Acordar. Uma palavra. 7 letras. 1 sentimento: sofrimento. O problema não era o ato em si, mas em como eu estava fazendo. Estava acordando sozinha. Completamente sozinha. E para completar o sofrimento, tinha de ir a escola, era o primeiro dia de aula. Sim, eu tenho amigos. Mas eles não são incentivo suficiente para me fazer ficar trancada em uma sala ouvindo pessoas falando por 5 horas. Mas é aquele ditado, vamos fazer o que?
Enfim levantei. Uma dor invadia minha cabeça, como se estivesse sendo pregada com um martelo, mas não podia dar ao luxo de reclamar. Famílias normais vão ao médico em qualquer sintoma anormal. Eu? Nunca fiquei doente e essa não seria a primeira vez. Parecendo um zumbi de The Walking Dead, prossegui até a cozinha, que era minúscula. Uma quitinete era o máximo que conseguia arrumar, até porque, quando se é uma garota de 16 anos morando sozinha e vivendo de roubos, viver em uma mansão está fora de cogitação. Após pensar em roubo, uma série de flashbacks invadiram minha mente.
[...]
Ora, Allison, não se sinta mal. Faço isso para sobreviver.
Pensamentos errôneos não poderiam ter espaço naquele momento, então liguei o rádio na altura máxima, para que não pudesse mais dar atenção a eles. Estava tocando Closer. Eu poderia cantar aquela canção de trás pra frente, de frente pra trás, de cima a baixo. Era a minha música. Lembro dos momentos felizes em que a cantei com meus amigos, pouco antes de me distanciar deles. Naquele momento, eu me senti infinita. Como se nada pudesse me parar. E então, decidi revogar minha decisão de continuar a manter distância deles. Eu iria para o primeiro dia de aula amanhã. Pena que não pude pensar muito sobre isso, pois já conseguia ver o negro alto e esbelto, com corpo rústico e forte, careca. Era Robbie. Parei o carro ao seu lado e sai dele, com um envelope e a carteira da moça dentro da blusa e no bolso, respectivamente.
— Allison! — Disse ele. — Quanto tempo, huh!
Ele parecia estar animado, pois veio logo me abraçando. Não sou fã de afeto, mas era necessário mostrar algum, então retribui.
— Robbie! Disse, com dificuldade, quase esmagada pelos seus braços. — Não faz tanto tempo assim. Só... — Começo a contar nos dedos, pensativa, até chegar em uma resposta. — 4 semanas.
— Bem, garota, se fizesse o que eu faço, saberia que 4 semanas é um looooongo tempo! — Sua voz debochada me trazia certa segurança naquele local sombrio. — Então, o que temos aqui? — Disse ele, analisando o carro enquanto andava em volta do mesmo.
— Um carro top. — Falei, com muito nojo e uma cara de desprezo. Eu odiava aquela palavra com todas as minhas forças.
— Gostei. Aqui está seu pagamento.
Puxou da carteira várias notas e me entregou. 2000 dólares, pra ser exata. Suficiente para garantir minha sobrevivência nas próximas semanas. Sorri vitoriosa para ele e peguei o dinheiro. É tudo que me lembro daquela noite.
O alarme do celular estava apitando feito louco. Aquilo me deixava irritada!
— JÁ ENTENDI, JÁ ENTENDI! — Gritei lá da cozinha, enquanto tomava um remédio para enxaqueca. Corri em direção ao quarto para não enlouquecer com aquele barulho. Desativei o despertador e, quando caminhava em direção a saída do mesmo, uma notícia na televisão me chamou atenção.
Encontrada morta hoje, a advogada Carly Simpson, na floresta que fica ao redor de Roseland. A vítima parece ter sofrido graves lesões na perna e no pescoço. A polícia já fechou o local para investigação...
Era perto de onde eu roubei aquela moça. Peguei a carteira, na mesa de cabeceira da cama e olhei o que havia lá. Um cartão de crédito, foto 3x4 de criança, 20 dólares, cartão da firma e... Sua identidade. Carly Simpson, era o que estava escrito lá. Deixei tudo cair no chão e olhei fixamente para a foto.