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- Vocês são os melhores amigos de todos os tempos e do mundo inteirinho. - Bia gritou enquanto pulava e abraçava eu e Lucca.

- Você passou? - Peguntei me referindo ao teste de matemática que fizemos alguns minutos atrás.

- O Sr. Stwart pediu para falar comigo depois da aula. Disse que eu dei muita sorte. - Ela falou com um sorriso de orelha a orelha.

- A gente precisa comemorar. - Lucca falou com um sorriso preguiçoso no rosto.

- Agora. - Bia afirma animada.

- Não posso. - Sorrio de forma tímida já imaginando a reação deles.

- O quê? - Os dois perguntam em uníssono.

- Tenho que visitar minha vó. - Explico com a expressão mais agelical que consegui fazer no momento.

- Ruivaa.. - Bia incorpora sua versão mais dengosa. - Você já visitou ela esse mês. - Puxa meu braço. - Espera aí! Você não está mentindo para gente, não é. Porque se estiver, essa desculpa é mais velha que a minha avózinha. - Ela se coloca na minha frente e estreita os olhos verdes e expressivos.

- É verdade. - Lucca intervém me defendendo. - Ela não anda muito bem esses dias. Encontrei sua mãe no mercado na segunda. - Se explica rápido apontando para mim devido as expressões de nós duas.

- De qualquer forma eu realmente preciso visitar minha vó, minha mãe me mataria se eu não fosse.

- Quer que eu te leve? - Lucca pergunta. - Já está quase de noite, é muito perigoso você ficar andando por aí sozinha. - Ele passa a braço pelos meus ombros enquanto saíamos da escola.

- Não precisa mamãe. - Falo brincando. Ás vezes Lucca parecia mais a mamãe urso do que meu melhor amigo.

- Você é quem sabe. - Falou fazendo uma careta devido ao apelido.

***


"Já chegou?" Lucca

"Quase.." Arabella

Respondo o que já deve ser a décima quinta mensagem do Lucca em menos de dez minutos. Eu amo ele, de verdade, somos amigos desde sempre, mas ás vezes ele me sufoca.

Assim que entro no metrô me sento no primeiro banco que encontro e coloco meus fones com Cage The Elephant no volume máximo.

- Even on a cloudy day..even on a cloudy day..even on a cloudy day... - Canto baixinho enquanto observo as pessoas que estão perto de mim.

Eu amo esses momentos em que consigo ficar sozinha, é como se pudesse ser eu mesma, ninguém se importando com o que faço ou deixo de fazer.

Poucos segundos depois sinto seus olhos em mim. Como sei que é ele? Não faço ideia.

Olho para frente ele está olhando para mim. Olhos cinzas como uma tempestade.

Quem é ele? Eu sinceramente gostaria de saber.

Esses olhos estão me atormentando a cerca de anos em forma de sonhos. Estão na maioria dos meus desenhos espalhados pelo meu quarto.

É como se meu corpo inteiro fosse eletrizado só pela sua presença. Meu coração se esqueceu como funcionar direito e o ar simplesmente sumiu dos meus pulmões. E por mais incrível que possa parecer essa sensação já me é familiar, sinto ela cada vez que acordo no meio da madrugada para fazer um desenho novo.

Ele sorriu.

Pisquei algumas vezes para ter certeza de que era real, mas o sorriso continuava ali.

Não sei se gosto do que estou sentindo agora, ou se saio correndo.

Acho que dessa vez sim eu pirei de vez.

O problema é que só vou descer lá para última estação,ou seja, se ele não descer logo eu acho que meu coração pode não se recuperar do seu mini ataque.

Pior ainda é eu não querer me recuperar, não quero que ele vá embora. Afinal de contas não é todos os dias que se encontra o homem dos seus sonhos. Literalmente.

Ri dos meus pensamento idiotas enquanto desviava meu olhar para o outro lado do metrô.

- Oi. - Meu corpo inteiro entra em colapso ao ouvir sua voz.

Como eu sabia que era dele?

Não faço ideia, só sentia.

- Oi. - Respondo devagar observando ele sentado ao meu lado, nem percebi quando ele fez isso.

- Nicholas. - Olho pra ele sem entender nada. - Meu nome. - Explicou. - E o seu? - Continua como se fosse a coisa mais normal do mundo.

Talvez seja, e eu é que seja estranha.

Que ódio. Por que eu não posso ser normal pelo menos uma vez na vida.

- Arabella. - Falei ainda meio confusa. E ele sorriu de novo, o que só me deixou mais paralizada ainda.

Foco Bella, é só conversar. Você faz isso todos os dias, é só conversar.

- Legal. - Nicholas falou pegando um dos meus fones e colocando em seu ouvido. - One republic?! - Falou parecendo surpreso. - Some people lie but they're looking for magic... Others are quietly going insane... I feel alive when I'm close to the madness... - Começa a cantar desafinado.

- No easy love could ever make me feel the same. - Completo em voz baixa mais falando do que cantando.

E assim sem eu nem perceber a tensão sumiu, e eu me senti, estranhamente, livre.

- Eles são simplesmente icríveis. - Falei me referindo a uma das bandas que eu gostava enquanto saíamos do metrô.

- Você tem que ver eles ao vivo. - Nicholas falou com um sorriso de lado.

- Você já foi á algum show deles? - Perguntei incrédula.

- Uns dois anos atrás numa viajem de férias. - Respondeu parecendo satisfeito por me surpreender.

- Acho que vai chover. - Falo desistindo de tentar arrumar meu cabelo que o vento insiste em bagunçar.

- Talvez. - Nicholas coloca sua jaqueta sobre meu ombros.

- Não precisa. - Falo sentindo meu rosto esquentar devido sua proximidade.

- Precisa sim. - Coloca uma mexa do meu cabelo atrás da minha orelha. - Se você ficar doente vou me sentir culpado. - Ele murmura as últimas palavras se afastando de forma estranha e repentina.

- O que foi?

- O que é isso? - Ele ignora totalmente minha pergunta apontando para meu pescoço.

- Um amuleto. - Falo sem entender.

- De prata?

- Acho que sim... - Respondo estranhando totalmente sua reação. - Ganhei de presente de aniversário.

- Do seu pai? - Pergunta dando mais um passo para trás.

- Não, um amigo. - Falo irritada pelo jeito estranho que ele estava agindo. Será que nada na minha vida pode ser normal pelo menos por um instantinho.

- É...eu preciso ir...estou meio atrasado... - Nicholas mais gagueja do que fala enquanto saia de forma apressada.

Antes mesmo que eu pudesse falar qualquer coisa ele já havia desaparecido no meio da multidão de pessoas que deviam estar voltando para casa depois de um dia cansativo de trabalho.

Só então percebi que fiquei com sua jaqueta.

- Que ótimo. - Resmungo frustrada para ninguém em especial.

♡♡♡

ArabellaOnde histórias criam vida. Descubra agora