Depois da morte do avô materno, sua mãe e tia passaram a brigar por causa da casa de campo. John, seu pai, que não fazia muita questão da casa velha e cheia de poeira e ácaros, sugeriu que elas dividissem a casa – e depois tentou convencer a mulher a vender a parte dela e guardar o dinheiro.

Mas aquilo não ia dar certo. Clarie achou um insulto e passou a fazer piadinha sobre tudo. "Que tal você vender metade do seu carro para o seu irmão e ficar com o dinheiro?". Aquilo deixava John no limite, ainda mais quando ele chegava em casa depois de um plantão cansativo e ela falava algo do tipo.

Desde então o clima da casa era de guerra. Finn ficava na dele, só aparecia na cozinha quando chamado e passava a maior parte do seu tempo em seu quarto ou no sótão.

E na escola as coisas estavam ruins fazia dois anos. Finn saiu da equipe de basquete da escola – a qual ele fazia parte desde pequeno – e seus amigos começaram a se perguntar o que estava acontecendo com ele. Nem ele sabia o motivo daquela decisão, talvez porque ele não se interessasse mais por basquete, simples assim. 

Logo os amigos o excluíram do grupo e ele passou a ser um lobo solitário no meio das alcateias escolares. Almoçou sozinho, fez trabalhos com o pessoal que sobrava, foi convidado para poucas festas durante o ano.

Eu nunca gostei desse estilo de vida mesmo. Esse era seu pensamento quando se sentia mal por estar em casa sozinho. Seu aniversário de 16 anos foi solitário, alguns garotos do clube de matemática apareceram e eles jogaram poker até as acusações de que fulano estava contando as cartas começarem. Finn teve que expulsar dois garotos que estavam aos tapas.

Com 17 anos nas costas, ele finalmente se sentia bem. Tinha migrado de clube na escola mais umas duas vezes até conseguir se encaixar no clube de arte. Era ele e mais quatro pessoas – três garotas e um drogado que só estava lá porque a professora gostava dos borrões de tinta que ele fazia quando estava alto.

Naquela manhã de quarta feira, Finn carregava seu caderno, o livro da aula de literatura, a máquina fotográfica retrô que a avó tinha lhe dado de presente de aniversário e o celular. Sua mochila verde militar surrada estava pendurada em seu ombro direito. Seu cabelo castanho, na altura do queixo, se mexia quando o vento ficava mais forte. O sol estava tímido, escondido entre as nuvens brancas.

Era um caminho curto de sua casa até a escola, mas Finn gostava de acordar cedo para sair num horário que lhe permitisse andar pelo bairro até dar o horário do primeiro sinal. Ainda mais naquele final de verão e início do outono.

O clima estava ficando agradável e ele podia andar tranquilamente pela rua vestindo jeans, camiseta e moletom sem ser chamado de doido.

Finn chegou à entrada da escola a tempo de ouvir o primeiro sinal. Na quarta feira, ele tinha dois tempos de química, um de geometria, dois de literatura e um de educação física. Não era um dia tão ruim assim.

Pegou seus livros no armário e apressou-se para chegar a tempo na aula de química, Sr. Specter não gostava muito de alunos que se atrasavam e, como forma de mostrar que detesta esse "hábito nojento de adolescentes mal acostumados", ele escolhia dois alunos para falar sobre algum assunto que somente ele conhecia.

Clube de Arte dos Idiotas | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora