Não nasci perfeita. Aliás, ninguém nasce. Sou baixa, gorda, com um olho maior que o outro e o nariz praticamente inexistente. Sem falar nas verrugas que carrego nas costa já curvadas pelo trabalho pesado. Com o corpo coberto de cicatrizes e marcas que não sei de onde vieram. Dizem que, quando cheguei ali, ainda bebê, já as possuía.
Fui criada em um templo, a poucos quilômetros da cidade de York, a capital do reino. Não seria capaz de reclamar de nada, não mesmo. Mas sinto que fui e ainda sou menosprezada pelos cidadãos, por não ser originalmente daquele local. Desde cedo trabalhei. O monge que me criou dizia "Nessa cidade, minha criança diferente, nada é de graça. Se você quiser algo, vai ter que lutar por isso.". E foi isso mesmo que fiz, lutei e corri atrás do que necessitava. Ele faleceu no meu aniversário de 37. Ora, por que ficam surpresos? Realmente ainda acham que essa história é como aqueles contos de fada? Pois estão achando errado, já lhes falei que aquilo não existe.
Me Reviro na cama, pensando em coisas realmente desnecessárias. Balanço a cabeça afastando esses pensamentos e Gemo baixo ao me levantar. Olho minha imagem, refletida em um espelho ao lado da cama que tomava praticamente toda parede e meu estômago revira. Posso não querer ser como aquelas princesas maravilhosas, mas realmente precisava ter nascido com uma aparência tão abominável.
Minha visão começa a ficar embaçada e pequenas manchas pretas vão tomando meus olhos. Então eu a vejo novamente. Uma mulher jovem, entre 17 e 20 anos, com cabelos negros e ondulados batendo na altura da coxa. Um rosto que até a pessoa mais exigente acharia belo, de olhos verdes e longos cílios, um nariz que parecia ser esculpido a mão e uma boca avermelhada e carnuda. Ela estava com um vestido Preto de detalhes vermelhos, com um espartilho que ressaltava seus peitos fartos e sua cintura fina. A saia era rodada. Nada muito espalhafatoso.
E como sempre ela falava. "Venha para mim"
Ela sumiu mais rápido do que apareceu. Levanto e levo a mão ao peito o apertando. Um sentimento estranho me invadia cada vez que aquilo acontecia.
Caminho até o pequeno banheiro que fica a diagonal da cama e faço minhas higienes. Coloco um vestido simples de um tom marrom e vou ao encontro de Mary, garota que ajudei a criar.
Saio do quarto e ando pelo corredor até chegar em um amplo salão. Subo as escadas e abro a porta de seu quarto. Mary era filha do comandante da cidade, então tinha uma vida de princesa, e apesar disso era humilde.
Abro as cortinas, preparo seu banho e lhe acordo. Após o banho lhe ajudo a se vestir e desço com ela para o café. Ponho a mesa e, enquanto ela come, vou para a cozinha e tomo um pequeno café.
Depois de comer, ela fala que quer ir a praça para ver um pronunciamento de seu pai. Ao que parece, os reinos voltaram para fazer a seleção.
Chamo um dos guardas e peço para lhe acompanhar.- Lhe encontrarei depois, menina, vou visitar Coraline, que está doente.
Ela sorri e pede que eu mande um olá para Coral. Saio da casa, que está mais para uma mansão e ando rápido, praticamente correndo pelas ruas lotadas de York. Percebo que não chegaria a tempo no pronunciamento e resolvo pegar um atalho, dobrandona primeira esquina.
O que eu não esperava era me chocar contra alguém.
Com dificuldade, sento sobre os pés e olho para frente, me deparando com duas grandes órbitas azuis.
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A Sete Passos do Amor
Lãng mạnO quanto uma decisão pode mudar sua vida? Plágio é crime!