Era uma vez em uma terra distante, onde fadas, anões e elfos viviam em paz com os humanos, duas irmãs bruxas moravam em um vilarejo isolado em um vale belíssimo. Seus nomes eram Tatra e Tetra.
Tatra era a mais velha, tinha seus 160 anos de bruxa e se preparava para escolher a escola de magia que deveria seguir. Era muito boa em feitiços da Terra, e tudo indicava que seria esse seu caminho. Tetra, a mais nova, ainda tinha 140 e muita coisa a aprender, apesar de sua aptidão inigualável para a escola do Ar.
Tetra certa vez, chegou em casa eufórica! Tinha um segredo, e não queria dividir com a irmã. Vinha do rio com um balde de água fresca para o caldeirão, rodopiando pelo aposento como um dente de leão ao vento. Certamente alguma bobagem infantil que Tatra não deu muita importância. Saiu então para colher ervas para os chás, deixando sua irmã e seus segredos para lá. Seguiu o rio, e entrou na floresta. Lá estava o filho do lenhador em seu trabalho braçal.
Era um rapaz bonito. Alto, largo devido ao trabalho com o machado e simpático. Cantarolava alguma canção dos humanos que Tatra desconhecia. Sorriu e pôs-se a recolher as ervas que encontrava por ali.
O rapaz, a pesar de estar concentrado no trabalho, notou que Tatra estava por perto. Olhou de canto de olho, enquanto acertava com o machado em um tronco particularmente grosso de pinheiro. Eram bem famosas no vilarejo, as irmãs bruxas. Era para elas a quem todos recorriam quando precisavam de um chá para as dores, ou uma sutura para os cortes. Antes delas era para a mãe, e antes desta para a avó, por gerações incontáveis.
O filho do lenhador sentiu-se particularmente sortudo neste dia. Pôde observar as irmãs, famosas também por sua beleza, tão diferentes uma da outra, como o dia era da noite, em uma mesma manhã. Tatra era toda curvas e gostava de mostrar bastante pele. Realçava sempre o olhar com carvão, o que lhe dava uma aparência felina, e adornava os lábios com sumo de amoras, sempre virado em um sorriso. Tetra era o oposto. Reta como uma tábua, porém tinha um andar, uma aura, que chamava a atenção. O rosto fino ostentava apenas as cores naturais com as quais nascera e raramente sorria. Sorriu para ele mais cedo, entretanto, não pode deixar de notar.
Tatra estava concentrada no que fazia. Colhia um mato qualquer, cheirava as folhas, cortava as raízes com uma faca de cabo branco e as amarrava separadas, colocando em seguida em sua cesta. Parou então em frente a um sabugueiro, rodeou uma vez, procurando entre seus galhos algo que o filho do lenhador não fazia ideia do que fosse. Tanto era sua concentração que ele parou o próprio serviço, intrigado.
Tatra então tocou a casca da árvore e fechou os olhos como que em prece. Sacou a faca de cabo branco e cortou um galho nodoso. Demorou-se ainda, retirando as folhas do galho, que ia colocando em sua cesta. Quando se deu por satisfeita, olhou para o seu trabalho e sorriu. Percebeu então que o filho do lenhador a observava.
Levantou-se com toda sua graciosidade felina e embainhou a faca, que levava sempre às costas, como era costume entre as bruxas. Testou o peso do galho entre os dedos, enquanto caminhava distraída. Há tempos procurava o material ideal para sua nova varinha. Iria precisar para quando entrasse para o colégio. Sorriu, acenou para o garoto com seu machado e pôs-se a caminhar de volta para a casa. Ainda teria que assar os pães e doces para vender mais tarde. Refez seu caminho de volta à casa, cantarolando a canção do filho do lenhador.
Em casa, Tatra guardou as ervas, separando apenas as que iria usar nos pães. Tetra ainda estava sorridente. Não era de seu feitio sorrir tanto. A irmã mais velha estava ficando curiosa do porquê de tanta alegria. Tentou arrancar alguma coisa dela, enquanto sovava a massa de pão. Descobriu apenas que tinha a ver com algum garoto do vilarejo. Tatra gostou de saber que a irmã finalmente tinha desabrochado como mulher. Estava ficando preocupada. Uma bruxa sem interesse nos homens era algo inédito para ela.
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Tatra e Tetra
FantasyUm conto sobre sororidade entre irmãs que podem contar apenas uma com a outra num mundo tomado pelo egoísmo e pela inveja.