Mundo Imaginário

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"Maria, não corra assim!"
Era so o que eu ouvia mamãe dizer, mas eu não me importava. Eu queria ser livre, abraçar o vento e voar. Enquanto corria sentia a brisa em meu rosto, tocando minha alma e me deixando levar para aquele mundo imaginário, porém tão real que criei. Ah! Aquele mundo era tão sólido que quase podia toca-lo .
Ouvia a voz da mamãe tão longe que podia jurar que ela estava a quilômetros, mas ao mesmo tempo sentia o olhar de reprovação pelas minhas costas. Eu estava completamente mergulhada naquele meu casulo, minha bolha pessoal cheia de toda a liberdade que sempre sonhei e então uma mão áspera e forte me tirou do meu mundo abruptamente. Meu pequeno corpo tremeu e eu vi os olhos dele, podia sentir todo o ódio que morava naqueles olhos e me senti pequena, muito menor que 1 metro e uns centímetros me senti minúscula, frágil e impotente. Não suportava o peso daquele olhar, procurei por mamãe mas ela só me olhava, alheia a situação, na verdade acho que ela não via um problema ali,tudo bem, meu braço pequeno e magro ficaria roxo de novo, mas nada que uma blusa comprida não resolvesse. Senti vontade de chorar mas me conti,nao achei certo chorar naquele momento, não queria que ele visse o quanto conseguia me machucar.
Enquanto voltávamos para casa, aquele silêncio me esmagava. De repente, sinto uma presença familiar e olho pro lado, Daniel estava ali, andando ao meu lado quieto e em sintonia com meus passos,ele olhou pra mim e piscou e depois apontou para o meu padrasto e fez sinal em volta da cabeça fazendo careta, como quem diz "que cara maluco" e eu ri. Me arrependi logo em seguida, fiz sem pensar, eu juro. Otávio levantou a mão e eu me encolhi, minha boca ficou quente e logo em seguida senti o gosto de sangue em minha lingua e descendo pela minha garganta. Procurei por Daniel mas ele não estava mais ali. Apenas ouvi em meus pensamentos "me perdoe". E eu apenas assenti com a cabeça "tudo bem Dani, ele é maluco mesmo".
Finalmente chegamos em casa, corri para o banheiro olhar minha boca e tinha um corte bem grande em proporção ao tamanho da minha boca mas o sangue já havia secado. Enquanto jogava água no meu rosto me deixei chorar, ele não ia perceber disfarçaria minhas lágrimas tão quentes entre toda a água gelada que escorria pela minha face vermelha. Meus olhos ardiam e meu coração estava dilacerado,mas não podia fazer nada,  "mamãe me ama e vai me ajudar, eu só preciso saber esperar." era o que eu conseguia pensar, na verdade me esforçava muito pra conseguir acreditar que ela realmente se importava com alguma coisa que não fosse ele.
Me perdi em meus pensamentos até que tudo se diluiu numa rapidez incrível, enquanto batidas fortes na porta fizeram meu coração acelerar tão rápido quanto aquelas motos grandes que passavam na televisão.
-Vamos garota, abre a porra da porta!! Ta fazendo o que aí? Se masturbando??
"O que era isso? Não devia ser bom já que era ele que estava falando. "
Apenas sequei o rosto e abri a porta do banheiro passei rápido para o outro cômodo, procurei não olhar para Otávio e logo cheguei ao meu quarto, enterrei meu rosto no travesseiro e me deixei levar pelos meus pensamentos. Logo adormeci. OK. Amanha o dia será melhor.

A procura da pazOnde histórias criam vida. Descubra agora