A madrugada era fria. O vento tomava conta de toda a cidade que era iluminada somente pelas luzes fracas dos postes ao seu redor. Eu escutava os pingos de chuva forte baterem na janela, e escorrerem pelo vidro a fora. Deitada em minha cama, pensava em como pude deixar as coisas chegarem a tal ponto. 19 anos, larguei tudo pra trás ao lado de meu melhor amigo, para ajudá-lo a realizar seu sonho.
Durante os primeiros seis meses tudo corria às mil maravilhas, mas agora tudo pareceu desandar. O motivo? O mais simples e mais clichê de todos: me apaixonei por nada mais nada menos, que meu melhor amigo.
Seu nome é Edward, estudamos a vida inteira juntos, sempre o considerei como um irmão mas de uns tempos pra cá, comecei a vê-lo com outros olhos. Talvez seja o seu jeito idiota, talvez seja por quanto gosto de ouvi-lo me chamar de "meu floco de neve", talvez seja seus cabelos ruivos que estão sempre desarrumados e desgrenhados, de repente tudo nele começou a ficar interessante aos meus olhos.
Era sábado, 00h00 e Ed ainda não havia voltado, depois de nossa última briga tinha medo de onde ele poderia ter se metido. Com certeza deve estar bebendo, rodeado de mulheres ... novamente. Será que ele não percebe o que está acontecendo? Não, claro que não. Porque havia de perceber?
Levantei e resolvi tomar um banho, quem sabe com um banho quente a água não lavaria minha alma e levaria também os sentimentos dolorosos que no momento habitam meu coração pelo ralo. Após o banho, coloquei meu roupão e resolvi esperar na sala, liguei a tv, como sempre e estava assistindo "Shrek" e sorri sozinha, Ed sabe o quanto eu amo "Shrek", um dia desses assistimos ele 12 vezes seguidas e ríamos feito bobos. Isso era uma das qualidades que mais prezava nele, ele não se importava de ser bobo em minha frente, ele não se importava com nada quando estava ao meu lado.
Em meio desses pensamentos, escutei o trinco da porta se virando e logo meu sorriso se fechou: Edward acabara de entrar com seus braços ao redor da cintura de uma mulher loira, ele estava visivelmente embriagado, tinha um sorriso sacana estampado em sua face, a garota possuía um semblante feliz, sentia meu sangue ferver nas veias. Não aguentava mais essa situação.
- Não foi dormir ainda? - Perguntou com a voz um tanto quanto alterada. Não respondi, simplesmente levantei e fui em direção ao meu quarto, porém quando estava passando, Ed segurou um de meus braços com força, me fazendo virar e encarar seus olhos azuis. - Me solta, por favor! Preciso acordar cedo amanhã. Ele soltou uma risada abafada, olhou para a garota que ainda estava parada ao seu lado e disse: - Obrigada por ter me ajudado a chegar até aqui, a gente se vê. Dizendo isso, dirigiu-se até a porta, levando-a e se despediu.
- Onde você estava? - Perguntei baixo.
- Agora vai querer controlar até os lugares que vou? - Disse ríspido.
- Eu estava preocupada ... Você ... Você estava demorando a voltar, essa chuva só piorava e ...
- Não tem com o que se preocupar Anna. Agora quer controlar os lugares que vou, com quem eu saio, o que faço. Porquê isso de repente? Não saí de casa pra viver meu sonho, pra ter alguém enchendo o meu saco, e é isso que você vem fazendo por essas semanas. Eu sinceramente, não estou aguentando mais você!
- Ah, não está mais me aguentando? Que se foda! Você acha que é assim que vai conseguir realizar seus objetivos? Saindo, se metendo com vagabundas, bebendo? Você é ridículo! - Sei que não devia ter falado essas coisas à ele, mas estava tão magoada por dentro, não estava pensando no que minhas palavras poderiam causar. Me virei e fui pro meu quarto, mas escutei passos atrás de mim, Ed me empurrou de encontro à parede e ficou olhando em meus olhos, seu olhar era profundo e penetrante, corei e olhei pra baixo.
