Prólogo

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Nunca acreditei em amor verdadeiro. Nem mesmo em contos de fada. Na minha opinião, aquilo era apenas enganação. Parece que esqueceram de nos contar que os príncipes não são tão bonzinhos como aparentam. Afinal, se eles fossem tão perdidamente apaixonados, por que o "boy" da Cinderela não se lembrou do rosto dela? Foi preciso toda aquela história ridícula do sapatinho... Ora, por favor, que tipo de amor é esse que nos ensinaram?
Desde muito cedo que nos é empurrado de goela abaixo a ideia de uma amor perfeito, revestido de floreios , lirismos, suspiros demorados e borboletas no estômago.
As meninas vão crescendo e têm como referência primordial as princesas: Dotadas de sutilezas , sentimentos não ditos e uma imbecilidade romântica quase ridícula. Há garotas tão doces, bonitas e gentis por ai que realmente chegam a se assemelhar com uma, porém não é difícil achá-las chorando pelos cantos por um ''sapo''.
Acontece, que as mulheres crescem e a visão dos marmanjos, passada por meio da literatura, nunca é tão real. As cantigas barrocas de amor são tão fictícias quanto desfecho de novela das nove. No Romantismo , José de Alencar que me perdoe , mas nunca vi ninguém que fosse tão maravilhoso como Paulo! O Realismo, de fato, trisca o real, mas ainda não é capaz de definir a complexidade dos exemplares do sexo masculino que andam entre nós.
No Soneto da Fidelidade Vinicius diz:

Eu possa me dizer do amor (que tive):Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure.

E talvez ai esteja um modelo de poesia consciente. Que o " felizes para sempre" só seja infinito enquanto durar.
No fim, definitivamente, o erro não está nesse estereótipo masculino criado, não está na boa imagem dos príncipes, nem nas juras amorosas de Shakespeare. O erro está em nós, que insistimos em acreditar que o homem perfeito é o de conto de fadas.
Não sei vocês, mas eu prefiro acreditar que Romeu não existe e encarar um realidade em que o caráter, o respeito, a beleza mediana - com seus charmes particulares- e o amor construído através dos erros e acertos, vale mais que um cavalo branco.
Um exemplo disso é uma amiga minha, Coraline. Sua mãe era uma famosa jornalista, que teve " O casamento dos sonhos" com o âncora do jornal local. Mas convenhamos, estava claro que aquilo era apenas fachada. Conheço Cora desde meus cinco anos e posso jurar que, em todoas as vezes que fui em sua casa ou sai junto com ela, nunca vi sua mãe sorrindo. Tentei falar com ela sobre isso inúmeras vezes mas, infelizmente, ela sempre foi reclusa sobre esse assunto. Até ano passado quando, em uma "crise de raiva" seu pai espancou sua mãe. Coitada. Ficou em coma por dois meses e, quando acordou, a primeira coisa que fez foi correr para debaixo das asas de seu marido que jurava de joelhos estar arrependido.
Eu fico chocada como certas mulheres podem ser ingênuas a ponto de acreditar que alguém pode mudar. Independente de ser homem ou mulher, ninguém muda em tão pouco tempo. Uma mudança de personalidade não é a mesma coisa que uma mudança de estilo. Você pode renovar um guarda-roupa e pintar o cabelo de uma hora para outra mas, uma personalidade não é fácil de mudar, isso requere anos de tentativas, muitas vezes falhas.
Por esse motivo sempre tomei cuidado para me apaixonar. Como dizia minha mãe enquanto lia a história da bela adormecida:

- Filha, tome cuidado. Homens assim não existem. Ninguém nunca ama alguém verdadeiramente.

E aquilo era real. Nunca vi e sei que nunca irei ver alguém que tenha sentimentos verdadeiros por alguém.
E pelo visto, aqui no lugar onde moro, sou a única que pensa assim. Bom, vamos deixar isso de lado, irei explicar como tudo funciona aqui.
Após uma grande guerra, o mundo foi dividido em reinos. Existem oito reinos. São eles:

1. Luxúria: onde ficam pessoas que tem apego e valorização extrema aos prazeres carnais, à sensualidade e sexualidade; desrespeito aos costumes; lascívia.
É um dos piores lugares para se viver, pois ali, qualquer tipo de abuso sexual é considerado correto. O errado é se negar a dividir a cama com alguém. Erro que pode levar a morte.
Ali as pessoas são doentes, pois não tem dinheiro para comprar qualquer tipo de proteção. O número de crianças cresce cada vez mais e o de aborto também. Os únicos saudáveis são os da realeza que, além de comprarem proteção, não se deitam com qualquer um. É o reino mais rico e poderoso.

2. Gula: onde comem somente por prazer, em quantidade superior àquela necessária para o corpo humano.
São todos obesos e deformados. Cerca de 15 pessoas são mortas por semana por roubarem alimentos. Os únicos com físico atlético são os dois príncipes. Pelo menos isso é o que dizem. É o reino com mais fartura, ppis possui as terras mais férteis.

3. Avareza: todos tem apego ao dinheiro de forma exagerada, desejo de adquirir bens materiais e de acumular riquezas.
Apesar de serem gananciosos, não são o reino mais rico.

4. Ira: tem raiva contra alguém, vontade de vingança.
Mesmo não tendo inimigos, sempre estão declarando guerras. Mas, felizmente, nenhum reino leva a sério.

5. Soberba: São a manifestação de orgulho e arrogância.
Se acham melhores que tudo e todos. Recentemente esse reino esteve a beira da falência, pois numa tentativa desesperada de se mostrar melhor que os outros, torrou quase todo seu tesouro.

6. Vaidade: tem uma preocupação excessiva com o aspecto físico para conquistar a admiração dos outros.
São os mais belos, tem corpo escultural. O maior problema é sua rudeza.

7. Preguiça: São negligentes e não possuem vontade alguma para o trabalho ou atividades importantes.
O incrível é que ainda não caíram. São um reino poderoso.

8. Kralya: É o menor. Nesse reino, ficam os isolados, aqueles que não possuem emoção alguma. Que não acreditam em nada. O que não é verdade. A grande maioria das pessoas que moram ali ainda tem algum tipo de emoção.
E é nesse reino que vivo, claro que devem ter percebido que não faço parte dessa grande maioria.

Os sete reinos principais dependem desse reino menor para se manterem de pé. Uma vez por ano, eles fazem uma seleção. Apenas jovens de 18 a 25 anos participam. Os príncipes e Reis viajam por horas e horas até chegar aqui, onde escolhem cerca de 15 pessoas e as levam para o palácio. Lá, elas são designadas para diversos serviços.
Pelo menos era assim, até entrarem em guerra com um reino distante, o qual não revelaram o nome.
Por 10 anos, nenhum reino nos visitou. E eu acreditava que não iriam nos visitar mais. Até agora.

A Sete Passos do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora