Chrysalis

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 Primeiro sinto o vento em meu rosto. Depois sinto os pesados pingos de chuva que me encharcam por completo. Abro lentamente os olhos e levanto a cabeça, tentando me localizar.

Onde estou? O que está acontecendo?

Os pingos de chuva embaçam minha visão, mas não é por isso que não reconheço o lugar. Apoio-me na terra - já úmida pela chuva - e levanto-me, cambaleando um pouco.
Estou no que parece ser uma floresta, e o vento está tão forte que seria capaz de derrubar algumas dessas árvores.

Eu estou presa em uma tempestade? Como cheguei aqui? E onde é "aqui"?

Olho de um lado para o outro, procurando algum lugar para me abrigar, mas vejo apenas árvores. Coloco a mão em frente ao rosto, tentando inutilmente proteger os olhos do vento e da chuva, e vejo algo.

É um farol. Provavelmente estarei segura se conseguir chegar lá.

- Por favor, que eu consiga chegar lá - murmuro e começo a seguir a trilha.

Ao chegar no fim da trilha, me aproximo do penhasco e automaticamente arregalo os olhos de surpresa.

Um tornado. Um tornado está destruindo a cidade que posso ver ali embaixo. Telhas estão voando, incluindo coisas mais pesadas, tipo carros, e eu continuo ali, parada.

- Puta merda - murmuro.

Então algo bem pesado atinge o farol atrás de mim, fazendo-o vir em minha direção, e tudo que consigo fazer é gritar "Não!".

- Uou.

Levanto a cabeça e olho ao redor.

Isso foi tão surreal.

- Alfred Hitchcock disse uma frase famosa, que filmes são "pequenos fragmentos de tempo", mas ele poderia claramente estar se referindo à fotografia - o Sr. Styles, meu professor de fotografia, diz.

Olho no relógio. Cinco minutos para o fim da aula.

Tudo bem. Eu estou na aula. Está tudo bem. Tudo vai ficar bem.

- Esses fragmentos de luz podem retratar nossa glória e nossa tristeza; da luz à sombra; da cor ao claro-escuro - o professor continua seu discurso.

Observo Taylor atirar uma bolinha de papel em Allyson, que parece estranhamente cabisbaixa. Ela parece sempre estar feliz.

Bem, parecia.

E, do outro lado da sala, observo o celular de Ariana tocar.

- Bem, agora alguém poderia me dizer um exemplo de um fotógrafo que capturou perfeitamente a...?

Eu certamente não caí no sono. E aquilo certamente não parecia um sonho... Muito estranho.
Ariana ergue a mão.

- Diana Arbus.

- Muito bem, Ariana - elogia o professor. - Por que Diana Arbus?

- Por causa das suas imagens de rostos desesperados. Você se sente totalmente assombrado pelos olhares tristes daquelas mães e filhos.

- Ela via a raça humana como torturada, certo? Francamente, isso é bobagem. Mas shh, guardem isso para si mesmos. Falando sério, eu poderia colocar qualquer um de vocês em um quarto escuro, e tirar foto de um momento desesperado - ele fez uma pausa. - E qualquer um de vocês poderia fazer isso comigo. Não seria fácil?

Desprendo a atenção da aula e olho em minha classe, um pouco desarrumada. Ali estão o meu estojo - que eu deveria substituir por um deste século -, e a fotografia que eu deveria entregar para o concurso de fotografia.

Life Is Strange (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora