Tudo começara numa agradável casa de praia. Eu e os meus pais tínhamos alugado aquela casa a uns senhores aparentemente ricos e por isso tinha-nos custado muito dinheiro. Para mim, aquelas férias tinham que ser as melhores de sempre. Tinham tudo para ser: uma boa e simpática casa, uma praia maravilhosa onde a água parecia aquecida e ainda vivia ao pé de mim um amigo que eu já não via desde a escola primária mas que tinha tido a oportunidade de o voltar a ver na segunda-feira passada. Chamava-se Hugo e eu tinha-o conhecido, como referi, na escola primária. Ele era um ano mais velho do que eu, era alto e moreno, tal como eu. Sentia que ele poderia ser o meu melhor amigo nestas férias pois íamos passar muito tempo juntos, mas também não queria inventar fantasias na minha cabeça. Sem divagar muito, vou passar para outras partes, visto que já perceberam a introdução da história. Estava eu na tal praia, haviam muitas pessoas na água, muitas mesmo. O mar, visto de longe, parecia carregado de formigas sem menosprezar, é claro, as pessoas que estavam lá. Acho que naquela praia eram poucas as pessoas que tinham medo do mar. Mas eu era uma delas. O meu amigo Hugo tinha tentado convencer-me a experimentar ser mais liberto com o mar mas eu disse-lhe logo que não. O mar era uma coisa tão bela mas tão assustadora ao mesmo tempo. Sim, tenho medo daquelas ondas enormes, das correntes que mais parecem cola a puxar-te, das rochas pontiagudas onde podes bater com a cabeça, sim, tenho medo disso tudo. E era por isso que lhe tinha dito na hora que não. Ele concordou e eu admirei a atitude dele pois, provavelmente, se fosse outra pessoa, teria insistido no assunto. Prosseguindo no anterior acontecimento, estavam então muitas pessoas na água e aquilo, nos meus inocentes olhos, parecia-me estranho. A bandeira estava amarela, mas mesmo assim, as pessoas não tinham qualquer receio.
- ''Estranho'' – pensei eu.
Aquela praia tinham um limite até onde as pessoas podiam ir, a partir daí, era passagem proibida. Nunca percebi bem o porquê dessa passagem proibida pois era a partir dessa passagem que as coisas se tornavam ainda mais fantásticas do que já eram. Falo da paisagem natural, com rochas cada vez maiores mas com a sua beldade genuína, o mar que fazia ondas também enormes e que o seu «splash» fazia um enorme eco. A areia estava coberta de conchas de todas as cores, búzios e algas maravilhosas. E a água parecia ainda mais quente que do outro lado. Mas digo também: quem pensou em vedar aquilo não tinha sido muito esperto, ou pelo menos, quem tinha vedado aquilo também não tinha sido. A vedação da parte proibida era apenas uma simples cerca que até uma criança dos seus sete anos conseguia pular. Ou seja, qualquer pessoa podia ir para a chamada parte proibida. Como eu não conhecia aquele local, não fazia ideia se muitas pessoas iam para lá ou se se fossemos para lá podíamos ser multado. Uma coisa que eu sabia era que tinha visto no meu computador imagens da tal parte proibida. Eu, sinceramente, gostava de ir para a parte proibida mas nunca me tinha atrevido a tal. As ondas, como tinha dito, eram mesmo enormes e facilmente ficávamos sem pé na água. Mas por outro lado, a sensação maravilhosa de estar ao pé da maravilha do mundo era também um fator muito forte na minha cabeça. Pensei em falar com os meus pais, eles talvez aceitassem ir comigo, mesmo sendo uma passagem proibida, pois eles gostam de ver as coisas fascinantes deste planeta. Mas, e digo isto sinceramente, com eles não era a mesma coisa. Sabia que com eles haviam mais restrições, não me podia aproximar tanto do mar, não podia estar nas rochas e essas coisas que me fizessem sentir a liberdade máxima. E foi por estas razões todas que decidi não lhes contar nada. Tive outra fantástica ideia: falar com o Hugo, com ele seria tudo uma diversão e não havia qualquer problema em fazer as coisas mais radicais. Por isso, corri a sete pés para minha casa, pois já eram horas de almoço, almocei em família e fui para casa do Hugo. Toquei à campainha mas ninguém me abriu a porta.
- ''É claro!'' - pensei eu.
Com este tempo maravilhoso, o Hugo só podia estar na praia. Tinha caminhado uns valentes metros para ter que voltar para trás. Fui então à praia, decidi procurá-lo, mas a praia era muito extensa. A bandeira tinha mudado para verde e haviam ainda mais pessoas na água e até mesmo no areal. Como eu ia encontrar o Hugo? Era como encontrar uma agulha num palheiro e ainda por cima eu não tinha o número dele. Estava triste, tinha tido uma grande ideia e tudo parecia ir por água abaixo. Decidi então voltar para o sítio da passagem proibida. E com a máxima coragem que tive em toda a minha vida, pulei a fácil cerca e caminhei por um longo caminho. Ao fundo desse caminho avistei uma pessoa. Era alta e morena, tal como o Hugo. De repente, percebo que era o Hugo que estava lá. Mas como é que é possível? Perdi duas horas à procura dele e ele estava afinal no sítio que eu queria. Provavelmente ele teria almoçado e depois tinha ido logo para a parte proibida. Corri até ele, dei-lhe um enorme abraço e perguntei se estava tudo bem e essas coisas. Ele disse-me que achava estranho eu estar aqui pois eu tinha tanto medo do mar. Por momentos fiquei magoado com o que ele disse, mas sabia que não tinha dito por mal. Simplesmente lhe disse que já há muito queria vir para a parte proibida, admirar a maravilhosa paisagem que ali havia. Ele compreendeu e perguntou se eu queria ir para o mar. Veio-me uma má sensação à barriga e o meu coração tinha começado a bater mais depressa. Já muito nervoso, inventei a desculpa de que tinha que fazer um recado dado pela minha mãe. Nós apenas nos conhecíamos há poucos dias, tirando a parte da escola primária, mas ele percebeu logo que eu estava a mentir. Mesmo assim ele concordou e disse para eu ir. E eu fui. Estava eu então a correr pelo longo caminho, quando me lembrei que lhe tinha que pedir o número. Voltei então para trás e pedi-lhe o número, mas tinha sido tão esperto, que não tinha trazido o telemóvel. Ele também não o tinha trazido mas sabia-o. Eu até podia apontar o número num papel, mas além de me faltar a caneta, faltava-me o próprio papel. Que grande confusão! Estivemos poucos minutos a pensar até que o Hugo deu um salto e disse: