Capitulo 5: Miragem

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Eu estou voando. Meu Deus. Não é assustador o fato de estar em um avião há milhares de metros do chão, já viajei dezenas de vezes, mas me deixa simplesmente em pânico o destino do vôo.

Sydney. Isso mesmo. Não possuo um número suficiente de palavras para descrever meus sentimentos nesse momento.

Estamos dentro do avião faz duas horas, e agora já consigo ver a forma da cidade no horizonte, como se fosse uma miragem. Os contornos da famosa Ópera House de Sydney (talvez o maior orgulho da cidade), ao longe, a imponente ponte da Baía de Sydney, e mais distante que isso, as luzes da Catedral de Santa Maria, iluminando ao seu redor, o que a torna um dos diversos locais de visitação e centro de inúmeros cartões postais. Mas é claro, não é dessa parte da cidade que me lembro.

Amy, - abençoada seja ela! - veio comigo, e talvez, bem talvez mesmo eu não esteja pirando ainda mais por sua causa. Ela me ajudou com os preparativos sobre o que deveria levar para a viagem, além de tentar me distrair de diferentes maneiras: pede para mim ouvir música, ler algo que goste (porque segundo ela, têm a mais absoluta certeza de que eu trouxe algum livro - talvez até mais de um em suas palavras), pensar no quanto o filme é importante para a minha carreira, e ela até mesmo tentou me motivar com seus cálculos.

- Você sabe que a probabilidade de se encontrar com algum dos seus parentes é muito pouca né? E a chance de eles se quer descobrirem que você está no país é menor ainda, a menos que o Cody conte, porque ele é o único que sabe, é quase nulo que alguém vai realmente bater a sua porta te procurando.

Ah. Adoro essas contas malucas que Amy faz em sua cabeça. Elas sempre fazem mais sentido do que demonstram. E sempre acontecem, eu querendo ou não. Costumo pensar que vou parar de acreditar no mundo, o dia que acontecer ao contrário das previsões dela.

Eu não lhe digo nada, pois não há uma boa resposta para tudo isso.
Ficamos em silêncio por um bom tempo, ela assistindo um filme, e eu observando a paisagem pela janela.
Pelo horário, deve ser umas 17:00 horas na cidade agora, e o avião está em silêncio absoluto, pois quase todos dormem, incluindo Jax.
Nós não nos vimos tanto ultimamente, e depois de sua declaração sobre saber a minha cidade natal isso reduziu ainda mais. Apesar de tudo ele não fez perguntas. Sei que ele percebeu meu nervosismo com a viagem a muito tempo atrás, e mesmo assim foi gentil comigo de uma forma que me surpreendeu. O que quase me faz achar que talvez lhe deva alguma explicação sobre a minha vida, mas não somos próximos o suficiente para eu fazê-lo.

O piloto nos informa que em breve iremos pousar, então eu simplesmente finjo para Amy que estou dormindo. Ah, eu sei o quão infantil isso possa soar, e que mais do que tudo, de nada irá adiantar, mas na situação atual sou incapaz de agir corretamente.

- Miriam, vamos lá.

Após ficar sem resposta por um minuto inteiro, ela começa a se movimentar.

- Ah, sério? Eu sei que você está acordada, não sou burra, levante-se, enfrente, e faça isso antes que todos percebam o que está acontecendo.

Abro os olhos, suspirando e cedendo. Eu já sabia que ela iria perceber de qualquer jeito.

- Tudo bem Amy, eu vou conseguir.

- Sei que vai, e como já disse, se você se concentrar apenas no filme agora, tudo será mais fácil.

No fim, ela acaba por me convencer, e afinal, não dá mais para escapar disso, não é mesmo?

Quando o avião pousa e nós finalmente podemos sair Jax se aproxima pelo corredor e sorri para mim, inclinando a cabeça e estendendo a mão:

- O que você é?

Azul da cor da famaOnde histórias criam vida. Descubra agora