Decisão Crucial

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Os primeiros raios de sol começaram a passar pela fresta da janela, obrigando Áquila despertar de seu sono. A jovem não conseguiu abrir seus olhos por longos minutos.

O ano era novo, o quarto era o mesmo e o calçado que calçou naquela manhã para ir à escola, era o mesmo de quando estava no primeiro ano do ensino médio, há dois anos. Seu calçado foi a única coisa que a surpreendeu naquele dia, pois pensava ela que por R$25,00 reais, não duraria duas semanas.

Na classe, o assunto dos seus colegas, para sua tormenta, era algo que Áquila sempre que podia evitava. Ela sabia que o ano em que teria que escolher entre a sua preferência e a preferência imposta pela sociedade chegaria. Para muitos a decisão não era difícil, ela mesma se perguntava porquê se importava tanto, se independentemente todos estão entregues a um só fim, a morte. Se aconchegou na cadeira dura que estava sentada e puxou a mesa a sua frente para perto e se alguém estivesse a observá-la, contaria pela quarta vez esse mesmo movimento desde quando começaram tal assunto. Deu a hora do intervalo. Áquila agradeceu em silêncio e se juntou a duas amigas que risonhas falavam sobre a tarde que passaram no shopping no dia anterior, em que Áquila, alegando já ter compromisso, mas sem mencionar que era com os estudos,não participou. Pensou que sua tormenta acabaria após o intervalo, mas estava errada. Uma professora em meio aos seus sermões citou certo rapaz, cujo nome Áquila não se esforçou para memorizar. A professora dizia o quão estava orgulhosa, pois esse rapaz que havia sido seu aluno,iria se tornar um engenheiro. Fato que ela repetiu três vezes. "Ele vai se tornar engenheiro", "Engenheiro!", "Agora vai ser engenheiro!". Áquila se sentiu mal, não pelo rapaz, é claro, afinal ele iria ser engenheiro! Mas por ela. Ficou a pensar e teve vontade de perguntar para a professora se sentiria orgulho dela também se ela se formasse em Letras. Mas o que sempre fazia com seus sentimentos fez com a vontade, guardou-a. Sabia que como todas as outras professoras, essa também diria a ela para seguir outro ramo,poupou-se.

A jovem a cada dia pegava mais rancor da própria sociedade, que não lhe permitia nem escolher a própria profissão. Ora pensava que pelas professoras serem mais velhas, deveria aceitar o conselho. Ora pensava que se fosse para escolher algo que fosse aquilo que mais gostava e a sociedade é que fosse se danar! Mas temia se danar junto. Áquila engoliu o choro durante as duas aulas que faltavam. Mas quando as mesmas acabaram não o pode mais fazê-lo.

Apressada para sair dali, guardou seus materiais socando-os dentro de sua mochila. Sentiu um aperto no peito, eram suas angustias pós aulas. Normalmente começavam quando chegava em casa, mas trataram de se adiantar. Áquila não queria se expor diante dos outros, que desde quando chegou na nova escola,há um ano, não se importaram com ela. Não mereciam saber porquê chorava e que chorava sem mais nem menos.

Conseguindo segurar ainda as lágrimas que surgiram, andou apressadamente para fora da sala para longe das pessoas que mesmo sem querer a atormentava.Passou pelos corredores que ainda estavam vazios e chegou no pátio, onde pode avistar não muito longe dali o portão sendo aberto. Ali parou ofegante. Sua angustia parecia não caber dentro de si. Continuou seu caminho, tudo o que queria era estar no seu quarto, deitada na sua cama enxugando suas lágrimas na sua coberta estampada. Sua casa ficava a duas quadras da escola, não seria muito difícil satisfazer sua vontade. Mas atravessando a esquina não percebeu que um motorista desatento ao trânsito e atento ao celular avançou sobre a faixa de pedestre. Seu corpo foi lançado longe. Os alunos, os mesmo que ela não queria se expor, formaram um círculo ao redor dela.

Naquele instante, a vida poupou-a da mais difícil escolha que teria que fazer ao terminar o ensino médio. Mas quando o celular despertou, indicando que era hora de dar início a sua velha-nova rotina, abriu os olhos de um vez um pouco assustada.

Passou a mão por dentro da gola de sua blusa e retirou de lá um pingente em formato de flor de lis, que reluzia refletindo o pouco de luz que entrava pela janela. A jovem se acalmou, deu um sorriso tímido e prometeu a si mesma que não deixaria que ninguém a impedisse de realizar o seu sonho.





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